domingo, 5 de maio de 2013

A ética na política deve começar em nós


Tem sido comum ver extremistas anti-PT nas redes sociais divulgando dados e notícias absolutamente falsas sobre o governo, com óbvio intuito de manipulação da opinião pública. Tentam criar um ambiente de radicalização política.
O problema é que pessoas que não integram esse quadro de extremismo, mas que, com todo direito, também não gostam do PT, compartilham essas informações, ingenuamente acreditando estar prestando talvez um dever cívico, todavia sem a necessária confirmação dos dados por elas replicados.

O horror ao PT, aparentemente, ofusca a inteligência dessas pessoas. Agindo assim, dolosamente ou não, repetem o comportamento anti-ético do ministro da Fazenda de FHC, Rubens Ricúpero. Para quem não se lembra, trata-se de um político do PSDB que, não sabendo estar no ar na Rede Globo, proferiu a seguinte sentença: "Eu não tenho escrúpulos. Eu acho que é isso mesmo: o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde".
Para quem pretende exigir atitudes éticas de nossos políticos, a indagação que fica é: o imperativo ético deve ser exigido somente do político ou de todas as pessoas? A resposta certamente é que todos temos a obrigação de agir eticamente, inclusive deixando de publicar ou replicar mensagens cujo conteúdo é duvidoso.
Numa dessas mensagens, e com a pretensão de colocar o governo do PSDB como melhor do que o do PT, afirma-se que a carga tributária do período FHC teria ficado na média de 28,7% do PIB, enquanto no governo Lula teria alcançado o percentual de 33,4%. Após uma rápida pesquisa, através de simples consulta à Wikipédia, chega-se à verdade sobre a carga tributária de ambos os governos.
Carga tributária brasileira no período FHC:
Em 1995 = 37,3% do PIB
Em 1996 = 28,97% do PIB
Em 1997 = 29,03% do PIB
Em 1998 = 29,74% do PIB
Em 1999 = 32,15% do PIB
Em 2000 = 33,18% do PIB
Em 2001 = 34,7% do PIB
Em 2002 = 36,45% do PIB
Média de 32,69%


No período Lula:
Em 2003 = 34,92% do PIB
Em 2004 = 35,88% do PIB
Em 2005 = 37,37% do PIB
Em 2006 = 34,23% do PIB
Em 2007 = 35,3% do PIB
Em 2008 = 36,54% do PIB
Em 2009 = 34,85% do PIB
Em 2010 = 35,04% do PIB
Média de 35,51%
Como se pode verificar, a carga tributária média do período FHC está muito distante dos 28,7% do PIB que a malfadada mensagem aponta. Por outro lado, a carga tributária do período Lula é ainda maior do que a indicada, possuindo média de 35,51%.
Independentemente dos números, é extremamente simplista uma argumentação comparativa fundada apenas neles. De fato, o tamanho da carga tributária diz muito pouco sobre o valor intrínseco do governo. A carga tributária da Europa, apenas para dar um exemplo, é maior, em média, do que a brasileira. E daí? E daí que somente a partir desse elemento de informação nada se pode afirmar.
O que cabe legitimamente questionar é a destinação final da arrecadação, ou seja, de que modo ocorre a entrega dos serviços públicos demandados pela população. Aí, sim, a conversa passa a possuir um pouco de brilho e inteligência. Sob tal ótica, há que se indagar: independentemente do tamanho da carga tributária, o governo do PSDB, no âmbito federal, destinou de forma melhor do que o do PT os valores arrecadados? Ou não? Por quê?
São perguntas que exigem algum trabalho e pesquisa mais apurada e não meros "achismos".
Comparação por comparação, que tal uma comparação também com os valores médios, em dólares, do salário mínimo? Ou, ainda, do número de pessoas excluídas da miséria nos dois governos? Também se pode pensar numa comparação entre os próprios números brutos do PIB, tipo, qual o tamanho do PIB deixado pelo PSDB e qual o tamanho do PIB hoje?
Acho que são coisas a pensar e elementos que podem prestar interessante auxílio na formação de nossas convicções.
Considerando-se apenas os resultados dos anos em que governaram, são esses os números do crescimento do PIB nominal :
Crescimento do PIB no período FHC
Cerca de 80% - de 731 bilhões (1995) para 1.320 trilhões (2002).
Crescimento do PIB no período Lula
Cerca de 136% - de 1.556 trilhões (2003) para 3.675 trilhões (2010).
Quanto ao salário mínimo, vejamos:
Período FHC
1995 - salário-mínimo de R$ 70,00 (setenta), cerca de U$ 111,00
2002 - R$ 200,00 (duzentos reais), cerca de U$ 86,00
Crescimento de 185% em reais e redução de 22,5% em dólares.
Período Lula
2003 - salário-mínimo R$ 200,00 (duzentos reais), cerca de U$ 86,00
2010 – R$ 510,00 (quinhentos e dez reais), cerca de U$ 291,00
Crescimento de 255% em reais e aumento de 338% em dólares.
A comparação deve ser encerrada aqui, sem ingressar no tipo de enfrentamento da questão social realizado pelos dois governos comparados.
O governo do PSDB notabilizou-se pelo duvidoso mérito de vender todo o patrimônio nacional a troco de banana, com isso favorecendo a classe dos bilionários do país e do mundo, como também por abandonar completamente a agenda social, não retirando uma única pessoa da miséria e, pelo contrário, nela fazendo incluir milhares que estavam fora.
No governo dos pejorativamente chamados "petralhas", por outro lado, implementaram-se políticas de resgate social que retiraram milhões de pessoas da miséria, além de promover vários outros milhões a um maior patamar aquisitivo, façanha admirada por acadêmicos e jornalistas do mundo inteiro, com exceção, claro, da mídia tupiniquim, cujos interesses são bastante óbvios para quem tem vontade de enxergar.
Quanto à mídia brasileira, vale destacar que o Brasil é um dos poucos do planeta que permite a propriedade cruzada dos meios de comunicação. Qualquer bípede ou quadrúpede que possuir inteligência um pouco superior à dos neanderthais consegue visualizar o que isso significa.
Problemas existem, claro, como em qualquer governo do mundo. Mas absolutamente nenhum deles será extirpado pela mera retirada do PT do governo federal. A solução depende de mudanças na própria estrutura da política nacional, no nosso sistema de realizar a política.
Até agora, nem o PT, nem qualquer outro partido tomou a iniciativa de promover essas alterações. É a favor disso que o povo deve gritar nas ruas, nas redes sociais e em qualquer mídia disponível. Permanecer na fulanização dos problemas é diversionismo, não resolve nada e é tudo o que os políticos desejam.
O que interessa à classe política desonesta, de verdade, é a troca de ladrões, sem acabar com o roubo. A mudança que desejam é quanto ao destinatário do butim.
Não serão políticos tradicionais que irão resolver o problema da falta de moralidade e ética na política do Brasil, mas o povo, em sua condição cidadã. O primeiro e decisivo passo é passar a agir eticamente. O segundo é ir às ruas exigir mudanças, como já foi feito em algumas ocasiões, como nas Diretas Já.
A hora é de acabar com a anestesia dos shoppings. A hora é de movimentação política. Ainda é tempo.

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