sábado, 27 de outubro de 2018

Amanhã, a onda Haddad será um tsunami contra o fascismo



Nesse momento, Haddad materializa a única opção antifascista que o Brasil possui. As instituições, com STF com tudo, não demostram possuir, como não tiveram no passado, a força moral necessária para, em sendo eleito o fascismo, segurar essa barra. Se o autoritarismo vencer, serão engolidas. Felizmente para nós, há uma ampla probabilidade da única candidatura antifacista remanescente, amanhã, dia 28 de outubro de 2018, ser eleita para a presidência da República. Em que pese as aparências e o pensamento dominante na opinião publicada, hoje as chances de Haddad são maiores do que as do adversário.
Profecia? Wishful thinking? Sim, mas também uma conclusão racional a que se chega a partir dos elementos dados. A bússola fática orienta para esse norte em detrimento da candidatura adversária. Por que digo isso? Porque a “boca de jacaré” das pesquisas eleitorais começou a se abrir em favor de Haddad e, em princípio, não há mais tempo para o surgimento de uma nova “onda” pró-fascismo.
Além disso, a maré “stevebannoniana” das “fake news” minguou severamente no final do segundo turno, não sendo mais capaz de dar suporte fraudulento ao mito que ocultou a verdadeira natureza do perigo fascista. Em paralelo, firmou-se definitivamente em favor da candidatura do PT a opção eleitoral dos setores mais intelectualizados que, nessa condição, são formadores de opinião. Reitores de universidades, representações de diversas categorias (psicanalistas, bibliotecários, publicitários, professores, estudantes, escritores, editores, livreiros, sociólogos, filósofos, antropólogos e outras), entidades suprapartidárias e representativas de diversas religiões se posicionaram majoritariamente contra as ideias autoritárias e violentas do fascista e seus correligionários.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

A opção entre o “espírito de Davos” e o “espírito de Porto Alegre”



Estamos a poucos dias da data em que o povo se verá obrigado a escolher um novo presidente da República. Fosse uma eleição comum, a formação acadêmica de Haddad em três ciências humanas distintas, com graduação, mestrado e doutorado, além de sua experiência na gestão pública, como ministro da Educação de um dos maiores países do mundo e prefeito da maior cidade do Brasil, o colocaria em vantagem em relação a Bolsonaro, cuja formação se resume a um curso de paraquedismo, onze anos nas forças armadas das quais foi expulso por acusação de terrorismo (“Operação Beco Sem Saída”1), além de trinta anos como político profissional durante os quais obteve sucesso na aprovação de meras três leis, uma para cada década de trabalho. Além disso, Bolsonaro possui exatamente zero anos como administrador da coisa pública ou em qualquer atividade que exija negociação de interesses multitudinários.
Sob outro aspecto, basta assistir desarmado aos vídeos de ambos existentes na internet para perceber que, se por um lado, Haddad é dono de um estilo de fala culta, mansa, cordata e educada, se conduzindo sempre com urbanidade e com a leveza de espírito que os músicos, como ele, costumam ter, pelo outro Bolsonaro discursa de forma bronca, grosseira, com conteúdo impregnado de ódio e violência, sendo costumeiramente deselegante com as pessoas ao seu redor. Ambos os semblantes definem bem os espíritos que os habitam, o de Haddad é leve e sorridente, enquanto Bolsonaro é marcado por vincos faciais e tiques nervosos.

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

O vazio de pensamento como gênese do “bolsonarismo”


                                                publicado no portal de notícias GGN em 16/10/2018
O que verdadeiramente está em jogo, não somente nessa eleição brasileira, mas nas políticas internas dos países democráticos do mundo, é a extensão da parcela de poder atribuída aos políticos eleitos. Poucas vezes na História se pôde observar tão claramente a ação agressiva do andar de cima para a mitigação do já pouco poder político entregue ao andar de baixo. O que a expressão “neoliberalismo” efetivamente significa, no registro de seus efeitos políticos notáveis, é “o direito dos ricos de ficarem cada vez mais ricos e não se sentirem culpados pelo genocídio dos pobres”. Trump, nos Estados Unidos, representa esse ideal. Bolsonaro, no Brasil, de forma ainda mais violenta, idem.
Experimentamos um mundo no qual a política institucional serve cada vez menos aos seus reais objetivos, a razão de ser de seu surgimento na sociedade humana, os propósitos para os quais foi criada, que são: (a) a escolha do modo de promover a repartição pacífica dos recursos escassos; (b) o aumento da liberdade individual e (c) o estabelecimento de segurança e dignidade para a vida humana.
À exceção dos interesses coletivos de pouca expressão – regionais e sem repercussão econômica e social de monta – os agentes políticos se apresentam mais e mais enfraquecidos quanto à capacidade de produzir a grande política: aquela que caminha na direção das utopias.
O ultraliberalismo econômico e sua filha dileta, a globalização do capital, que os Trumps, Le Pens e Bolsonaros do mundo representam no registro servil da capitania do mato, retiraram o poder da mãos dos políticos profissionais locais, colocando-o na caneta extraterritorial do CEO’s que falam em nome dos grandes financistas internacionais. Esvaziados de poder efetivo, que atividades restaram aos políticos institucionais? Aos concursados, basicamente manter o cargo e exercer pressão corporativista pelo incremento dos privilégios aristocráticos (como o auxílio-moradia dos magistrados) e, aos eleitos, envidar esforços em prol da própria reeleição e da eleição de seus parentes, para isso atuando na condição de despachante dos interesses privados que os auxiliarão nessa empreitada ou os enriquecerão. Demandas sociais estão fora dessa equação e somente serão atendidas por efeito reflexo e possivelmente sequer desejados.

