O que é essencial para o mundo e para o Brasil? Há uma certa unanimidade em torno da palavra mágica "crescimento econômico" como uma suposta panaceia para os problemas humanos. Poderiam até estar corretos, não fosse a perspectiva com que a palavra é entendida.
O
problema é que, quando se fala em crescimento econômico, pensa-se
no modelo do passado, do final do século XIX e início do século
XX, que tão bem soube retratar Chaplin em “Tempos Modernos”. O
mesmo modelo que atemorizou Marx, em seu formato não-sustentável,
fundado em maior quantidade de indústrias, incremento do comércio,
profusão da mineração, mais hidrelétricas e termoelétricas,
enfim o tipo de crescimento que implica necessariamente em sujeira,
poluição e destruição do meio-ambiente. Na verdade, trata-se do
paradigma “cachorro perseguindo o próprio rabo”, onde a economia
persegue e tantas vezes quer se antecipar ao crescimento demográfico.
Contudo,
o momento exige outra dinâmica social: o decrescimento populacional
e, via de consequência, econômico. O tempo é de formação de
políticas voltadas para o estímulo à diminuição gradativa da
população através de sério planejamento familiar.
A
criação de um novo modelo de desenvolvimento cultural, baseado na
estabilização da população mundial nos níveis da década de
1950, com cerca de dois bilhões e meio de pessoas, e com redução
equivalente da economia, apresenta-se como imprescindível no debate
político brasileiro e mundial. Agora, de preferência, pois depois
poderá ser tarde demais.
Equivocam-se
os que advogam a manutenção do crescimento econômico na forma
atual. O PIB, como régua do desenvolvimento humano, nasceu
anacrônico. A conversa de crescimento industrial e comercial como é
travada atualmente deve necessariamente ser extinta em breve tempo ou
os extintos seremos nós.
Os
recursos naturais escasseiam e estamos no limite do que é possível
para o crescimento populacional.
O
quanto a Terra pode suportar de crescimento populacional e
industrial? Não são poucos os cientistas sérios que defendem que
já ultrapassamos a capacidade do planeta de nos fornecer
sustentabilidade.
Se
for assim, é o caso de se perguntar, no que se refere ao Brasil: o
que é realmente essencial a ser feito, no que concerne às políticas
públicas, em favor do Brasil?
A
resposta certamente passará pelo planejamento familiar; pela
educação totalmente pública, de alto nível, com aprendizado de
línguas e com continuidade após a graduação normal; pela
disseminação da ética ambiental e de consumo; pela pulverização
da produção, privilegiando-se as pequenas e médias empresas e
onerando-se as grandes; pela criação de empregos, ainda que se
mantenha o mesmo número de empregadores, através da redução de
horas de trabalho, do número de dias de trabalho, da redução da
carga tributária através da incidência de alíquotas sobre o
faturamento e não sobre a folha, redução dos juros, etc.; pela
proibição total de qualquer novo desmatamento e redução das áreas
já autorizadas; pelo uso mais racional na exploração das áreas já
desmatadas; pelo investimento pesado em possibilidades de atividade
econômica não-agressivas do meio-ambiente, como turismo, lazer e
cultura; pelo investimento em fontes de energia alternativas, não
poluidoras, que possibilitem a eliminação ou forte redução da
atual matriz poluidora.
Esses
são alguns itens importantes, mas apenas exemplificativos, existem
outros.
Tratam-se,
contudo, de importantes discussões que estão esquecidas no debate
político, relegadas a segundo ou terceiro planos, não somente no
seio da população, como também pelos comentaristas políticos dos
meios de comunicação, que, no mais das vezes, rendem-se às
necessidades mercadológicas ou às imposições do empresário
proprietário do veículo em que comentam. Assim, perpetuam a
política pela política, a política exercida através dos chavões
repetitivos, do lugar-comum.
O
interesse das empresas, entendidas como "economia",
predomina sobre o interesse da sociedade. Por isso, não se se
adentra o mérito daquilo que é, ou pelo menos deveria ser, o
verdadeiro objeto da política: o bem estar das pessoas.
Imprescindível
pôr fim à pretensão de neutralidade da mídia, como também ao uso
distorcido da notícia como ferramenta de extorsão política, para
que se passe a exigir da política e dos políticos a realização de
seu papel de agente da transformação social.
Colunistas
e comentaristas da mídia podem e devem adotar um ideal, uma
bandeira, seja qual for, desde que seja honesta e socialmente útil,
utilizando sua expressividade na comunicação social para
defendê-la. Existindo honestidade intelectual e política, pouco
importa a sua coloração política, de direita ou de esquerda, para
aqueles que, como eu, entendem que essa dicotomia ainda é válida. O
que realmente importa é o propósito público, a vontade de melhorar
a vida das pessoas e o desinteresse pessoal. É importante destacar
isso: a direita política não é representada pelo Tea Party
americano ou pelo Bolsonaro ou pelo Lobão brasileiros. Isso é a
distorção da direita, assim como a União Soviética produziu a
distorção da esquerda. A direita política autêntica persegue a
construção de uma boa sociedade, exatamente como a esquerda.
