sexta-feira, 31 de maio de 2013

Sobre erros em placas de trânsito


Que tal um olhar mais complacente sobre o Brasil?
Lembro-me que quando era adolescente, procurando emprego, andava pelo Centro do Rio e testemunhava a existência de filas e mais filas, imensas, jorrando de cada portaria de prédio comercial. Eram centenas de pessoas candidatando-se a uma vaga de escritório. Lembro bem que, em minha casa, e em muitas de meus vizinhos, carne era só uma vez por semana, quando havia, e não passava de carne moída ou um meio bife quase transparente de tão fino. No mais, todo dia vegetais, um dia ovo, no outro frango, às vezes mortadela frita, que eram alimentos mais baratos e, por isso mesmo, super populares.
Hoje, vejo os jovens filhos dos meus amigos de classe média baixa ou mesmo pobres podendo abrir mão de trabalhar em nome dos estudos, priorizando a educação. Não falta mais bife inteiro no prato de parcela considerável da população. Infelizmente, não tive essa chance e somente por conta de um pouco de força de vontade acrescida de uma dose muito grande de sorte é que não sucumbi à infância e à adolescência.

Mais modernamente, testemunho um Brasil que, desde a presidência de Fernando Collor de Mello, passando por Itamar, FHC, Lula e Dilma, vem melhorando a cada ano. A meu ver, são os efeitos do tempo de exposição à democracia, cada vez diluindo mais a malignidade surgida no período da ditadura militar, contra a qual ainda tive a oportunidade de lutar, e me orgulho disso, em seus momentos finais.
Existem problemas, claro, alguns até graves, mas a virulência que algumas pessoas demonstram contra o governo do próprio país é algo que sempre me espanta. Não vejo, nessas opiniões, algo construtivo, como a crítica do movimento Diretas Já ou dos Cara-Pintadas, que queriam o bem da democracia. O que vejo são pessoas que sempre tem uma palavra ácida contra o Brasil, mas com críticas banais, sem sustentação, repetindo chavões e sempre fazendo comparações demeritórias relativamente a outros países. Nos EUA ou na Europa é sempre bom, aqui é sempre ruim. E se um número divulgado é ruim para o governo, acredita-se piamente nele independentemente de sua origem, mas se é bom, trata-se de manipulação, ainda que venha da ONU, da Cruz Vermelha ou da Congregação Mariana.
Nessas pessoas, percebo rancor, um ódio, algo que vem do intestino, contra o país em que nasceram, o que para mim é inexplicável. Não tecem uma só consideração acerca do que entendem como melhor caminho a ser adotado. De alguns, não imagino que pensem que o PSDB, com Serra, FHC ou Aécio seria opção melhor. Esse partido e essas pessoas já foram e são governo. Suas experiências, boas e ruins (de corrupção mesmo), bem como seus números, estão aí, basta estudá-los e compará-los às experiências e números dos governos petistas. Não se pode esquecer de consultar a opinião das pessoas que tiveram (ou sofreram) as experiências de governo desses partidos.
Numa análise superficial, PSDB e PT são basicamente a mesma coisa no que concerne à atitude política. Ambos, ao fim e ao cabo, são partidos que sucumbiram ao fisiologismo e que possuem uma parcela de filiados corruptos e patrimonialistas. Ambos, todavia, igualmente ostentam quadros políticos honestos e preocupados com o país.
O que de verdade os diferencia é que o PT é um partido mais vocacionado para o atendimento das demandas sociais, enquanto o PSDB prioriza sua energia para atender o interesse do grande capital.
Infelizmente, percebo um setor do Brasil louco para ingressar no fundamentalismo, político e religioso. Lamentavelmente, pessoas de boa-fé estão aderindo a esse movimento de radicalismo, de cegueira. Se vencerem, o futuro nos fará amargar essa sandice.
Mas, por que esse texto? Porque testemunhei que a histeria política chega ao ponto de se apontar erros ortográficos em placas de trânsito brasileiras traduzidas para o inglês. Tais erros são criticados com frases de espanto e estarrecimento, passando a ideia de que o Brasil é um país inculto e incapaz de receber turistas.
Ninguém precisa ter viajado o mundo inteiro para saber que erros de grafia são absolutamente comuns e acontecem no mundo todo. Mesmo grandes escritores os cometem, sendo essa a razão da existência de revisores. Afinal, se há algo que iguala todos os seres humanos é a capacidade de cometer erros. Foi essencialmente a capacidade de errar, e não a de acertar, que provocou todo o desenvolvimento do intelecto na caminhada evolucionista do ser humano. O acerto nada mais é do que o sucesso em superar os sucessivos erros anteriores. Portanto, de modo nenhum errar é capaz de comprovar falta de zelo, de competência ou de cultura. Como dizem, somente erra quem faz. A pessoa inerte não erra, porém em nada colabora para o bem da humanidade.
O macaco que se limitava a rir do erro alheio provavelmente foi extinto ou ainda mora em árvores ou cavernas.
Como exemplo de que erros na escrita inglesa ou em qualquer outra são comuns, verifique-se a fotografia que estampa esse texto, vinda diretamente dos Estados Unidos. Vejam só, que surpresa, até eles erram. E olha que escrevendo na própria língua.

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