A
pretexto de "preocupação" com a qualidade da medicina
oferecida à população, as representações profissionais médicas
vêm adotando e apoiando as mais vis e preconceituosas medidas, o que
inclui divulgação de manifestações individuais de médicos
contendo insultos e ofensas de natureza pessoal contra médicos
estrangeiros, como demonstraram reportagens dos jornais de ontem
(27/08/2013).
Longe
de constituir um debate válido sobre a qualidade dos serviços
médicos disponibilizados, trata-se de pura xenofobia e proteção de
interesses cartoriais proveniente de uma classe profissional que é
possivelmente uma das mais prestigiadas pela sociedade, tanto que o
povo, equivocadamente, pelo invocativo de "doutor", título
acadêmico somente merecido pela elite do ensino e da educação
formal e obtido após um sacrificante curso de doutorado que exige a
construção de uma tese científica inovadora. Sem exceção, todo
profissional que aceita passivamente ser chamado de doutor sem
possuir direito à designação acadêmica é um fraudador em
potencial.
Em
geral, médicos são pessoas provenientes da classe média,
socialmente privilegiadas portanto, e que, dado o capital cultural de
que dispõem, deveriam ter uma percepção mais nítida sobre o tipo
de sociedade que as permitiu atingir o ápice possível do sucesso
profissional ao cidadão comum. A maioria está muito distante disso,
escorando as próprias conquistas na ilusão da meritocracia
individual. Talvez tenham razão se meritocracia for entendida como a
sorte não ser representante da quinta geração de miseráveis
nascidos em favelas.
Ressaltando
que todo maniqueísmo é equivocado, de modo que se deve registrar a
existência de médicos verdadeiramente preocupados com a questão da
saúde pública e da qualidade dos serviços médicos oferecidos à
população, o que verdadeiramente subjaz nessas manifestações de
parte significativa da classe médica é um substrato de odor fétido
chamado "medo egoísta". Não o que seria um louvável medo
profissional de que a saúde dos brasileiros esteja em situação de
perigo em função de uma prática médica possivelmente realizada
por profissionais ineptos. Esse é um tipo de medo que não pode ser
presumido numa classe que, erradamente ou não, é apelidada pelo
povo de "máfia de branco" justamente em decorrência de
relatos de erros médicos absurdos ou extorsões, tais como o de
pessoas que, na maca, em direção à sala de cirurgia, são
obrigadas a assinar cheques em favor de médicos brasileiros,
formados em nossas faculdades, para serem operadas através de
convênio com o SUS procedimento que, supostamente, seria gratuito.
Sem contar as notícias de médicos brasileiros "fantasmas",
que, de forma corriqueira, não comparecem aos seus plantões em
hospitais públicos.
Pode
não ser de conhecimento geral, e as associações médicas não
fazem questão nenhuma de divulgar ao público, mas existem, há
anos, programas de interiorização de médicos que jamais obtiveram
sucesso. Médicos brasileiros, em geral, não desejam se deslocar
para o interior. Em grande parte, desejam, como é natural na maioria
das pessoas, a urbanidade das grandes metrópoles, plenas de cinemas,
teatros e shoppings reluzentes. O desejo é válido, o que não é
válido é se opor à contratação de médicos estrangeiros para
preencher um vazio decorrente justamente desse desejo. Ou seja, nem
vão, nem deixam ir.
Não
se duvida de que constitui, mais do que um direito, um dever dos
conselhos profissionais médicos a manifestação de preocupação
com as condições materiais de exercício da profissão. Todavia, o
que se observa, agora, não é exatamente a demonstração desse tipo
de preocupação. O que permeia a mensagem xenofóbica da classe
médica, de modo oculto, dissimulado, é o temor de perda da reserva
de mercado. Os médicos abominam a perda do controle total sobre a
saúde da população. Querem dominar a medicina, a acupuntura, a
homeopatia, a fisioterapia, a erva da vovó e a baforada no cachimbo
do xamã.
Aparentemente,
a única preocupação que as associações médicas não possuem é
com os pobres das pequenas cidades, que nunca tiveram ou que estão
há décadas sem acesso a um único médico em toda a cidade porque
nenhum médico brasileiro deseja fixar residência lá.
Uma
amiga, que maldosamente esclareço tratar-se de esposa de médico,
lança-me a indagação: de que adianta apenas colocar um médico
cubano numa pequena cidade, o que poderá ele fazer sem estrutura,
sem equipamentos? A resposta é óbvia, dada sem pestanejar: muito,
mas muito mais do que médico nenhum.
Médicos,
munidos apenas de seu conhecimento, podem salvar vidas fazendo uma
traqueostomia com uma caneta esferográfica, apenas para dar um
exemplo real.
Um
hospital sem médico não faz nada, mas um médico sem hospital pode
realizar muita coisa.
Há
outra evidente circunstância que politiza e ronda a questão que é
oriunda do temor de que o programa dê certo, ou seja, o receio de
que os médicos estrangeiros, principalmente os cubanos e sua
expertise em medicina de família, dirigindo-se aos rincões
abandonados, de fato venham a contribuir para melhorar os índices de
saúde do país. Sem dúvida alguma isso seria salutar para a imagem
do governo da Dilma. As demonstrações explícitas dos médicos em
geral certificam que o que é bom para o governo do PT é ruim, não
somente para os políticos da oposição, mas também para uma
parcela bastante significativa da classe médica, cujos consultórios
foram transformados em palanques políticos contra o PT.
Farsas
são montadas despudoramente pela classe médica para sabotar um
programa médico primacialmente direcionado para as classes mais
desfavorecida, como a que foi desmascarada no site Tijolaço, cujo
link é fornecido ao final.
Essa
intensa movimentação política dos médicos, absolutamente inédita,
pois nunca se viu grandes manifestações de médicos nas ruas
"brigando" pelo interesse dos pobres, somente por aumentos
salariais, desmoraliza e apequena a classe médica ao se voltar para
os próprios e mesquinhos interesses corporativos, de forma autista,
sem considerar as necessidades públicas e os dilemas dos
necessitados.
Link
para a matéria do Tijolaço:
http://tijolaco.com.br/index.php/como-se-desmonta-uma-farsa-de-jaleco/
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