domingo, 1 de setembro de 2013

Rede Globo, apoio ao golpe de 64, antipetismo e você: tudo a ver


Em editorial, o jornal "O Globo" finalmente pediu desculpas ao povo por seu explícito apoio ao golpe militar de 1964. Cinquenta anos depois, "O Globo" reconhece que o seu posicionamento, à luz da história, foi incorreto.
Vindo de "O Globo", não se poderia esperar perfeição no reconhecimento de um erro. De fato, ao lado de se desculpar, a publicação tenta se justificar na afirmação de que, na ocasião, o povo estaria contra o governo de Jango.
Inicialmente, destaca-se que o jornal sempre denominou de "revolução" o que agora reconhece ter sido um golpe. Quanto à sua afirmação de que o povo estaria contra o governo de Jango e por isso a adesão do jornal, o que se constata é que a Globo, mesmo enquanto pede desculpas, repete o seu melhor produto: mentira.

Eis os dados do Ibope de pouco antes do golpe militar (1):
a) 69% dos entrevistados avaliavam o governo Jango como ótimo (15%), bom (30%) e regular (24%). Apenas 15% o consideravam ruim ou péssimo, fazendo eco aos jornais;
b) 49,8% cogitavam votar em Jango, caso ele se candidatasse à reeleição, em 1965 (seu mandato expirava em janeiro de 1966); 41,8% rejeitavam essa opção;
c) 59% apoiavam as medidas anunciadas pelo Presidente na famosa sexta-feira, 13 de março.
Como se vê, os dados estatísticos contrariam a versão platinada de que o povo estaria contrariado com Jango a ponto de apoiar um golpe ou iniciar uma revolução.
Na verdade, o povo estava tranquilo e foi a grande imprensa (Estadão, Folha e outros juntos com a Globo) que criou um clima de rebelião, insuflando os militares ao golpe. Por conta dessa funesta intervenção midiática, deu no que deu e o povo foi obrigado a amargar 21 anos de ditadura militar. O povo agradece o pedido de desculpas, mas o considera insuficiente para reparação de décadas de violência ditatorial simbólica e material.
A tragédia, porém, não termina no insincero pedido de desculpas, mas se repete como farsa.
Há evidente similaridade entre o experimento jornalístico daqueles tempos e o que testemunhamos hoje: uma fração minúscula da população que se considera “iluminada”, e que detém grande poder de influência na distribuição da informação, posiciona-se contra um governo de esquerda e usa toda a sua influência junto ao povo para extirpá-lo do poder.
Se naqueles tempos buscou-se insuflar a caserna, hoje se sacode o vespeiro do aparato polícial-judiciário.
A atual crítica política, totalmente construída pela imprensa, está longe de ser constituída a partir de elementos verdadeiros, racionais e lógicos. A maior parte das manchetes e reportagens é histérica e desvinculada da realidade.
Sempre sob uma perspectiva fascista, nenhum tipo de avanço é reconhecido pela imprensa. Reina um tipo de fundamentalismo antipetista que insensibiliza os jornalistas da grande imprensa relativamente à credibilidade de qualquer índice positivo, somente os negativos são atribuídos às ações do governo. A violência simbólica é tamanha que, caso seja impossível ocultar um número positivo, nenhum crédito é concedido à gestão do atual governo, sempre se atribuindo o dado positivo às bases construídas em governos anteriores. A ênfase é focada nos governos tucanos ou às “condições favoráveis” do mercado internacional.
Por má-vontade ou má-fé, o chamado “mensalão” é superdimensionado como o maior escândalo de corrupção da história do país. Nenhum destaque foi concedido na época, nem é concedido hoje, às falcatruas ocorridas durante o intenso processo de privatização orquestrado pelos governos tucanos, que gerou desvio mais de vinte e cinco vezes superior aos valores do mensalão.
A partir dessa visão pirracenta e pueril, a pretensão do PT de permanecer no poder é mancheteada como antidemocrática, fingindo-se desconhecer que partidos políticos, em qualquer lugar do mundo, existem justamente com o objetivo de manter no poder indefinidamente um determinado projeto para a sociedade, enquanto os eleitores decidirem que assim deve ser. Dissemina-se a falsa ideia de que partidos políticos, republicanamente, deveriam abdicar voluntariamente do poder depois de certo tempo, como se isso não fosse solução a ser decidida pelos eleitores.
No reverso da medalha, nada se fala sobre um possível projeto de perpetuação no poder pelo PSDB no governo de São Paulo, que concentra o segundo maior orçamento público do país, atrás apenas do governo federal. Em São Paulo, a perpetuação no poder pelo PSDB é bem mais antiga do que a do PT no âmbito federal, mas isso não interessa à imprensa.
Paralelamente, transmite-se ao povo a ingênua e fraudulenta ideia de que a mera retirada do PT do governo, por si só, seria capaz de solucionar as grandes questões nacionais, de governo e de corrupção, mesmo sem alteração de monta no atual sistema político absolutamente corrompido e corrompedor.
São jornalistas que atuam como dublês de “illuminati”, mas cuja ação não é pautada em convicção política ou intelectual, de modo nenhum. Como diriam os americanos: é a economia, estúpido!
A questão é, e sempre será, dinheiro e poder.
Trata-se de retirar o cão pastor atual, que de algum modo está incomodando, ainda que pouco, e colocar em seu lugar, para tomar conta do rebanho de ovelhas, um lobo da própria alcateia, o “nosso lobo”. Caso o “nosso lobo” chegue ao pastoreio, então diminui-se a pressão: menos manchetes escandalosas, menos jornalismo investigativo, menos pessimismo nos artigos e menos “especialistas sem espírito” na tevê analisando fatos deletérios do governo. Todavia, as ovelhas continuarão a ser mortas, agora pelo "nosso lobo" e em número maior do que antes, mas isso não vem ao caso.
