sexta-feira, 19 de maio de 2017

Efeitos da delação da JBS e a insistência no modelo "eles sabiam mas não tenho prova"


A delação da JBS evidenciou a gritante diferença no modo de aplicação do instituto da delação premiada entre a Lava Jato de Brasília e a da República de Curitiba. Em Brasília, houve a primazia da inteligência no curso da operação e do sigilo das diligências. O vazamento, quando ocorreu, foi após a consumação das principais diligências e não antes ou durante, como age Moro, mais interessado nas repercussões políticas de suas ações do que em produzir justiça. Segundo analistas políticos, o vazamento possivelmente foi realizado por algum partidário de Aécio infiltrado na PF ou na PGR, como modo desesperado de alertar os companheiros de tunga e, assim, permitir a ocultação de provas.
As novas delações, ao lado de provocar talvez o maior terremoto político da história nacional, desmoralizam o modus operandi da República de Curitiba. A PGR de Brasília mostra para o Brasil como se faz investigação com base em delação premiada. Os delatores não foram presos preventivamente. Suas famílias não foram perseguidas. Não se apreendeu tablet do neto de ninguém. Não houve necessidade de tortura psicológica. As delações foram realizadas em sigilo.

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Alternativa única: eleições diretas, já!


Aécio Neves. Jovem, playboy, bonito, milionário e senador da República. Altíssimas chances de ser eleito presidente da República em alguns anos. Um capital político impressionante. O que faz? Frustrado por perder a eleição, irrita-se como qualquer criança mimada e lidera o início do golpe contra a democracia a partir de bases absolutamente frágeis. Fortalece-se pelo apoio de instituições privadas e públicas hipócritas e desonestas. O voto dos eleitores é desprezado, jogado no lixo.
A democracia não foi criada à toa. Não gosta de ser desprezada e costuma, no seu tempo, revidar contra golpistas.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Bauman e o momento político brasileiro


Impressionante a capacidade analítica do saudoso Zygmunt Bauman no que concerne ao desvelamento dos mecanismos que põem o mundo em funcionamento. Seus livros trazem incontáveis lições sobre os processos de formação e desenvolvimento das interrelações sociais, principalmente os que determinam as macrorrelações, mas aqui e ali também produzindo a narrativa dos micropoderes que se digladiam no cotidiano, o campo da realidade mais próxima dos humanos.
No livro Em busca da política (1), há um capítulo especialmente interessante (2), que trata do desenvolvimento do conceito de ideologia ao longo do tempo. Há muito ensinamento, ali, cuja apreensão serve perfeitamente ao propósito de compreender o momento político vivenciado no Brasil atual.
A palavra “ideologia” embute em si mesma o significado de estudo ou ciência das ideias. De fato, nasce legitimamente com essa pretensão plenamente epistemológica, real, de organizar e fiscalizar as ideias surgidas com o timbre de “ciência”. Separar o joio do trigo, eis a pretensão científica inicial da ideologia. Com o passar do tempo, porém, o significante permaneceu o mesmo, mas o significado sucumbiu a um processo irreversível de deterioração. De serva da ciência, a palavra ideologia passou a significar justamente o oposto de saber científico: o senso comum ou, como traduzido por alguns filósofos e sociólogos, a “atitude natural” perante o mundo. Os ideólogos perceberam o potencial do novo saber para o direcionamento da vontade popular e, de fiscais das ideias, passaram à condição de seus autores. Conspurcaram, viciaram, a noção de ideologia, pondo-a a serviço dos interesses de dominação. Marx foi um dos primeiros pensadores a utilizar o termo já nessa acepção viciada, quando a utiliza como título em A ideologia alemã.

quarta-feira, 3 de maio de 2017

A insanidade do apelo a Bolsonaro ou à intervenção militar


Em dezembro de 2016, o site Brasil 247 reproduziu um artigo publicado no Estadão, de autoria do general Rômulo Bini Pereira. No artigo, assim declarou o militar:
Se o clamor popular alcançar relevância, as Forças Armadas poderão ser chamadas a intervir, inclusive em defesa do Estado e das instituições. Elas serão a última trincheira defensiva desta temível e indesejável 'ida para o brejo'. Não é apologia ou invencionice. Por isso, repito: alertar é preciso (1).
O artigo, portanto, era uma advertência do militar: cuidado que a Cuca vai te pegar. No texto, o general sustenta que um exemplo de desgraça política capaz de prejudicar o país e de exigir a atuação dos militares seria a invasão promovida na Câmara dos Deputados por um grupo de manifestantes. O exemplo é bisonho de tão superficial. O general percebe como desgraça uma situação absolutamente normal em qualquer ambiente democrático: a manifestação popular.