Gosto
dos olhares masculinos lançados sobre mim, sobre o meu corpo. Aquele
olhar faminto, sedento, desejoso, que fazem suas pupilas seguirem à
velocidade do meu próprio passo, que, de propósito, faço
ligeiramente rebolante, mas sem descambar para o vulgar.
Afinal,
que mulher sinceramente pode afirmar não possuir uma íntima
satisfação em ser desejada?
O
prazer proporcionado por um vestido colante, que deixa à imaginação
alheia o contorno do que vai por baixo, não está no que vejo no
espelho, mas revela-se a mim no olhar do outro. Ou da outra. O olhar do outro é o verdadeiro espelho de Narciso.
Estremeço
um pouco e o coração palpita levemente ao perceber a realização
do que planejei quando longamente preparei-me para ser vista pelo
mundo. Um longo e relaxante banho morno para purificar e acalmar.
O
minucioso trabalho de delineamento da delicada maquiagem, que,
realçando os contornos da face, traz à tona a magia e o mistério
que toda mulher possui dentro de si, escondidos.
O
cuidado com os cabelos, os cremes e a escovação que renovam o seu
brilho e a sua forma, passando a enigmaticamente emoldurar o rosto
então já envolto de segredos escondidos.
E
as horas despendidas na escolha de cada peça a ser vestida, pois
somente a feliz escolha de cada uma delas fará com que se harmonizem
entre si e, juntas, atinjam o objetivo sonhado.
A
sedução.
A
fina lingerie sugerindo que a noite pode surpreender com algo mais. A
meia-calça invisível que aperfeiçoa o que por si já é bem
torneado. O leve vestido insinuante que, jogado sobre os braços
levantados, suavemente desliza no corpo sob o efeito da gravidade,
tornando-se uma segunda pele protetora, mas também, e antes de tudo,
promissora.
Um
lindo sapatinho, como de cristal, que faz desabrochar essa linda
Cinderela que, no fundo, nós mulheres sonhamos ser. As joias e
bijuterias brilhantes, que são o toque final desse ritual de
lapidação que, num passe de mágica, faz-me abandonar a mulher
comum que sou e torna-me uma fêmea, linda e sedutora.
Saio
para a noite não como uma fera pronta para atacar e agarrar a presa,
mas preparada para ser olhada e admirada.
Não
almejo ser caçadora. Prefiro ser alvo. Dos olhares.
Desejada
ou invejada, tanto faz.
E
se, sendo alvo, for capturada, também capturei. Então aproveito,
pois o prêmio é duplo.
Sou
assim, sou mulher.
Sonho
dormindo e sonho acordada, mas também construo o meu real.
O
sorriso me é tão fácil na face, quanto as lágrimas que por ela
escorrem. Sou de Marte e sou de Vênus, mas, no fundo, tenho os pés
no chão da Terra.
A
instabilidade emocional de que me acusam é apenas um meio de ser
forte o suficiente para suportar as mais duras provas.
Adoro
ser amada, porém, mais do que isso, anseio amar alguém.
Somente
as almas desprovidas de suficiente sensibilidade não percebem que a
futilidade associada a minha imagem é a maneira encontrada de
preservar a sanidade. Não é futilidade, é necessidade incógnita.
Tenho
que confessar meu péssimos momentos. TPM, frustração, parceiro
incompreensivo, dieta pra perder peso, sei lá mais o que, tudo isso
às vezes me deixa louca e tenho vontade de jogar um abajur na cabeça
de alguém. Mas são momentos episódicos. No geral sou divertida,
quero agradar, desejo sorrir.
Já
disse: quero ser desejada. Não somente para o sexo, mas também como
companhia, para uma bebida, para um papo descontraído.
Somente
sou completa se não estou só.
E
estar acompanhada não tem nada a ver com ter alguém. É ter
companhia. Alguém que fale e, principalmente, me ouça.
Porque,
para a mulher, ser ouvida é mais importante do que falar.
Sou
assim, sou mulher.
Gosto
disso, mas às vezes sofro.
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