A ascensão do bolsonarismo ao poder foi a coisa mais deletéria a acontecer com o país desde a ditadura militar. Num país que vinha, desde o governo Collor, aos poucos se afirmando perante o mundo e se colocando como modelo em termos de respeito às instituições democráticas, nas pautas igualitárias, na gestão dos recursos ambientais e na mitigação da desigualdade social, a eleição de um representante do pensamento protofascista bolsonariano foi um balde de água fria e uma frustração política gigantesca.
O representante máximo do bolsonarismo, ora presidente, é uma figura política grotesca que dificilmente encontra comparação no Brasil e no mundo. Seu pensamento é medieval, absolutista. Contra o Estado laico1, defende a prevalência da visão religiosa também no plano político. Essa visão teocrática, dogmática e indiscutível por natureza, é exatamente o que ocorria no passado e ainda ocorre atualmente, como são exemplo os países muçulmanos.
O pensamento bolsonariano é, antes de tudo, em sua essência, antidemocrático. A vida toda Bolsonaro pregou que, eleito presidente, daria um golpe no dia seguinte, fechando Congresso e Supremo, os dois outros poderes da república. Em outras palavras, tornaria-se um ditador. Por isso mesmo, nenhum eleitor do bolsonarismo pode afirmar-se democrata, pois se utiliza da democracia apenas para a ela pôr fim, destruindo as liberdades civis.
Embora tenha se tornado um certo lugar-comum, não há como falar da ameaça bolsonarista sem indicar o nazismo alemão como exemplo das possibilidades. Afial, trata-se do mais importante modelo histórico negativo do que pode decorrer da omissão ou pouco-caso de cidadãos e eleitores com políticos de orientação despótica que manejam o discurso moralista cristão para alavancar seus projetos de dominação. Hitler e o nazismo não teriam matado milhões de judeus, ciganos, homossexuais e outras minorias políticas se os alemães brancos e cristãos tivessem repudiado, desde o nascedouro, essa excrescência política. Em seu livro autobiográfico, escreveu Hitler2: