Sou
motociclista e entre nós, amantes das duas rodas, é célebre o
pensamento segundo o qual, numa viagem de moto, o que interessa não
é o destino, mas o percurso.
Viajar
de moto é sentir o prazer em cada curva, no vento no rosto, na
paisagem em rápida mutação. Claro que chegar é importante, mas,
para nós, percorrer é muito mais.
Há
um paralelo entre essa forma motociclística de pensar e a filosofia.
Sim, porque para os filósofos as respostas não são tão
importantes quanto a maneira de obtê-las. Ainda que, ao final do
processo de busca do conhecimento, se conclua pela inexistência de
resposta à indagação, o mero processo de busca terá valido a pena e enriquecido o
ser humano, pois a inércia do conhecimento será rompida pelo
surgimento da pergunta e forçará o uso da razão e a aquisição de
elementos para a formação da convicção.
Tudo
isso pressupõe o não-conformismo do ser indagante ao conhecimento
estabelecido, às verdades convencionadas. E é justamente entre a
indagação e a conclusão que está pavimentada a estrada do
conhecimento, de cujo percurso brota o prazer diletante da mera
aquisição.
Segundo
Sócrates, a vida irrefletida não vale a pena ser vivida. Com isso,
queria ele dizer que, para ser digno de ser humano, a pessoa deve
aprender a refletir criticamente sobre as coisas à sua volta. Não
agindo assim, qual a diferença para um animal irracional?
E
se a pessoa, sem pensar, adere à verdade assumida pela maioria,
somente por um espírito de pertencimento, por integrar uma
comunidade, ao agir assim, em que exatamente ela se difere dos insetos sociais, como
formigas, abelhas e cupins?
Filósofos
divergem em praticamente tudo, porém, definitivamente nenhum deles
declararia impudentemente que a unanimidade pressupõe a verdade.
Aliás, o fato de pensadores de alto nível, como os filósofos,
divergirem com frequência assombrosa, nos faz refletir seriamente
sobre a viabilidade da existência de algo que se possa chamar de
verdade ou mesmo de realidade. Seria a realidade apenas um sonho,
como sugeriu o filme Matrix, depois das sombras de Platão?
Mas
a existência dessas múltiplas verdades, tantas quantos são os
filósofos, também nos induz a evitar o apego a dogmas e fanatismos.
Afinal, a partir de nosso próprio desenvolvimento intelectual, nossa
verdade atual poderá ser modificada amanhã. O melhor é aceitar que
nossos raciocínios são sempre precários e dependentes da evolução
da história. Aqui, humildade é a palavra chave.
Como
pontificava Sidarta Gautama, também conhecido como Buda, feliz
daquele que alcança superar o próprio ego. E a busca pelo sincero
conhecimento impõe a superação da vaidade intelectual. O grande
problema nisso é que, nas palavras de Jean-Jacques Rosseau, o ser
humano nasce livre, porém, por toda parte encontra-se acorrentado.
Acorrentado pelas pessoas que ama, pelas coisas que possui e pelas
palavras que pronunciou.
Se
por toda parte o ego escraviza e a vaidade acorrenta, o conhecimento
liberta.
Sê
livre, pois. Conheça!
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