Especialista sem espírito é aquele que possui amplo conhecimento sobre sua área e praticamente nenhum sobre a totalidade da sociedade. É um cego parcial, incapaz de perceber a dimensão e alcance dos remédios que propõe, mas totalmente servil aos propósitos de quem os convoca.
E, claro, o circo deve continuar em sua missão de distrair: mais qualidade nas novelas, mais samba e mais futebol.
Alçado ao poder o "nosso lobo", nada muda de fato e pode até piorar muito, mas tudo se transforma pela força alquímica das manchetes, capazes de transformar “corrupção de políticos do PSDB paulista” em “cartel de empresas em licitações” ou "crise hídrica de São Paulo por falta de planejamento" em "falta d'água por estiagem prolongada".
Os “iluminados” da mídia, repetindo o padrão Goebbels de contar a mesma mentira mil vezes, alteram não somente a realidade, como também as mentes de parcela do povo, principalmente as da classe média, sôfrega por acreditar nessa “verdade”. Pior, passa a considerar que essa é sua própria verdade subjetiva, à qual chegou após profunda “análise” da conjuntura do país. Como diriam os nossos jovens, só que não (SQN).
Não se trata de verdade, mas de ilusão. Uma ilusão que se perpetua nessa amostra populacional, a classe média, pela existência de um medo íntimo e inconfessável, talvez até subconsciente, de que os pobres, migrando para a classe média, ainda que média baixa, passem a ter acesso aos mesmos bens de consumo que eles. Isso, que horror, os igualaria.
O temor não é o de perder o atual poder aquisitivo, mas o de perder o status distintivo de sua classe. O medo é de ser igual.
As pesquisas em geral confirmam que os pobres, essa classe que efetivamente representa o Brasil, pois constituem a maioria do povo e dos cidadãos, são favoráveis ao governo. Por quê? Simples: porque agora conseguem comprar geladeira, micro-ondas e, pasmem, até carros e casas.
Os grandes jornais pertencem à classe alta, aquela que deseja arrumar um emprego para o “nosso lobo”. Além disso, são dirigidos por administradores oriundos da atemorizada classe média. Daí a explicação para a manipulação e disseminação de um temor difuso e indizível de repugnância pela ascensão social dos pobres.
Reinventam o mito do comunista comedor de criancinhas. Assim como em 1964, repete-se hoje o mesmo padrão de criar uma verdade social paralela, alternativa, inexistente no sentimento da imensa maioria do povo, porém perfeita para criar um ambiente de instabilidade institucional e política.
Esticam a corda ao máximo possível. O problema é que um dia a corda poderá romper de forma inesperada. Inesperada até para eles, que a esticaram. A ida dos jovens para as ruas, negando a política, foi um indicador disso.
Imagine-se um cenário de manutenção do PT no governo por mais um, dois ou inimagináveis três mandatos, de forma democrática, pelo voto, e sem alteração no sistema político. Nesse cenário, tudo é possível a partir da radicalização política promovida ante o desespero antidemocrático da mídia, inclusive uma nova ditadura, militar ou não, de direita ou não.
A nova onda é o golpe judiciário, já testado em republiquetas.
Percebam que os jovens manifestantes não estão falando em política. Pelo contrário, eles rejeitam a política e os políticos tradicionais. Dizem não às bandeiras dos partidos, mesmo os da esquerda considerada autêntica. A linguagem deles é a da anarquia (em seu sentido real, de ausência de governo), do coletivismo e da multiplicidade. É um caldo perigoso sem uma liderança política.
A grande imprensa (leia-se, a elite) pode estar dando um tiro no pé.
O melhor caminho para o país não passa pela mera desconstrução do PT. Esse partido, independentemente da imagem que tentam transmitir, não representa o que há de pior na nossa política. O PT representa a política brasileiro que sempre ocorreu. O PT materializa a nossa realpolitik, uma política cujo corpo somente se movimenta alimentada por conchavos e patrimonialismo.
O PT não é a jabuticaba, mas o seu suco, a sua geleia. O PT é o produto final de um sistema preparado para germinar jabuticabeiras.
Necessitamos de uma vontade política seriamente direcionada para uma forte alteração na legislação político-partidária. Uma que torne desnecessária ao executivo a compra da governabilidade ao legislativo. Que dispense paladinos do judiciário de usurpar as funções do legislativo em nome da moralidade e da ética. Que garanta que o partido político eleito materialize a promessa ideológica de seus estatutos. Que não permita que partidos políticos, que deveriam representar o pensamento de segmento da população, tornem-se simples veículos de aluguel para políticos aventureiros e carreiristas.
A Rede Globo e os outros jornalões mentiram em 1964, continuam a mentir hoje e continuarão a mentir nas próximas décadas, enquanto existirem as condições políticas e legislativas que permitam a publicação irresponsável dessas mentiras e a criação de um falso estado de crise política provocativa de instabilidade no país, sempre prejudicial.
O povo, o cidadão, necessita entender que o interesse dessas corporações não foi, não é e jamais será idêntico ao seu. Se elas atacam sistematicamente algo ou alguém, a melhor orientação para o povo é suspeitar, abrir os olhos e levantar as orelhas.

Pode não ser nada, mas pode ser tudo.

Nenhum comentário :

Postar um comentário