A
Lava Jato poderia ser uma ótima operação, mas não é.
Não
tenho dúvida alguma de que crimes ocorreram e ainda ocorrem na
política brasileira, antes e após o ingresso do PT no governo
federal. Tampouco tenho dúvida alguma de que, infelizmente,
continuarão a existir após a saída do PT.
É
evidente que esses criminosos, sempre que possível, devem ir para a
cadeia. Qualquer pessoa minimamente honesta assim deseja.
Não
é por apologia à corrupção que defendo o governo e critico a
Lava-Jato, mas por verificar que essa operações se degenerou,
transformando-se num mecanismo antidemocrático de oposição ao
governo. Praticamente todos os ilícitos praticados por pessoas
públicas da oposição estão sendo acobertados. De que forma isso
pode ser classificado como combate honesto à corrupção?
Penso
tratar-se de um projeto pensado e planejado pelos cabeças da
Lava-Jato.
O
primeiro ponto que precisa ser compreendido é que não existem
vestais somente pela integração a uma determinada categoria
funcional. Antes de serem policiais, promotores e juízes, as pessoas
são apenas pessoas, com todas as idiossincrasias que dessa natureza
decorre, como, por exemplo, um sentido de proteção de tudo ou todos
por quem se nutre simpatia, perseguição das antipatias e temor de
retaliações.
Quem
trabalha ou trabalhou no setor policial e no judiciário, sabe que
operações de certo porte demandam reuniões para o planejamento
prévio quanto aos seus objetivos e suas possíveis repercussões. Os
alvos são selecionados com cuidado. Se gravadas as reuniões nas
quais se planeja uma intervenção-invasão a alguma favela, não
seria difícil escutar altas autoridades policiais respondendo com um
"foda-se" a alguém que indagasse sobre os transeuntes
eventuais e inocentes. Claro, o que interessa é o alvo, danos
colaterais que não atinjam pessoas queridas são plenamente
suportáveis.
Pessoas
públicas, que exercem cargos públicos, são apenas homens e
mulheres, e, como tal, capazes de cometer as maiores atrocidades e
insensibilidades a título de interesses materiais rasos, como em
geral os seres humanos são, mesmo os mais gentis (Hanna Arendt
descobriu isso, perplexa).
Penso
que ingenuidade é imaginar, como inacreditavelmente se imagina de
ordinário, que empresários milionários e bilionários possuam
qualquer identidade de interesse com o povo.
Não
chego ao ponto de afirmar a existência de um canal direto entre a
Lava-Jato e o PSDB, embora até seja possível. O projeto político,
contudo, é idêntico. Não há necessidade de uma conspiração para
que essa identidade se forme, basta uma similaridade memética de
pensamentos e comportamentos adquiridos ao longo da vida para que se
saiba exatamente o que fazer e como fazer.
Como
todos os demais animais, somos propensos a repetir os padrões
aprendidos. Obviamente, para quem é criado num ambiente de favela,
esses padrões são distintos daqueles aprendidos por quem cresce
numa cobertura da Park Avenue. Com o software correto instalado, nada
mais precisa ser dito. Claro que tudo isso admite exceções, mas são
somente isso: exceções.
A
Lava Jato poderia ser uma grande operação, saudável. Infelizmente,
não é. Está sendo daninha para o Brasil.
Nada
justificava que, para pôr fim a uma guerra que já estava no fim, e
não mataria mais do que algumas centenas de pessoas ainda
resistentes, os americanos despejassem duas bombas atômicas no
Japão, matando, imediatamente ou logo a seguir, quase duzentas e
cinquenta mil pessoas, mas incrivelmente existem pessoas que
conseguem racionalizar essa catástrofe.
Isso
é o que chamo de remédio muito pior do que a doença e é assim que
classifico a Lava Jato.
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