Que
tal um olhar mais complacente sobre o Brasil?
Lembro-me
que quando era adolescente, procurando emprego, andava pelo Centro do
Rio e testemunhava a existência de filas e mais filas, imensas,
jorrando de cada portaria de prédio comercial. Eram centenas de
pessoas candidatando-se a uma vaga de escritório. Lembro bem que, em
minha casa, e em muitas de meus vizinhos, carne era só uma vez por
semana, quando havia, e não passava de carne moída ou um meio bife
quase transparente de tão fino. No mais, todo dia vegetais, um dia
ovo, no outro frango, às vezes mortadela frita, que eram alimentos
mais baratos e, por isso mesmo, super populares.
Hoje,
vejo os jovens filhos dos meus amigos de classe média baixa ou mesmo
pobres podendo abrir mão de trabalhar em nome dos estudos,
priorizando a educação. Não falta mais bife inteiro no prato de
parcela considerável da população. Infelizmente, não tive essa
chance e somente por conta de um pouco de força de vontade acrescida
de uma dose muito grande de sorte é que não sucumbi à infância e
à adolescência.
Mais
modernamente, testemunho um Brasil que, desde a presidência de
Fernando Collor de Mello, passando por Itamar, FHC, Lula e Dilma, vem
melhorando a cada ano. A meu ver, são os efeitos do tempo de
exposição à democracia, cada vez diluindo mais a malignidade
surgida no período da ditadura militar, contra a qual ainda tive a
oportunidade de lutar, e me orgulho disso, em seus momentos finais.
Existem
problemas, claro, alguns até graves, mas a virulência que algumas
pessoas demonstram contra o governo do próprio país é algo que
sempre me espanta. Não vejo, nessas opiniões, algo construtivo,
como a crítica do movimento Diretas Já ou dos Cara-Pintadas, que
queriam o bem da democracia. O que vejo são pessoas que sempre tem
uma palavra ácida contra o Brasil, mas com críticas banais, sem
sustentação, repetindo chavões e sempre fazendo comparações
demeritórias relativamente a outros países. Nos EUA ou na Europa é
sempre bom, aqui é sempre ruim. E se um número divulgado é ruim
para o governo, acredita-se piamente nele independentemente de sua
origem, mas se é bom, trata-se de manipulação, ainda que venha da
ONU, da Cruz Vermelha ou da Congregação Mariana.
Nessas
pessoas, percebo rancor, um ódio, algo que vem do intestino, contra
o país em que nasceram, o que para mim é inexplicável. Não tecem
uma só consideração acerca do que entendem como melhor caminho a
ser adotado. De alguns, não imagino que pensem que o PSDB, com
Serra, FHC ou Aécio seria opção melhor. Esse partido e essas
pessoas já foram e são governo. Suas experiências, boas e ruins
(de corrupção mesmo), bem como seus números, estão aí, basta
estudá-los e compará-los às experiências e números dos governos
petistas. Não se pode esquecer de consultar a opinião das pessoas
que tiveram (ou sofreram) as experiências de governo desses
partidos.
Numa
análise superficial, PSDB e PT são basicamente a mesma coisa no que
concerne à atitude política. Ambos, ao fim e ao cabo, são partidos
que sucumbiram ao fisiologismo e que possuem uma parcela de filiados
corruptos e patrimonialistas. Ambos, todavia, igualmente ostentam quadros
políticos honestos e preocupados com o país.
O
que de verdade os diferencia é que o PT é um partido mais
vocacionado para o atendimento das demandas sociais, enquanto o PSDB
prioriza sua energia para atender o interesse do grande capital.
Infelizmente,
percebo um setor do Brasil louco para ingressar no fundamentalismo,
político e religioso. Lamentavelmente, pessoas de boa-fé estão
aderindo a esse movimento de radicalismo, de cegueira. Se vencerem, o
futuro nos fará amargar essa sandice.
Mas,
por que esse texto? Porque testemunhei que a histeria política chega
ao ponto de se apontar erros ortográficos em placas de trânsito
brasileiras traduzidas para o inglês. Tais erros são criticados com
frases de espanto e estarrecimento, passando a ideia de que o Brasil
é um país inculto e incapaz de receber turistas.
Ninguém
precisa ter viajado o mundo inteiro para saber que erros de grafia
são absolutamente comuns e acontecem no mundo todo. Mesmo grandes
escritores os cometem, sendo essa a razão da existência de
revisores. Afinal, se há algo que iguala todos os seres humanos é a
capacidade de cometer erros. Foi essencialmente a capacidade de
errar, e não a de acertar, que provocou todo o desenvolvimento do
intelecto na caminhada evolucionista do ser humano. O acerto nada
mais é do que o sucesso em superar os sucessivos erros anteriores.
Portanto, de modo nenhum errar é capaz de comprovar falta de zelo,
de competência ou de cultura. Como dizem, somente erra quem faz. A
pessoa inerte não erra, porém em nada colabora para o bem da
humanidade.
O
macaco que se limitava a rir do erro alheio provavelmente foi extinto
ou ainda mora em árvores ou cavernas.
Como
exemplo de que erros na escrita inglesa ou em qualquer outra são
comuns, verifique-se a fotografia que estampa esse texto, vinda
diretamente dos Estados Unidos. Vejam só, que surpresa, até eles
erram. E olha que escrevendo na própria língua.
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