Como visto anteriormente1, os seres humanos são animais gregários, ou seja, vivem em bandos, assim como leões ou elefantes. Numa visão bastante simplificada, suficiente para as pretensões limitadas do estudo, a noção de bando animal conduzida a uma alta complexificação fornece a representação genérica de sociedade, embora, de fato, exista uma distinção axiológica bastante importante que decorre da condição exclusivamente humana de testemunha da existência.
O bando formado por animais irracionais tem como característica marcante a identidade entre os focos vitais de indivíduo e de grupo. Dito de modo mais simples: o foco vital quase exclusivo de cada um dos indivíduos do grupo é a própria sobrevivência, o que, contudo, resulta em benefício para a sobrevivência do bando e manutenção da espécie. Os humanos também possuem esse traço que é a base teórica do próprio sistema capitalista: o egoísmo conduzindo ao altruísmo. Entretanto, embora a necessidade de abrigo e de alimento seja, como nos animais, um dos pontos axiais da existência, nos humanos essas não são as mais relevantes das demandas individuais para o efeito de produzir realização individual. A partir de um certo momento no desenvolvimento da humanidade, sobrevivência e reprodução deixaram de representar a principal meta da coletividade. Embora certamente sejam elementos vitais para qualquer ser vivo e para a espécie, a conquista desses bens, por vitais que sejam, deixou de nos definir. Essas necessidades ancestrais, contudo, servem ao importante propósito de nos lembrar que nunca deixamos de ser animais. Todavia, poucos ainda se sentem realizados como pessoa humana pelo simples fato de conseguir um abrigo, o alimento de cada dia e ter filhos. Repito, são elementos importantes na vida das pessoas, mas não geram o tipo de feedback espiritual que dê pleno sentido à vida.