sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Um sistema econômico natural


Silvio Gesell (1862-1930) foi um comerciante alemão, teórico de economia, ativista social e anarquista, que propôs uma forma alternativa, utópica, de viver socialmente, que ele denominou de "economia natural" e que era diferente do comunismo idealizado por Marx, seu contemporâneo.
Segundo ele, o planeta Terra pertence a todas as pessoas, que são cidadãs do mundo e não apenas de seus países. Defendia que não havia distinção entre as pessoas por motivo de raça, gênero, classe, riqueza, religião e idade. Advogava o fim das fronteiras nacionais.
Gesell entendia que a economia encontrava fundamento no egoísmo humano, no fato das pessoas priorizarem seus auto-interesses, o que ele percebia como natural e salutar, pois é essa espécie de sentimento que põe as pessoas em ação, nelas incutindo a vontade de produzir para satisfação de seus desejos e necessidades. Sendo assim, todo e qualquer sistema econômico, para ser bem sucedido, deve levar em conta essa característica humana. Esse é o motivo de ter denominado o sistema por ele proposto de "economia natural" ou "economia de moeda livre".

O sistema econômico imaginado por Gesell compreenderia um modo mais justo de livre concorrência empresarial, oferecendo oportunidades iguais para todas as pessoas. Para atingir esse objetivo, propunha a extinção de todos os direitos e privilégios legais de herança, instituto que provoca disparidades na condição material das pessoas pelo simples fato do nascimento. Uma igualdade de origem exige que todos possam dispor apenas de suas próprias habilidades pessoais para sobreviver. Pontificava ele que, numa "ordem econômica natural", as pessoas mais talentosas acabariam obtendo as maiores rendas, sem as distorções injustas provocadas pelo capital acumulado, gerador de juros e aluguéis mesmo na ausência de trabalho ou produção.
Na visão de Gesell, o efeito da ausência de juros e alugueis seria generalizado, estendendo-se mesmo para os menos talentosos, que não teriam a obrigação de arcar com tais encargos, o que conduziria, tanto a uma equalização entre as classes sociais, como à existência de maiores recursos disponíveis para auxílio aos eventuais pobres. Isso porque, com renda média ampliada, haveria excedente de dinheiro, naturalmente destinado à poupança, o que implicaria possibilidade de ajuda aos desfavorecidos.
No pensamento do teórico, a principal causa das dificuldades econômicas é a baixa velocidade de circulação da moeda. Isso porque, se a moeda, como meio de troca, desaparece gradualmente das mãos dos trabalhadores, filtrando-se para os lugares onde há interesse (juros), acaba por acumular-se nas mãos de poucos (ricos), cujo maior interesse é a especulação. Assim, a moeda deixa de ser direcionada para a atividade que mais promove sua circulação, que é a compra de bens e serviços.
Saindo do pensamento estrito de Gesell, porém seguindo a mesma linha de raciocínio, é possível imaginar a criação de uma moeda lastreada num bem básico de valor constante, como o ouro, com pré-fixação de data de vencimento para o seu uso como meio de troca no consumo e com diminuição progressiva do valor de face (valor de compra) desde a data de sua emissão, o que pode ser alcançado a partir da obrigatoriedade de, periodicamente, antes do vencimento, a moeda ser revalidada para circulação por algum órgão público, mediante o pagamento de uma taxa.
O possuidor de uma moeda com tais encargos teria um alto custo de manutenção, o que desestimularia a acumulação, favorecendo sua circulação no consumo ou investimento na produção. Tal moeda poderia nem mesmo ser governamental, sendo criada, por exemplo, para uso restrito ao interior de determinadas comunidades. Na verdade, existem experiências de utilização dessa "auto-moeda", com bastante sucesso, êxito que somente não foi maior em função das proibições dos bancos centrais dos países, os quais perceberam o seu potencial de causar dano ao sistema financeiro.
A ideia de Gesell pode aparentar fragilidade e simplificação, mas foi levada muito a sério por pensadores econômicos renomados.
John Maynard Keynes, o pai da Modern Money Theory, leu a obra de Gesell e a mencionou em sua Teoria Geral: "Gesell escreve de forma científica, embora movido por uma devoção mais apaixonada e carregada com a justiça social do que muitos pensariam apta para um estudioso. O futuro vai aprender mais com o espírito de Gesell do que com o de Marx". 1
Irving Fisher, professor doutor e economista na Universidade de Yale, em New Haven, EUA, escreveu sobre Gesell: "Dinheiro livre pode vir a ser o melhor regulador da velocidade de circulação do dinheiro, que é o elemento mais confuso na estabilização do nível de preços. Aplicada corretamente, poderia, de fato, conduzir-nos a sair da crise em poucas semanas. Eu sou um humilde servo do comerciante Gesell". 2
As pessoas tendem a pensar que vivem no único ou no melhor ambiente possível. Gesell demonstrou, no que concerne à realidade econômica, que isso não é verdade. O sistema econômico que prevalece, no qual as grandes fortunas acumulam praticamente todo o dinheiro existente, é daninho para a sociedade. Gesell demonstra que o mero aumento da velocidade de circulação do dinheiro, sem necessidade de qualquer outra medida de apoio, é por si capaz de realizar a sonhada distribuição da riqueza. Basta querer.
Texto criado a partir de dados extraídos de:
Site Wikipédia
2 - Site Google Books: Bernard A. Lietaer; Dunne, Jacqui. Rethinking Money: How New Currencies Turn Scarcity Into Prosperity, pág. 178

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