Dia desses escutei, involuntariamente, uma conversa entre duas pessoas, uma delas identificando-se como professor universitário, sobre a questão da realização
profissional sem a necessidade de cursar alguma carreira de nível
superior. Ambas concordaram que o modelo de pessoas como Lula, Steve
Jobs e Bill Gates, que alcançaram sucesso profissional embora sem
formação superior, era deletério para a sociedade, pois existem
provas suficientes de que a formação universitária tende a levar a
pessoa a alcançar maior nível de renda.
Longe
de mim questionar o valor de uma formação universitária ou duvidar
que essa formação permita o auferimento de maior renda na vida das
pessoas. É fato. Isso, porém, diz mais sobre a necessidade de formação universitária ou
sobre o tipo de sociedade que construímos?
Fico
imaginando o que seria do mundo se todos resolvessem seguir carreiras
que exigem nível superior. Seria um tal de advogado sendo gari, de
engenheiro fazendo faxina em escritórios, de médico projetando
filmes em cinema, etc.
Atualmente,
ao contrário do que já foi um dia, o ensino superior é
eminentemente profissional, servindo como preparação para carreiras
que exigem um conhecimento mais aprofundado sobre determinada
profissão. O investimento na formação humanista, na aquisição de
conhecimento geral, na erudição, na criação de um espírito
crítico, durante o curso da faculdade, é praticamente inexistente.
Nesse
sentido, a educação superior em nada difere de um curso
técnico profissional, como qualquer outro. Por esse ângulo, é
fácil perceber que o mundo precisa de técnicos, tanto os de nível
superior, como os de nível médio.
O
problema da desvalorização da carreira dos profissionais de nível
médio, quando em comparação com os de nível superior, está
vinculado, em menor proporção, à menor complexidade e duração dos cursos e, em grande parte, à prevalência de um certo sentimento
elitista, pedante e soberbo que a sociedade brasileira apresenta em relação a
profissões que não exigem diploma de nível superior. Olha-se para
motoristas de ônibus, carteiros, açougueiros, padeiros,
recepcionistas, garis e mesmo para técnicos qualificados, com a
certeza absoluta de que a posse de um diploma de faculdade torna seu detentor uma pessoa melhor do que eles. Isso quando se olha para eles, pois tais profissionais geralmente são invisíveis aos sentidos dos doutores. Quantos reconheceriam a
camareira do hotel, na rua, uma hora depois de tê-la visto arrumando
o quarto?
A questão que se impõe refletir é quanto à valorização do
olhar que é lançado sobre o trabalho humano. Sobre todo e qualquer
trabalho humano. Afinal, todas as profissões são importantes para a
sociedade.
Quem
achar que o médico merece maior deferência do que o lixeiro que fique
um mês sem ter quem recolha o lixo de sua casa. Ou então passe um
dia recolhendo o lixo alheio.
Depois
me conta.
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