segunda-feira, 11 de março de 2013

Realização profissional


Dia desses escutei, involuntariamente, uma conversa entre duas pessoas, uma delas identificando-se como professor universitário, sobre a questão da realização profissional sem a necessidade de cursar alguma carreira de nível superior. Ambas concordaram que o modelo de pessoas como Lula, Steve Jobs e Bill Gates, que alcançaram sucesso profissional embora sem formação superior, era deletério para a sociedade, pois existem provas suficientes de que a formação universitária tende a levar a pessoa a alcançar maior nível de renda.

Longe de mim questionar o valor de uma formação universitária ou duvidar que essa formação permita o auferimento de maior renda na vida das pessoas. É fato. Isso, porém, diz mais sobre a necessidade de formação universitária ou sobre o tipo de sociedade que construímos?
Fico imaginando o que seria do mundo se todos resolvessem seguir carreiras que exigem nível superior. Seria um tal de advogado sendo gari, de engenheiro fazendo faxina em escritórios, de médico projetando filmes em cinema, etc.
Atualmente, ao contrário do que já foi um dia, o ensino superior é eminentemente profissional, servindo como preparação para carreiras que exigem um conhecimento mais aprofundado sobre determinada profissão. O investimento na formação humanista, na aquisição de conhecimento geral, na erudição, na criação de um espírito crítico, durante o curso da faculdade, é praticamente inexistente.
Nesse sentido, a educação superior em nada difere de um curso técnico profissional, como qualquer outro. Por esse ângulo, é fácil perceber que o mundo precisa de técnicos, tanto os de nível superior, como os de nível médio.
O problema da desvalorização da carreira dos profissionais de nível médio, quando em comparação com os de nível superior, está vinculado, em menor proporção, à menor complexidade e duração dos cursos e, em grande parte, à prevalência de um certo sentimento elitista, pedante e soberbo que a sociedade brasileira apresenta em relação a profissões que não exigem diploma de nível superior. Olha-se para motoristas de ônibus, carteiros, açougueiros, padeiros, recepcionistas, garis e mesmo para técnicos qualificados, com a certeza absoluta de que a posse de um diploma de faculdade torna seu detentor uma pessoa melhor do que eles. Isso quando se olha para eles, pois tais profissionais geralmente são invisíveis aos sentidos dos doutores. Quantos reconheceriam a camareira do hotel, na rua, uma hora depois de tê-la visto arrumando o quarto?
A questão que se impõe refletir é quanto à valorização do olhar que é lançado sobre o trabalho humano. Sobre todo e qualquer trabalho humano. Afinal, todas as profissões são importantes para a sociedade.
Quem achar que o médico merece maior deferência do que o lixeiro que fique um mês sem ter quem recolha o lixo de sua casa. Ou então passe um dia recolhendo o lixo alheio.

Depois me conta.

Nenhum comentário :

Postar um comentário