terça-feira, 6 de maio de 2014

Experimentos de humanidade


Quem já não dormiu pedinte de não ver o dia seguinte
E no despertar teimoso da manhã de sol
Escondeu-se, furioso, embaixo do lençol?

Quem já não deixou passar um momento terno de vivenciar,
A paisagem mais linda que se possa imaginar
E o perfume mais gostoso de se aspirar?

Quem já não trocou o belo pelo pavoroso e o rude pelo carinhoso,
Ou não afastou o saber, abraçando a ignorância,
Preferindo o que é vulgar em lugar da elegância?

Mas tudo isso é discrepância, não normalidade,
Na vida o sublime superará a vulgaridade
E toda loucura será vencida pela sanidade.

Somos experimentos em nossa própria humanidade.

/Khoi-thaa, o san


/Khoi-thaa (o símbolo “/” significa um estalido tonal línguo-dental) olhou em volta e avistou uma pequena rocha com formato arrendondado, exatamente como havia desejado.
Movimentando-se como um felino, devagar e silenciosamente, dirigindo-se para apanhar a rocha, /Khoi-taa permitiu-se produzir um pequeno e silencioso estalido de felicidade, com a ponta da língua apertando a parte de trás de seus dentes da frente.
Pequeno e bastante esguio, /Khoi-thaa era um típico san, com seus olhos puxados, quase orientais, apesar de ser um povo do Kalahari africano. Vestia apenas uma pequena tanga de couro em volta da cintura, com uma funda também de couro pendurada em um dos lados. Enfeitando sua cabeça havia outra cabeça, essa escavada, de um pequeno antílope, com o couro ainda prendendo dois pequenos chifres que agora pareciam emergir da cabeça do próprio /Khoi-thaa.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Imperfeições


Por todo esse tempo o ser humano tem sido assim,
Um conjunto de imperfeições a refletir sobre si
Supondo certezas, criando imprecisões
Sobre uma identidade íntima, uma consciência,
Que, se não for mentira, pode ser condescendência.
Andando sempre sobre a navalha da sanidade
Temendo continuamente descobrir-se no visgo da loucura.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

O que é a justiça?


Os primeiros pensadores a se preocupar com a noção de justiça, como não podia deixar de ser, foram os gregos clássicos.

Aristóteles, embora admitindo que elaborar um conceito de justiça era quase impossível por tratar-se de um ideal moral muito impreciso, pontificou que o ato de justiça envolvia conceder tratamento igual aos iguais e desigual entre os desiguais.
O que isso significa? Significa que, enquanto é justo, por exemplo, tratar da mesma forma duas pessoas ricas, assim não seria se o tratamento isonômico atingisse um rico e um mendigo. Deste modo, uma sociedade justa deveria se pautar por regras morais e legais que observassem as peculiaridades dos indivíduos.
Disse decorre que, hipoteticamente, a subtração de coisa alheia praticado por uma pessoa rica deveria ser penalizada mais severamente do que a mesma subtração se praticada por um pobre. Isso porque a necessidade material que se presume no pobre, e que pode conduzi-lo ao ilícito por necessidade, inexiste no rico, que pratica o delito por prazer ou outros motivos menos desculpáveis.