domingo, 6 de janeiro de 2013

Direita e esquerda acabaram mesmo?


É cada vez mais frequente ouvir o mantra de que o socialismo está sepultado, que não há mais diferença entre direita e esquerda e que luta de classes cheira a naftalina. A repetição desse discurso, cultivado até o nível da exaustão pela indústria cultural, vem sempre apoiada em depoimentos de especialistas sérios e supostamente respeitados. Por conta disso, acaba se tornando um lugar-comum na boca de muitas pessoas do povo, inclusive os que possuem bom nível intelectual.
A prevalecer a tese de fim da dialética esquerda x direita, isso implica que, ao menos na opinião de seus defensores, desapareceu o fosso abissal que existia entre alguns milhares de pessoas que possuem cerca de oitenta porcento da riqueza mundial e os demais sete bilhões de pessoas que estão de posse do que resta, ou seja, dividindo vinte porcento da riqueza, bilhões delas em condições de miséria ou extrema pobreza, sem ter o que comer.

Significaria, também, que os detentores da riqueza já aprenderam a lição da necessidade de uma distribuição mais equânime de suas próprias fortunas.
Afora essas duas hipóteses, somente restaria presumir que esses especialistas e intelectuais chegaram à conclusão derrotista de que o capital venceu de tal forma avassaladora que não mais é possível qualquer reação, restando à massa popular apenas a conformação.
Ainda nessa linha, também se considera anacrônico o uso das palavras “capital”, em oposição a “trabalho”, e “capitalista”, representando o dono do dinheiro. Segundo esse entendimento, atualmente a riqueza não mais possuiria um dono identificável. É um tanto ingênuo pensar que o fato de se desconhecer o nome do bilionário implica modificação em sua natureza de capitalista, dono da riqueza e dos meios de produção. Atualmente, inclusive, utiliza-se a denominação de financista para alguns bilionários, espécie degenerada de capitalista, pois não possui os meios de produção, somente a riqueza, auferindo lucros fantasmas no cassino que é o mercado financeiro.
Caso os "especialistas" estejam equivocados, como parecem estar, então inexoravelmente deve-se aceitar que há ainda uma enorme tensão entre os poucos ricos e os muitos pobres e que essa tensão somente será resolvida quando emergir uma sociedade mais justa e equilibrada. A tensão e a construção de uma nova sociedade podem ser alcançadas pacificamente, mas de forma nenhuma se pode abandonar completamente a hipótese revolucionária. Essa tensão social entre ricos e pobres deve continuar a ser denominada de conflito entre o capital e o trabalho, pois não há outro nome disponível.
A política estatal que opta por incentivar o capital, com prejuízo imediato da renda dos trabalhadores, deve ser designada de "direita" para se diferenciar daquela outra que inverte essa lógica, elegendo como prioridade de governo o enfrentamento dos conflitos sociais, e que, sendo contrária, somente pode ser "esquerda".
Por fim, a sociedade ainda utópica, porém possível e viável, na qual a desigualdade social é mínima ou nenhuma, somente pode ser designada de "experiência socialista" porque privilegia o social, que corresponde ao exato oposto da "experiência capitalista", que elege o capital como seu campeão.
Pode-se não gostar desses nomes, caso em que outros podem ser escolhidos, embora com idêntica natureza, pois mudar nomes é incapaz de alterar a realidade.
O que não é possível, é mesmo inadmissível, é fingir hipocritamente que está tudo bem com a sociedade humana, que o rico está preocupado verdadeiramente com a situação do pobre e pretende repartir sua riqueza para solucionar esse problema, que o pobre possui tamanha simpatia pelos ricos a ponto de respeitar sua riqueza ainda que experimentando a fome.
A pressão social é cada vez maior. Um dia o caldo entorna.

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