Enquanto
nossa imprensa não vê problema algum nos procedimentos de nossos
juízes heróis e estrelas, como Joaquim Barbosa e Sérgio Moro, a
imprensa estrangeira lança sobre eles um outro olhar, como demonstra
o jornal The Sunday Times, cujo link forneço abaixo.
Outro
dia, foram os alemães e os espanhóis. Agora, são os juristas
ingleses a acusar a Lava Jato de ferir princípios constitucionais do
Brasil. Falam sobre coisas que estranhamos, coisas sofisticadas que
integram o cotidiano de países mais avançados civilizatoriamente.
Coisas como direitos humanos, defesa irrestrita dos direitos e
garantias individuais, devido processo legal, ampla defesa e vedação
incondicional de provas obtidas por meios ilícitos. Claro, eles não
entendem nada de Direito, não é mesmo?
Duvido
muito que os juristas italianos, modelos
confessos do deslumbrado jurisconsulto paranaense, defenderiam os
procedimentos da Lava-Jato, assim como, antes, os juristas alemães
discordaram veemente do modo distorcido como Joaquim Barbosa utilizou
a teoria do domínio do fato, ao ponto de o próprio criador da
teoria afirmar que aquele arremedo de doutrina de modo algum
representava a que ele pontificava. Uma vergonha para uma corte
suprema ser admoestada assim pelo próprio doutrinador mencionado na
decisão.
Quando
se passa a mirar somente no fim e, por conta disso, a suavizar
recriminações quanto aos meios para tal, estamos no limite do
retorno à barbárie.
Quem
quiser que acredite em confissões obtidas por tortura. Prisão sem
condenação e por tempo indefinido, como as de Guantánamo,
representam tortura e são ilícitas no mundo inteiro, ainda que
travestidas por roupagem jurídica.
Pessoas
civilizadas entendem a importância da amplitude do conceito de
cidadania e jamais cairão nesse canto kafkaniano de sereia jurídica.
Joaquim Barbosa e Moro são exemplo de juristas que criam as
jabuticabas do nosso direito.
Coisas
assim explicam bastante bem as razões pelas quais possuímos tão
poucos expoentes na ciência do Direito com repercussão para além
de nossas fronteiras. Tornar-se um grande pensador do Direito exige
ausência de covardia intelectual e desprendimento material, virtudes
que, pelo que parece, são raras no Brasil. Basta lembrar a atuação
de nosso glorioso STF durante o regime militar, quando os ministros,
com raríssimas e honrosas exceções, o plural é por educação, se
tornaram cordeirinhos obedientes.
Essa
pusilanimidade com a inversão de valores, pelo visto, persiste em
nossa tradição jurídica.
De
toda sorte, vale a pena refletir sobre o quanto estamos dispostos a
aquiescer com a perda de direitos, mesmo na hipótese de prisão do
pior dos traficantes, em nome de uma suposta moralização.
Moralizações desmedidas, e viciadas quanto aos atingidos, que são
escolhidos a dedo, sempre foram danosas para a sociedade.
Deve-se
lembrar que perda de direitos é sempre, sem exceção, um
bumerangue. É lançado contra os inimigos públicos e, depois,
quando os alvos rareiam, a monotonia os faz voltar contra toda a
população.
A
Lava-Jato possui apenas a aparência do bom direito, nada mais. Já
causou muitas vezes mais danos ao Brasil do que a corrupção que
visava combater. E, pelo andar da carruagem, continuará a fazê-lo,
por que a intenção não é, de fato, combater a corrupção. Fosse
assim estariam sendo alcançadas pessoas públicas de todas as cores,
que já foram mencionadas e apontadas diversas vezes. Mas não é
assim que ocorre. A seletividade é um componente imoral que definiu
a Lava-Jato. Somente um determinado grupo de pessoas é atingida. A
análise desse comportamento, também ilegal, evidencia que o
interesse subjacente é desmanchar a economia brasileira em benefício
de corporações internacionais.
A
Lava-Jato é a versão jurídica do projeto político do PSDB,
projeto esse que, evidentemente, é idêntico ao das empresas que
representam a grande mídia, pois elas integram as corporações
interessadas. Isso é bastante evidente para quem coloca mais do que
um olho raso sobre as manchetes escandalosas.
O
roteiro de sempre está sendo encenado à vista de todos. Isso já
foi realizado diversas vezes contra vários países subdesenvolvidos
do mundo. O clímax ocorre quando o país-alvo adota medidas corretas
para fugir do subdesenvolvimento. A partir daí, o contra-ataque é
rápido e feroz. Não se medem consequências. Dependendo das
circunstâncias, admite-se até a guerra.
No
caso do Brasil, não se chegou, e talvez nunca se chegue, ao extremo
da guerra. A reação por aqui é institucional. Já foi militar,
hoje e judicial.
O
ponto de inflexão no desenvolvimento de nossa economia, ocorreu com
o Mensalão e prosseguiu com a Lava-Jato, ambos processos travestidos
com a capa da legalidade, mas que operam em sintonia com os
interesses dos patrões do mundo.
O
final desse filme será o mesmo reservado aos países da periferia:
economia nacional quebrada e dependente das metrópoles, desemprego,
aumento da miséria e transferência ainda maior da riqueza para os
milionários, esses que já abdicaram das próprias nacionalidades há
muito tempo.
Atualmente,
não há porque ter orgulho de grandes empresas brasileiras, sejam
bancos, empreiteiras ou cervejarias. Elas não se preocupam de fato
com o país, mas somente com sua lucratividade. Não possuem
conflitos de consciências em retirar seu capital do país ao
primeiro sinal de dificuldade.
Não
podemos reclamar. Estamos escolhendo livremente o nosso destino.
Enganados? Pode ser, mas porque queremos ser enganados. Pode-se
perdoar a idiotia, pois se trata de um problema mental, mas não a
burrice que se vangloria de ser burra e se faz de desentendida para
não ser esclarecida.
Os
dados estão aí, não enxerga somente quem não quer enxergar.
O
duro, o duro mesmo, é estar retornando à escuridão do nosso
conhecido fundo do poço, que é onde sempre estivemos, quando se
estava tão próximo da boca do poço, tanto que era possível
enxergar o sol brilhando no céu e o vento do desenvolvimento
afagando nossas faces.
Ficará,
mais uma vez, para a próxima geração?
http://jornalggn.com.br/noticia/lava-jato-possui-apenas-a-aparencia-do-bom-direito-por-marcio-valley
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