Há
quem defenda a ideia de que a proteção ao meio-ambiente não deve
constituir uma questão intocável, argumentando que o consumo humano
aumenta diuturnamente, de modo que o uso dos recursos naturais deve
ser considerado sob a perspectiva das necessidades humanas.
É
um pensamento capaz de conduzir a humanidade à ruína.
Todo
e qualquer tipo de consumo provoca, em última análise, efeitos
daninhos no meio-ambiente. Um incremento na produção agro-pecuária
implica o crescimento das fazendas e desmatamento. O aumento na
produção industrial, independentemente do ramo, corresponde a uma
necessária elevação da extração mineral, ou seja, devastação
ambiental no entorno das minas.
Portanto,
o crescimento econômico necessariamente produz aumento do passivo
ambiental.
E
quais as principais razões do crescimento econômico? O aumento
populacional ou, mesmo com estagnação populacional, o aumento da
renda média real da população. Essa última, porém, possui
impacto menor em relação ao aumento da população, pois, ainda que
a renda média progrida, se a quantidade de pessoas não for
expressiva, o impacto da produção humana no meio-ambiente não será
relevante. A equação é simples: menos gente, menor consumo. O pior
cenário possível é o de aumento populacional com aumento da renda
média real, caso em que o consumo irá aumentar duplamente para
atender um número maior de pessoas com maior capacidade aquisitiva.
Conclui-se, pois, que, o inimigo número um do meio-ambiente é o
aumento populacional, que corresponde a uma pressão equivalente ou
superior sobre o consumo.
Embora
a degradação do meio-ambiente seja um problema criado
exclusivamente pelo ser humano, é suportado por todos os demais
seres vivos, que respondem com a própria vida, individual ou de toda
a espécie, por algo cuja autoria não lhes pode ser atribuída.
A
ordem jurídica humana reconhece o dever ético-legal do responsável
pelo dano de repará-lo. A mesma responsabilidade ética é cabível
em relação aos estragos produzidos na natureza. O ser humano
causou, deve consertar.
Pouco
importa, para o cumprimento desse dever de reparação, se há
necessidade de imposição de algum sacrifício, como reduzir o
consumo ou ficar sem energia elétrica, por exemplo. A redução ou
mesmo paralisação do consumo é possível, exigindo apenas
sacrifícios, enquanto viver num planeta totalmente degradado e poluído, não.
Como comparar a redução do consumo à extinção de toda uma
espécie, talvez da própria espécie humana?
A
solução definitiva passa, não somente por uma reflexão profunda sobre a ausência de crescimento
econômico, mas também sobre o início de um processo
que conduza ao decrescimento econômico e populacional. Como
conseguir isso?
O
primeiro passo deve ser dado na direção da mudança de paradigma da
ideia de consumo, passando de um consumo de futilidades para um
consumo responsável, que atenda efetivas necessidades humanas e não
meras vaidades. Há que enfrentar a questão da publicidade, que cria
“necessidades” fúteis. Deve
ser estudada a duração dos produtos, vedando o uso da obsolescência
programada, ideia deletéria do setor industrial que projeta o
produto para durar certo tempo e obrigar à reposição. Também deve
ser duramente mitigada ou impedida a criação de atualizações de
fachada, que pouco ou nada muda o produto e serve apenas para
imprimir no consumidor o desejo de comprar o produto mais novo,
fraudulentamente vendido como inovação.
Cabe
também regular e direcionar o uso do capital, vedando a
possibilidade de investimentos em papeis de cassino, como os
derivativos, que não correspondam a efetiva produção.
O
segundo e decisivo passo é a redução gradativa da população
humana no planeta, através de programas de planejamento familiar.
Num exemplo drástico, se cada casal tiver apenas um filho, a
população será reduzida a menos da metade em apenas uma geração.
Tal extremo seria inalcançável, mas demonstra que não é
impossível um planejamento sério que busque o mesmo resultado em
algumas gerações. Evidentemente, exige-se planejamento global, além
de boa vontade dos países e suas populações. Pode-se imaginar, a partir da gradual redução de cada população, a
facilitação dos movimentos migratórios da população
remanescente pelos países como meio de homogeneizar a distribuição das pessoas pelo
mundo e atender as necessidades de cada país.
O
planeta Terra, vitimado pela ação da humanidade, já atingiu um
ponto de comprometimento ambiental que, ao contrário do imaginam as
pessoas que defendem a priorização das necessidades humanas, se
encontra sim em situação que exige seja considerada intocável a
questão da proteção do que restou do meio-ambiente. A avidez da
humanidade permitiu um avanço na exploração das riquezas
ambientais em porção muito maior do que a parte que nos cabia.
O
que resta, por direito, é das demais espécies, que possuem idêntico
direito à vida e à preservação de seu habitat.
Os
seres humanos são considerados os únicos seres racionais do
planeta. Como ser inteligente, deve utilizar sua razão para concluir
que multiplicou-se em demasia. Dois corpos não ocupam o mesmo lugar
no espaço. Para cada ser humano nascido, milhares de outros seres
vivos devem necessariamente morrer.
Somente
vírus se multiplicam sem controle algum. Seres inteligentes não
deveriam agir como uma infestação.
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