Diferem na metodologia de busca da utopia.
Enfim,
o princípio ético produz a convergência da direita e da esquerda
para o mesmo fim, que é o respeito a res publica e a perseguição
do bem comum. Esse é o verdadeiro papel dos interlocutores políticos
e da mídia. Na verdade, esse é o verdadeiro papel de todo cidadão
decente. Esse é o caminho para pôr fim à sujeira que domina o
cenário político brasileiro.
O
ser humano necessita de algo mais do que uma televisão de plasma ou
LCD para a classe média ou roupas da Daslu para a classe rica.
Especificamente
em relação ao Brasil, este é o país dos pobres, dos sertanejos,
dos favelados, dos seringueiros, dos garimpeiros, dos boias-frias,
dos meninos carvoeiros, do trabalho escravo em fazendas escondidas,
dos imigrantes asiáticos e bolivianos ocultos e explorados nas
fabriquetas das grandes cidades, das mulheres exportadas para fins
sexuais, do turismo sexual em nosso Caribe nordestino, das
prostituição infantil em cada sinal de trânsito, mesmo ponto onde
também balançam os malabares dos meninos que esmolam um tostão de
cada carro.
Este
é o nosso Brasil, que arrota o sonho de uma massificação do ensino
público, enquanto a realidade demonstra que os estudantes das
escolas públicas concluem o 1º grau e, por vezes até mesmo o 2º
grau, semi-analfabetos.
Este
país, com ainda muitos miseráveis e muitos pobres, precisa que se
dê prosseguimento e se fortaleça a política mais essencial de
todas, a educacional, cuja excelência somente será alcançada a
partir da valorização do profissional de ensino, o que significa
salário compatível com a sua importância estratégica. O salário
do professor tem de ser valioso para ser atrativo às pessoas de
talento, que hoje escapam para outras atividades.
Há
que deixar de lado esse vício no “crescimento econômico” e
iniciar um pensamento de profundidade sobre o crescimento social e,
consequentemente, individual, como catalisadores de uma novo tipo de
sociedade, menos rica, mas mais segura porque mais justa e
igualitária.
O
mundo não precisa de mais indústrias ou mais comércio, mas de
planejamento familiar e de distribuição de renda. Há muita gordura
no mundo da riqueza, produto do processo metabólico do trabalho
humano que possui, como dejeto necessário, a miséria. A obesidade
da riqueza clama pela imposição de uma dieta (menos retorno do
capital), de uma lipoaspiração (imposto sobre grandes fortunas) e
de uma plástica (redução do direito de herança).
Os
países escandinavos nem de longe são as maiores economias do mundo,
mas são socialmente mais avançados do que as grandes. Nem suas
indústrias, nem suas populações crescem sem parar, mas os empregos
de seus cidadãos estão garantidos, o que demonstra que o
crescimento industrial e comercial não é indispensável.
Embora
a questão do crescimento populacional esteja bem equacionado no
Brasil, com taxa de natalidade comparável à da Europa, ainda há
crescimento. O ideal é a redução e, depois, estabilização.
Problemas virão, é claro, como o do envelhecimento da população
e, consequentemente, o da aposentadoria, mas são menores e mais
facilmente administráveis em relação aos que ocorrerão no futuro
se persistirmos na ilusão do crescimento sem fim e sem
consequências.
Enfim,
muitos e enormes são os problemas, poucas as soluções e não
passíveis de resolução no curto espaço de um mandato. E cada vez
mais as soluções regionais demonstram-se inadequadas. A
globalização da economia, aparentemente, criou a necessidade da
globalização das decisões.
Tomara
os dirigentes do mundo sejam abençoados com sabedoria. A História,
até o momento, não é animadora nesse sentido.
ResponderExcluirPublicado em 30/07/2014
De fato, quanto mais miserável, mais feliz é o brasileiro
=========
94% dos favelados
são felizes !
http://www.conversaafiada.com.br/economia/2014/07/30/94-dos-favelados-sao-felizes/
Em tudo e por tudo, é preciso repensar nossa concepção de consumo. Entender a relação entre necessário x supérfluo, e o arranjo ótimo entre estes dois aspectos. Não é negar o acesso, é torná-lo racional e universal, sem conceder mas criando as condições para aquisição e critérios racionais para manutenção dos recursos e ganhos . Diante da escassez e do domínio, por poucos, dos meios, esta equação, esta acomodação para sustentabilidade e equanimidade é quase uma impossibilidade matemática. No horizonte, não vejo ainda as condições e circunstâncias objetivas para as mudanças necessárias. Os que podem mover as engrenagens para promover mudanças efetivas só o farão na medida de seu desconforto e conveniência. Mas acredito que se não for no amor, será na dor: ou aceitamos que é preciso mudar e nos movemos inteligentemente para equilibrar a ocupação e uso dos recursos que ainda temos ou seremos empurrados para soluções drásticas resultantes de nossa incúria, teimosia, extremo egoísmo e "pegada predatória". A ver.
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