Curiosa
a reação das pessoas ao tema liberdades individuais.
Se
perguntado a qualquer um sobre o que acham da liberdade em tese,
ninguém será capaz de discordar de ser ela, a liberdade, um bem
sagrado do ser humano. Liberdade na propriedade privada, liberdade de
opinião, liberdade na expressão do pensamento, são espécies de
liberdade unanimemente consideradas como direito ínsito à própria
existência do homem.
Claro
que toda liberdade envolve restrições, sempre à vista da liberdade
do outro. A liberdade da pessoa encontra sua fronteira na de outra.
O
curioso, porém, é que cada vez mais, em nome de supostos ideais de
justiça e igualdade, principalmente sob a bandeira do politicamente
correto, mas também da segurança pública, as liberdades
individuais estão vendo os seus limites cada vez mais e mais
mitigados, seu território de atuação ficando cada vez mais
restrito, e isso com a concordância geral de todos os que defendem
as próprias liberdades.
Como
pandas nas florestas de bambu da China, as liberdades individuais
veem-se na contingência de perda de habitat e perigo de extinção.
Outro
ponto curioso é que, embora todos prestigiem a liberdade, tendem a
discordar de que ao outro seja permitido fazer algo que os enoje ou
que contrarie suas próprias convicções. Porém, a verdadeira
liberdade não é aquela que permite ao outro fazer aquilo com o qual
todos concordam, mas, pelo contrário, o de permitir que se faça
algo do qual se discorda.
Ser
favorável, por exemplo, à liberdade de associação é fácil, mas
aceitar a liberdade de associação de membros de uma seita satânica
será difícil para os religiosos mais ortodoxos, assim como aceitar
a criação de clubes de orgias sexuais poderá revelar-se mais
complicado para as pessoas mais pudicas e moralistas.
Abraçar
a liberdade de pensamento todos abraçam, mas poucos aceitam a
exposição de pensamentos nazistas ou racistas, por exemplo. Ainda
que tais pensamentos sejam, de fato, deploráveis e merecedoras de
repúdio intelectual, pensamento se combate com pensamento e não com
proibição.
Há
pouco, em São Paulo, determinada lei proibiu o fumo em qualquer
restaurante e mesmo em salões de festa, numa verdadeira invasão à
liberdade sagrada que deveria emanar da propriedade privada. Ora, a
lei poderia proibir o fumo em locais públicos, mas nunca vedar que
restaurantes aceitassem o fumo, desde que colocassem avisos em suas
portas. A partir daí, todos seriam livres para decidir entrar ou
não. Em salões de festas, então, a coisa beira o despotismo
estatal, pois se a festa é privada, seu organizador é que deve
decidir se os fumantes serão ou não convidados. Aliás, a festa, em
princípio, pode ser organizada especialmente para os fumantes de um
clube de charutos, por exemplo.
É
preciso entender que a organização da sociedade exige o sacrifício
de parte das liberdades individuais, mas somente daquelas cuja
limitação é necessária para a saúde do tecido social, nem mais,
nem menos.
Assim,
somente deve haver restrição da liberdade de praticar ou fazer
apologia de atos de violência física contra o outro.
Todo
o resto pertence à esfera da decisão individual e a ninguém, nem
ao Estado, deveria ser dado o poder de interferir.
É possivel uma sociedade viver sem regras?Vc acredita que regras sem imposição serão obedecidas?
ResponderExcluirTodos temos direito a manifestar nossos pensamentos,mas não temos o direito de em nome da liberdade de expressão ofender,denegrir quem quer que seja...
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirAnônimo, o texto em nenhum momento defende uma sociedade sem regras. Ofender e denegrir são crimes (injúria) e devem continuar a sê-lo. A liberdade de expressão, contudo, com base em opiniões racionais (ainda que não concordemos com elas), e desde que não dirigida apologeticamente para a violência, deve ser garantida de forma plena justamente porque as opiniões são diferentes. Então, quem vai garantir o que é certo é o que é errado? Hoje alguém bem intencionado decide que não se pode falar sobre a liberação da maconha, amanhã um mal intencionado vai tornar ilegal falar mal do governo. A liberdade de expressão nos protege da opressão. Pense nisso. Marcio.
ResponderExcluirPrezado Marcio,
ResponderExcluirParabéns pelos textos e pela pessoa que vc demonstra ser.
Com relação a verdadeira liberdade, e pra mim esta deveria emanar do próprio próximo e não ser tomado como regras e leis, porém devemos analisar que vivemos em mundo individualista, e caso não tenha regras e punições não teremos mudanças de atitudes na nossa sociedade. Desta forma sempre alguem será prejudicado, seja um não fumante, seja em acidente de trânsito ocasionada por alguem alcoolizado. Assim sendo, o fumante vai fumar se for permitido e o alcoolatra também vai dirigir, mesmo que ao lado tenha alguem que não suporte nicotina (eles fumavam até em hospitais. Irão dirigir sabendo que não tem punição, mesmo que isso coloque a vida de outros em riscos.
Abraços.
Alexandre Duarte, obrigado pelo elogio. Quando penso em conceder o máximo de liberdade individual às pessoas, entendo que somente devem ser estabelecidos limites onde o exercício da liberdade possa prejudicar terceiros. Por exemplo: o cigarro deve mesmo ser proibido em elevadores, por exemplo, dos prédios em geral; todavia, se um milionário resolve construir um prédio cujas vendas são destinadas exclusivamente a fumantes, com alertas sobre essa condição, neste prédio essa proibição não deve prevalecer senão por vontade dos próprios moradores, pois eles adquiriram o imóvel com o intuito de poder fumar à vontade e sem expor a saúde de inocentes desavisados. É mais ou menos assim que penso em relação a todo tipo de proibição, sendo certo que, em determinados casos, podem ser estabelecidas restrições à liberdade, como no caso do álcool, cujo consumo não é proibido, mas não pode ser concomitante à direção de veículos. Abraço.
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