Impressionou-me
um documentário produzido pelo Discovery Channel sobre nanismo, cujo
link disponibilizo após o texto.
Há
um senso comum que nos informa que a pessoa anã é, por definição,
pequena. Porém, o quanto pequena é necessário ser para que a
pessoa possa ser afirmada como anã?
Cientificamente,
considera-se anã a pessoa cuja altura é inferior em mais de vinte
porcento à estatura média. Atualmente, considera-se anão o homem
adulto menor que um metro e quarenta e cinco e a mulher adulta menor
que um metro e quarenta.
Existem
diversos tipos de nanismo, sendo os mais comuns os nanismos
pituitário e primordial, a acondroplasia e a hipocondroplasia.
Entretanto, não é exatamente por tratar sobre o nanismo enquanto
condição médica que o documentário causa impressão profunda, mas por apresentá-lo também em sua condição humana.
O
documentário testemunha as dificuldades enfrentadas pelos seres
humanos que nascem menores do que a média de seu grupo, embora sejam
tão grandiosas e capazes em sua condição de seres humanos como
todas as demais pessoas não classificadas como anãs.
As
pessoas que nascem com nanismo enfrentam, durante toda a vida,
problemas físicos graves, sérios, como curvaturas acentuadas na
coluna vertebral que, dependendo da gravidade, podem inclusive
conduzir à paralisia. Não bastassem tais dificuldades médicas, por
si dolorosas, ainda enfrentam preconceito e discriminação na
sociedade, o que provavelmente é um problema ainda mais sofrido do
que os gravames físicos.
Afinal,
como sói ocorrer com tantos outros humanos que são categorizados
nas herméticas caixas estéticas subjetivas do feio, os pequenos e
mágicos duendes não se encaixam nos padrões de beleza
estabelecidos. Os seres humanos, curiosamente, não se dão conta de
que a condição do feio, na forma como transmitida pela cultura de massa, não é exceção, mas regra, De fato, a imensa
maioria da humanidade encontra-se desviado do padrão de beleza
estética das celebridades, paradigmas da beleza humana. O feio,
para grande parte das pessoas, está sempre no outro, olvidando-se de que o outro é o mais real de nossos espelhos.
Se
para uma pessoa comum, de estatura aceita como "normal", é
difícil fugir à intimidação moral provocada pela estética das
celebridades, obrigando-as a repetição de exercícios fatigantes e
submissão a dietas e cirurgias plásticas, sob risco da própria
vida, para o enquadramento na forma humana adotada como o padrão do
belo, é difícil imaginar o que sente uma pessoa pequena ao ver a
própria imagem diante do espelho.
Desafortunadamente,
ainda parece distante e longínquo no tempo futuro o dia em que os
seres humanos admirarão mais a inteligência, a cultura, a
sabedoria, a arte e a graça de uma pessoa do que sua beleza ou sua
propriedade, mais o conteúdo do que a embalagem.
No
documentário, os anões reúnem-se em atividades restritas a eles
próprios, realizam suas próprias olimpíadas e namoram-se entre si.
É bastante emocionante testemunhar que, nesses encontros, a beleza é
percebida entre eles, como nunca deveria deixar de ser fora dali.
E,
como em tudo o mais na história das relações humanas, sempre
existem os que rompem com a barreira do preconceito, os que enxergam
no outro coisas que muitos não enxergam porque, na verdade, são
cegos para a verdadeira natureza do belo. O documentário mostra dois
belos exemplos, dois casais. Um homem normal, alto, casado com uma
pequena anã, e uma mulher de estatura normal casada com um anão.
Ambos inequivocamente felizes, com o amor evidente em suas faces.
Aprenderam até mesmo a lidar com os inquisitivos olhares dos
transeuntes que não entendem como uma pessoa alta pode amar uma
pessoa pequena.
Na
verdade, essas pessoas de olhares intrigados é que são pequenas.
Não em sua estatura, mas em sua capacidade de amar, de entregar-se,
de perceber no outro o inefável, o intangível, aquilo que somente
se pode ver com o sentimento.
Em
determinado momento, a mulher anã, casada com um homem de estatura
normal, afirma: "Ele é maravilhoso, não sei se o mereço".
Pouco depois, vê-se esse homem por ela considerado maravilhoso
acompanhá-la ao hospital, onde ela seria submetida a uma cirurgia na
coluna, pois o nanismo lhe provoca o risco de ficar paralisada. Ele a
acompanha até a sala de cirurgia, dá-lhe um terno beijo na boca e,
com os olhos lacrimejantes, diz que a ama e que tudo irá correr bem.
É impossível evitar o marejar dos olhos.
É
bom que o mundo possua pessoas assim, diferentes dos comuns, melhores
que os comuns. Capazes de amar incondicionalmente não somente uma
outra pessoa, mas uma outra pessoa fisicamente tão diferente de si
mesma. Nem todos possuem essa imensa capacidade de amar o outro de
forma tão livre.
Tive
o prazer de conhecer uma pessoa assim, livre de amarras, uma grande
amiga querida. Ela também namorou um anão, talvez o menor que
conheci na vida. E creio que teriam se casado não fosse ela ter
falecido jovem, num acidente de carro. Deus, se existe, certamente
leva para junto de si os jovens que já cumpriram a sua missão nessa
terra.
Assim
como essa saudosa amiga, muitas são as pessoas que enfrentam de
frente, sem medo, os escárnios e a incompreensão da sociedade e
agem como acham que devem agir. São pessoas que reconhecem a beleza
onde ela de fato reside. Na alma, no coração.
Como
super-heróis mutantes, essas pessoas possuem olhos que enxergam
muito além do alcance dos olhos comuns. Em geral, são pessoas
incompreendidas, repreendidas, criticadas. São as vítimas mais
contumazes da ignorância e do preconceito.
Todavia,
parafraseando aquela propaganda de chocolate, elas existem. Ainda
bem.
Link
para o documentário: https://www.youtube.com/watch?v=BCqFOwgZnBc
Lindo mim emocionei demais como é difícil ser diferente
ResponderExcluirLetícia Vanderlei, eu também me emocionei quando escrevi esse texto. Bjs.
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