
Ouço
por vez pessoas maldizendo os festejos de datas como o Natal e Ano
Novo e pergunto-me por que essas pessoas não gostam dessas datas.
Realmente
não sei a resposta, mas preciso admitir que, tempos atrás, também
não gostava de Natal e Ano Novo. E qual era mesmo desculpa que
utilizava, então, para afirmar meu descontentamento? Ah, claro, era
um chavão:
“O
Natal e o Ano Novo são datas impostas pelos donos do capital
internacional como um meio de incrementar o comércio e com isso
obter ainda maiores lucros. É um engodo sentimental que somente pode
interessar aos lobos capitalistas”.
Era
mais ou menos isso. Por essa época, era um menino comunista roxo,
com boné de Che Guevera na cabeça e estrela do PT no peito da
camisa. Um romântico que aguardava a revolução popular armada que
nos conduziria ao nirvana social. Apesar, porém, das boas intenções,
deixei de lado uma importante lição do Che: há que endurecer sim,
mas sem perder a ternura jamais.
Hoje,
faltando pouco para chegar aos cinquenta (ou seja, ainda um meninão),
deixei de crer em soluções radicais, armadas ou não, para os
conflitos sociais. Acho que ainda posso me enquadrar como inclinado
politicamente à esquerda, mas uma esquerda que acredita na ternura e
não no endurecimento.
O
muro de Berlim desabou sobre mim e transformou-me.
Hoje,
acredito no espírito de Natal e na confraternização universal, e
tento abstrair dessas importantes datas todo o comércio que delas
advém, porque hoje acredito mais nas pessoas que me cercam, na
pureza de seus sentimentos, em suas alegrias, em suas tristezas e,
principalmente, em sua boa-vontade.
Para
mim, agora, o que mais interessa realmente nessa época do ano não é
o comércio envolvido, mas toda essa gama de sentimentos e emoções
que permeia a maioria das relações entre as pessoas. Se é piegas,
viva a pieguice.
E
tento pôr de lado esse viés mais vil, mais comercial, dessas
festividades. Mais ou menos como procuro fazer quando vou à praia,
num dia de muito sol, com meus amigos e minha família: o que
interessa ali, naquele momento, é curtir o sol, o mar, minha
família, meus amigos, a cerveja gelada, o bate-papo
descompromissado; isso é o que representa a vida real naquele
momento e não os vendedores ambulantes que zunem à nossa volta, às
vezes como mosquitos irritantes (mas lembre-se, se você não levou a
cerveja gelada, também eles são importantes).
As
datas de confraternização, Natal e Ano Novo, são importantes
porque envolvem pessoas que convivem, que se relacionam afetivamente.
E nós somos essas pessoas, portanto, todos nós somos os envolvidos.
Vivemos
toda a nossa vida ao lado de outras pessoas. Tudo que fazemos,
fazemos com outras pessoas. Ainda assim temos receio de demonstrações
públicas de emoção e de afeto. Porém, somos humanos e o ser
humano é um poço infinito de emoções. E por isso vamos, durante o
ano todo, represando emoções, acumulando sensações, administrando
frustrações. Não podemos, entretanto, guardá-las para sempre.
Precisamos de um momento em que possamos desaguar todo esse manancial
de emoções contidas. De um momento em que possamos nos fragilizar
perante todos. Precisamos desesperadamente abraçar a pessoa querida,
chorar em seu ombro. De felicidade. Para que essa pessoa querida
tenha a exata dimensão de sua importância em nossa vida.
Afinal
de contas, a felicidade não é uma construção solitária mas...
solidária. E, por vezes, essa felicidade é tanta, e é tanta a
emoção reprimida, que, à falta da pessoa querida, puxamos o
estranho que está ao nosso lado e lhe damos um abraço. Porque nesse
momento sentimos necessidade de abraçar toda a humanidade que pelo
estranho vai representada.
Então,
para mim, essa é a importância do Natal e do Ano Novo. É o momento
em que posso dizer, sem nenhum constrangimento, o quanto alguém é
importante para mim; em que posso abraçar apertado essas pessoas,
seja homem, seja mulher, porque as amo e porque minha vida seria
vazia e sem sentido se não fossem essas outras vidas que me cercam.
Feliz
Natal. Feliz Ano Novo.
Publicado
originalmente em 19/12/2006 e revisado em 30/11/2010
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