terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Lava Jato poderia ser uma ótima operação, mas não é




A Lava Jato poderia ser uma ótima operação, mas não é.
Não tenho dúvida alguma de que crimes ocorreram e ainda ocorrem na política brasileira, antes e após o ingresso do PT no governo federal. Tampouco tenho dúvida alguma de que, infelizmente, continuarão a existir após a saída do PT.
É evidente que esses criminosos, sempre que possível, devem ir para a cadeia. Qualquer pessoa minimamente honesta assim deseja.
Não é por apologia à corrupção que defendo o governo e critico a Lava-Jato, mas por verificar que essa operações se degenerou, transformando-se num mecanismo antidemocrático de oposição ao governo. Praticamente todos os ilícitos praticados por pessoas públicas da oposição estão sendo acobertados. De que forma isso pode ser classificado como combate honesto à corrupção?

Penso tratar-se de um projeto pensado e planejado pelos cabeças da Lava-Jato.
O primeiro ponto que precisa ser compreendido é que não existem vestais somente pela integração a uma determinada categoria funcional. Antes de serem policiais, promotores e juízes, as pessoas são apenas pessoas, com todas as idiossincrasias que dessa natureza decorre, como, por exemplo, um sentido de proteção de tudo ou todos por quem se nutre simpatia, perseguição das antipatias e temor de retaliações.
Quem trabalha ou trabalhou no setor policial e no judiciário, sabe que operações de certo porte demandam reuniões para o planejamento prévio quanto aos seus objetivos e suas possíveis repercussões. Os alvos são selecionados com cuidado. Se gravadas as reuniões nas quais se planeja uma intervenção-invasão a alguma favela, não seria difícil escutar altas autoridades policiais respondendo com um "foda-se" a alguém que indagasse sobre os transeuntes eventuais e inocentes. Claro, o que interessa é o alvo, danos colaterais que não atinjam pessoas queridas são plenamente suportáveis.
Pessoas públicas, que exercem cargos públicos, são apenas homens e mulheres, e, como tal, capazes de cometer as maiores atrocidades e insensibilidades a título de interesses materiais rasos, como em geral os seres humanos são, mesmo os mais gentis (Hanna Arendt descobriu isso, perplexa).
Penso que ingenuidade é imaginar, como inacreditavelmente se imagina de ordinário, que empresários milionários e bilionários possuam qualquer identidade de interesse com o povo.
Não chego ao ponto de afirmar a existência de um canal direto entre a Lava-Jato e o PSDB, embora até seja possível. O projeto político, contudo, é idêntico. Não há necessidade de uma conspiração para que essa identidade se forme, basta uma similaridade memética de pensamentos e comportamentos adquiridos ao longo da vida para que se saiba exatamente o que fazer e como fazer.
Como todos os demais animais, somos propensos a repetir os padrões aprendidos. Obviamente, para quem é criado num ambiente de favela, esses padrões são distintos daqueles aprendidos por quem cresce numa cobertura da Park Avenue. Com o software correto instalado, nada mais precisa ser dito. Claro que tudo isso admite exceções, mas são somente isso: exceções.
A Lava Jato poderia ser uma grande operação, saudável. Infelizmente, não é. Está sendo daninha para o Brasil.
Nada justificava que, para pôr fim a uma guerra que já estava no fim, e não mataria mais do que algumas centenas de pessoas ainda resistentes, os americanos despejassem duas bombas atômicas no Japão, matando, imediatamente ou logo a seguir, quase duzentas e cinquenta mil pessoas, mas incrivelmente existem pessoas que conseguem racionalizar essa catástrofe.

Isso é o que chamo de remédio muito pior do que a doença e é assim que classifico a Lava Jato.

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