É
difícil debater assuntos tão complexos como sobre os agora notórios
black blocks em poucas palavras.
Os
seres humanos alcançaram um tal grau de desenvolvimento do
pensamento e da civilização que certos modelos de organização
social há muito deveriam ter sido abandonados. Não mais é possível
conviver com um sistema que permite a um pequeno grupo de pessoas
acumular bilhões em dólares enquanto, simultaneamente, existe uma
outra quantidade medida em bilhões, o de gente miserável passando
fome ou à beira de.
Doze
milhões e quinhentas mil pessoas morrem todos os anos de fome. São
trinta e cinco mil por dia. Isso é produto direto do tipo de sistema
econômico defendido por grande parte da população, inclusive pelos
pobres. A presa (o povo) acostumou-se a defender o predador (os donos
do poder). Nos últimos vinte anos, o capitalismo matou de fome mais
pessoas do que todas as guerras do século XX somadas.
Os
miseráveis se veem num beco sem saída. Nascem miseráveis e, por
isso, são excluídos do sistema desde o berço, como se fossem
párias indianos. A miséria de origem os exclui do sistema de saúde,
de educação e torna praticamente impossível o empreendedorismo.
A
miséria é uma algema de aço que mantém os miseráveis em seu
lugar, o gueto. A algema de aço é produzida numa fábrica de ouro
de propriedade das corporações e recebe a chancela do Estado, seu
preposto.
O
fato episódico de um ou outro miserável conseguir escapar desse
determinismo histórico em nada mitiga a perversidade do sistema,
tratando-se apenas de exceções que confirmam a regra. É por isso
que todos elogiam tanto um favelado que chegou ao Supremo ou que se
tornou dono de uma rede de televisão. Aos olhos das pessoas, isso é
quase um milagre. E é mesmo, mas é também uma boa propaganda para
o sistema, mais um elo na corrente que aprisiona.
É
preciso encarar a realidade de frente e a realidade não está nas
casas de classe média ou nas mansões dos ricos e famosos. A
realidade não possui glamour. A realidade é cruel. A realidade é a
fome da África. A realidade são os ossos aparecendo nos peitos dos
famintos. A realidade são os bebes esquálidos sugando peitos de
pura pele.
Se
o ser humano é, de fato, um ser inteligente, racional e civilizado,
se a cultura, a educação e o altruísmo não são palavras vazias
utilizadas somente para enfeitar discursos hipócritas em salões
regados a champanhe, é necessário que ações firmes sejam adotadas
para adaptar o capitalismo a essa nova verdade que emana do estágio
de desenvolvimento que a humanidade atingiu.
O
capitalismo precisa de arranjos. Urgentemente. E não serão os donos
do poder que irão fazê-lo. Nunca foi assim na História e jamais
será. Quem tem quer manter.
Quem
muda o mundo e põe fim às opressões é o povo.
Tendo
tudo isso em mente, indaga-se em relação ao movimento dos black
blocks: o sistema capitalismo está autorizado a matar milhões de
fome todos os dias, mas o indivíduo não possui o direito de se
rebelar contra isso? É legítimo e merece acato um ordenamento
social que determina a manutenção do status
quo
opressivo e estimulador da miséria? Onde começa o direito à
propriedade e termina o direito de revolução? O Estado possui o
direito de quebrar a cabeça de alguém com um cassetete, cegá-lo
com gás de pimenta ou mesmo matá-lo, porque esse alguém quebrou a
vitrine de um banco? Estamos vivendo uma sociedade onde a propriedade
do milionário é sagrada e a vida ou a integridade física dos
pobres não?
São
perguntas retóricas, para reflexão, que não exigem respostas.
A
solução para a equalização do sistema deve ser pensada a partir
de qualquer ação que preserve a dignidade da pessoa humana, maior
de todos os valores.
Pode-se
imaginar um sistema econômico futuro onde as metas não sejam de
crescimento, mas de decrescimento, com igual decrescimento da
população através de intensos programas de natalidade. Um futuro
mais digno, com menos pessoas, menos agressões, menos pressões
sobre o meio-ambiente e menos ou nenhum milionário. Algo como um
modelo de social-democracia avançada ao máximo.
Seria
possível alcançar essa meta sem romper com alguns paradigmas e sem
quebrar algumas vidraças?
Será
que os blocks, hoje considerados vândalos, serão um dia lembrados
como os heróis da resistência dos tempos atuais?
Sobre os Black Blocks eu fiz uma análise. Se puderem vejam:
ResponderExcluirhttp://www.orbenon.blogspot.com.br/2013/10/normal-0-21-false-false-false-pt-br-x.html