Não
se iluda. Você é limitado, assim como são todos os seres humanos.
Nenhuma
experiência sua será plena. Toda sensação será parcial. Nada lhe
chegará por inteiro, tudo sempre por pedaços.
Por
mais que viaje, conhecerá poucos lugares, porque o mundo é muito,
mas muito maior que você. Ninguém conhece a França porque conheceu
Paris, assim como não se conhece o Brasil pelo fato de que foi a
Brasília.
Por
mais pessoas que conheça, ainda serão poucas e jamais lhe será
possível conhecer todas, pois mesmo conhecendo uma por segundo,
séculos seriam necessários para ser apresentado a cada uma das
bilhões que agora existem. E mesmo que vivesse para isso, de nada
adiantaria pois a maioria já estaria morta então.
Por
mais rico que seja, não terá todo o dinheiro do mundo. E se fosse
possível, de nada valeria, pois o dinheiro só possui valor
circulando entre as pessoas.
Ainda
que passe a vida lendo, não alcançará ler mais do alguns milhares
de títulos, já que o seu tempo de vida é muito inferior ao tempo
necessário para ler as bilhões de páginas de livros existentes.
Por
mais que goste de sexo e passe cada minuto a fazê-lo, jamais será
capaz de possuir todas as mulheres do mundo, se for homem, ou todos
os homens do mundo, se for mulher.
Por
ser limitado, você não conseguirá ver todos os filmes, assistir
todas as peças de teatro, ler todas as poesias, aspirar todos os
aromas, experimentar todos os sabores, escalar todas as montanhas,
singrar todos os mares, ouvir todas as músicas, passear em todos os
jardins, acariciar todos os animais, emocionar-se com todas as
coloridas borboletas.
Desiluda-se.
A totalidade lhe escapará.
Porém,
não se entristeça. A sua finitude e a sua incompletude é
justamente o que torna cada experiência um milagre.
Por
ser finito, cada flor encontrada no caminho é mágica, pois dentre
bilhões de flores, foi ela que cruzou a sua vida. E é assim com
cada sensação, cada interação.
Cada
pessoa que você encontra em sua vida é como um sorteio ganho na
loteria, pois, antes de você nascer, a chance de encontrá-la era
extremamente pequena. Você poderia ter nascido em qualquer tempo e
não no tempo dela. Em qualquer lugar, não no lugar dela. Mas o
tempo e o lugar foram incrivelmente coincidentes. O milagre se torna
ainda maior quando uma dessas raridades acaba por se tornar sua
amiga. E se você vem considerar uma dessas pessoas amigas ainda mais
especial que as outras e com ela faz sexo, a isso não chamamos sexo,
mas fazer amor.
Muito
tem a ver com quantidade, com geral. Amor é especial, está
conectado à noção de raridade, de pouco.
A
limitação do ser humano, portanto, não é uma deficiência, mas
uma oportunidade. A oportunidade de poder aproveitar sabiamente essa
experiência única, insubstituível, que é a vida.
A
finitude da vida e das experiências é um privilégio. Um privilégio
que nos concede a oportunidade de entender que o importante não é
conhecer tudo ou experimentar tudo, mas atribuir imenso valor, o
valor devido e merecido, a cada uma das coisas, lugares, paisagens e
pessoas que, miraculosamente, surgem em nossas vidas.
Afinal,
o valor que projetamos nas coisas fora de nós é puro reflexo dos
valores contidos de nós.
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