Até que ponto aceitar a violência?

                                          publicado no portal de notícias GGN em 10/10/2018
É possível admitir o uso da violência como mecanismo de melhoria do ambiente social? Caso positivo, quem poderia ser considerado o titular natural de sua utilização? O policial, o juiz, o chefe do executivo? Escolhido o titular, qual o grau de utilização seria admissível a ele conceder para o uso da violência? A partir de que medida a violência exagerada contra o outro retira de nós a condição de humanidade?
Os institutos que normatizam o comportamento social dos seres humanos não foram criados a partir de ideias geniais surgidas do nada em mentes privilegiadas ou como revelações divinas lançadas pelos deuses através de seus representantes terrenos. Nada disso. Sem exceção alguma, foram as próprias pressões e contradições sociais que os fizeram surgir com o objetivo de tornar menos árdua a tarefa individual de conviver com os outros. Afinal, segundo Sartre, o inferno são os outros, querendo com isso dizer, não que os outros tornem nossa vida um inferno, mas que é sempre terrível ter de submeter a própria liberdade ao sentido coletivo de moralidade. Embora, segundo o filósofo, sejamos condenados a ser livres, já que apenas nossa vontade impede que façamos toda e qualquer ação ou omissão dentro de nossas possibilidades físicas, o fato é que o peso das consequências sociais previsíveis tolhe a opção volitiva. Ainda assim, somos livres, pois a escolha pelo medo das consequências é exclusivamente nossa. Os institutos mitigam essa sensação de inferno que a convivência provoca.

Desarmando o espírito



                               publicado no WhatsApp em 05/10/2018, por Marcio Valley
Estamos nas vésperas do primeiro turno da eleição de 2018. Talvez o escrutínio presidencial mais acirrado da história nacional.
É hora de desarmarmos nossos corações. A decisão sobre em quem votar certamente já foi tomada de forma irreversível. Nessa hora, constitui um dever ético de cada um de nós o respeito ao direito democrático de opção pelo candidato que ao outro parece representar o próprio anseio.
O momento da tentativa de convencimento está ultrapassado. As escolhas estão cristalizadas no espírito de cada um de nós.
A hora da retórica e do convencimento acabou. Agora, cabe a cada um de nós entender que o outro não é um representante do mal, mas apenas alguém que interpreta o bem social de um modo distinto.
Nenhum de nós é a favor da corrupção, da miséria ou da criminalidade. Apenas compreendemos a solução sob olhares distintos.

O dia do não



                          publicado no WhatsApp em 29/09/2018, por Marcio Valley

Hoje, sábado, 29 de setembro de 2018, é um dia histórico para o Brasil.
Talvez pela primeira vez na história nacional, uma eleição é caracterizada pelo engajamento suprapartidário contra apenas uma das diversas candidaturas.
Centenas de milhares de cidadãos do mundo, em grande parte brasileiros, saíram às ruas para dizer “não!”, em várias dezenas de cidades no país e espalhadas pelo mundo.
Apesar da enorme adesão e das imagens de milhares de pessoas nas ruas do Brasil e do mundo, a repercussão pela imprensa majoritária nacional foi tímida, para dizer o mínimo.
Possivelmente, temem apresentar ao povo o poder que o povo tem. Em tempos de redes sociais, o comportamento é ridículo.
Porém, somente na aparência foi um não a um determinado candidato a presidência da república. Esse não é mais profundo, com maior densidade de significados.

Vale a pena acreditar


                                publicado no WhatsApp em 27/09/2018, por Marcio Valley


Vale a pena acreditar no ideal de justiça, mesmo quando impossível crer na lei produzida e interpretada para o deleite dos poderosos, pois é ele que torna coletivas, contra abusos de poder, as vontades individuais.
Vale a pena acreditar no espírito da humanidade, ainda que se discorde do caráter dos seres humanos que a comandam, uma vez que ele é o criador do altruísmo que agrega e do amor que constrói.
Vale a pena acreditar na inteligência, soterrada intencionalmente que esteja pela indigência intelectual generalizada, posto que, sem ela, a vida não seria contemplativa, senão mera sobrevivência.
Vale a pena acreditar na dignidade do próximo, inclusive para aqueles que o sistema decide arbitrariamente que são criminosos ou empurra em direção ao que tipifica como delito; do contrário, cada um seria digno apenas para si mesmo, perdendo sentido a existência social.