É
cada vez mais frequente ouvir o mantra de que o socialismo está
sepultado, que não há mais diferença entre direita e esquerda e
que luta de classes cheira a naftalina. A repetição desse discurso,
cultivado até o nível da exaustão pela indústria cultural, vem
sempre apoiada em depoimentos de especialistas sérios e supostamente
respeitados. Por conta disso, acaba se tornando um lugar-comum na
boca de muitas pessoas do povo, inclusive os que possuem bom nível
intelectual.
A
prevalecer a tese de fim da dialética esquerda x direita, isso
implica que, ao menos na opinião de seus defensores, desapareceu o
fosso abissal que existia entre alguns milhares de pessoas que
possuem cerca de oitenta porcento da riqueza mundial e os demais sete
bilhões de pessoas que estão de posse do que resta, ou seja,
dividindo vinte porcento da riqueza, bilhões delas em condições de
miséria ou extrema pobreza, sem ter o que comer.
Significaria,
também, que os detentores da riqueza já aprenderam a lição da
necessidade de uma distribuição mais equânime de suas próprias
fortunas.
Afora
essas duas hipóteses, somente restaria presumir que esses
especialistas e intelectuais chegaram à conclusão derrotista de que
o capital venceu de tal forma avassaladora que não mais é possível
qualquer reação, restando à massa popular apenas a conformação.
Ainda
nessa linha, também se considera anacrônico o uso das palavras “capital”, em oposição a “trabalho”, e “capitalista”,
representando o dono do dinheiro. Segundo esse entendimento,
atualmente a riqueza não mais possuiria um dono identificável. É
um tanto ingênuo pensar que o fato de se desconhecer o nome do
bilionário implica modificação em sua natureza de capitalista, dono da riqueza e dos meios de produção.
Atualmente, inclusive, utiliza-se a denominação de financista para
alguns bilionários, espécie degenerada de capitalista, pois não possui os meios de produção, somente a riqueza, auferindo lucros fantasmas no cassino que é o
mercado financeiro.
Caso
os "especialistas" estejam equivocados, como parecem estar,
então inexoravelmente deve-se aceitar que há ainda uma enorme tensão
entre os poucos ricos e os muitos pobres e que essa tensão somente
será resolvida quando emergir uma sociedade mais justa e
equilibrada. A tensão e a construção de uma nova sociedade podem
ser alcançadas pacificamente, mas de forma nenhuma se pode abandonar
completamente a hipótese revolucionária. Essa
tensão social entre ricos e pobres deve continuar a ser denominada
de conflito entre o capital e o trabalho, pois não há outro nome disponível.
A
política estatal que opta por incentivar o capital, com prejuízo
imediato da renda dos trabalhadores, deve ser designada de "direita" para se diferenciar daquela outra que inverte essa lógica, elegendo como prioridade de
governo o enfrentamento dos conflitos sociais, e que, sendo contrária, somente pode ser "esquerda".
Por
fim, a sociedade ainda utópica, porém possível e viável, na qual a
desigualdade social é mínima ou nenhuma, somente pode ser designada
de "experiência socialista" porque privilegia o social, que corresponde ao exato oposto da "experiência capitalista", que elege o capital como seu campeão.
Pode-se
não gostar desses nomes, caso em que outros podem ser escolhidos,
embora com idêntica natureza, pois mudar nomes é incapaz de alterar a realidade.
O que não
é possível, é mesmo inadmissível, é fingir hipocritamente que está tudo bem com a sociedade
humana, que o rico está preocupado verdadeiramente com a situação do pobre e
pretende repartir sua riqueza para solucionar esse problema, que o
pobre possui tamanha simpatia pelos ricos a ponto de respeitar sua riqueza
ainda que experimentando a fome.
A
pressão social é cada vez maior. Um dia o caldo entorna.
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