
Tempos
atrás, li uma reportagem segundo a qual o cantor Bon Jovi acusava o
chefão da Apple, Steve Jobs, já falecido, de matar a indústria da
música com a eliminação das mídias físicas e a possibilidade de
baixa de músicas diretamente do "aitunes" para "aipods"
e "aipédis". Segundo o cantor, “as crianças de hoje
perderam a experiência de colocar os fones de ouvido, aumentar o
volume ao máximo, segurar a capa do CD, fechar os olhos e se perder
em um álbum; e a beleza de pegar a mesada e tomar uma decisão
baseada na capa, sem saber como o álbum vai soar, e olhar para um
monte de imagens paradas e imaginar”.
Nem
de longe fui ou sou fã de Steve Jobs, nem o tenho na conta de um
ícone do desenvolvimento humano, como tentam vender sua imagem,
porém, creio que Bon Jovi exagerou um pouco. Pelo mesmo raciocínio,
se poderia dizer que foi a invenção do fonógrafo a verdadeira
assassina da música foi, pois acabou com a experiência divina de
ouvir uma sinfonia diretamente da orquestra regida pelo maestro, com
a possibilidade de, fechando os olhos, imaginar-se no cenário
emocionante de uma Cavalgada das Valquírias.
Aliás,
outras invenções sufocaram o romantismo do ser humano, como o
cinema e suas salas climatizadas, som de alta definição e, pasmem,
visão tridimensional. O cinema, esse vilão responsável pela
diminuição do apelo teatral. E, por falar em teatro, como devia ser
agradável selar um a cavalo e nele marchar até a sede da vila para
assistir a uma bela peça divinamente encenada, sensação que foi
extinta com essa novidade do automóvel que, além de tudo, é mais
poluente do que o cocô do cavalo.
E
como seria a aventura de uma viagem de uma semana do Rio até São
Paulo no lombo de uma mula? Isso acabou depois que criaram a
ponte-aérea e passamos a chegar lá em uma hora. Rapidez no lugar da
emoção.
Sem
contar a perda das grandes experiências vívidas (mórbidas?) das
guerras medievais, com cabeças sendo arrancadas à golpes de maça.
Jamais voltaremos a tê-las, pois agora existem as guerras digitais,
com mísseis teleguiados disparados a milhares de quilômetros. O
“piloto” vai ao quartel, bate o ponto, lança umas bombas do
outro lado do mundo e ainda volta para casa a tempo de jantar com a
família.
Pensando
bem, talvez o Bon Jovi não tenha saudades desses tempos, onde a
arte, na verdade, costumava ser um hobby de muitos e profissão de
raros, porque viver da arte, lucrar com ela, era considerado
desonroso, vivendo os artistas geralmente pela benção de ricos
patronos.
O
próprio Bon Jovi é uma novidade num cenário de músicos pop que
aprenderam a ganhar rios de dinheiro e não vêem com bons olhos a
possibilidade de diminuição dessa margem e, argh, a necessidade de
voltar a viver de apresentações reais, ao vivo, tocando e cantando
diretamente para o público que, antes, baixou suas músicas na
internet e gostou, tanto que está disposto a pagar o preço de um
ingresso nunca barato.
O
gênio Chaplin denunciava os males dos tempos modernos do seu tempo,
que agora são tempos antigos.
Na
verdade, cada tempo tem os seus encantos e correspondentes
desencantos. O pesadelo do presente sempre se converte em saudosismo
ao se tornar passado.
A fuga possível? Está no futuro.
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