Para as pessoas que possuem consciência política de fato,ou seja, que
não se limitam a repetir bordões e aderir a linchamentos, mas estão verdadeiramente preocupadas em entender os meandros que conduzem o processo político
mundial, Brasil no meio, a apresentar-se como se apresenta, recomendo a leitura desse
excelente texto do jornalista, economista e músico Luis Nassif.
Basicamente,
Nassif acredita que o Brasil está vivenciando um momento histórico
de inclusão social, similar ao da libertação dos escravos e à
conquista das sufragistas pelo direito de voto feminino, por exemplo.
Nessas ocasiões, sempre insuflado pela mídia conservadora, que
protege os interesses da porção mais rica da sociedade, o povo,
notadamente a classe média, se divide entre os que aderem à
inclusão social (os abolicionistas ou feministas, por exemplo) e os
que preferem a manutenção do status quo anterior (os escravagistas
ou sexistas).
Tal
cisão de opiniões no seio social gera um crescente de sectarização,
como está ocorrendo entre petistas e anti-petistas atualmente, que
culmina na radicalização política, onde cada parte entrincheira-se
nas próprias convicções e, não somente não cede a qualquer
argumento do lado contrário, como na verdade deixa de lado as
tentativas de argumentação crítica racional, passando a utilizar,
como ferramentas de retórica, a falácia e o sofisma.
A
radicalização pode, por fim, consagrar a evolução do processo
civilizatório ou, pelo contrário, sua involução, estimulando a
criação de ambientes favoráveis ao surgimento de regimes
totalitários ou fomentar guerras civis, como foi na Alemanha nazista
ou na guerra de secessão americana. Ao fim e ao cabo, todos perdem
com a intolerância e a radicalização do posicionamento político.
Em
outras palavras, toda solução deve vir do espaço democrático, do
respeito à Constituição e com a aceitação das decisões
democraticamente adotadas. Democracia não é exigir a materialização
daquilo que você pensa, mas a aceitação do que a maioria decide. O
contrário disso é o fascismo.
É
interessante observar que Nassif sugere, entrelinhas, que o Tea Party
americano, que concentra o sectarismo político de extrema direita
dos EUA, é a ponta de um iceberg totalitarista que começa a rugir
ferozmente no estômago da Águia. É assustador imaginar que uma
sombra maligna de tal magnitude, que ameaça o planeta inteiro,
começa a crescer na maior potência militar de todos os tempos.
No
mais, Nassif explica porque não temos um Tea Party brasileiro,
fundamentalmente apoiando a sua tese na circunstância de termos uma
Constituição extremamente detalhista, que abre pouco espaço para
interpretações anti-democráticas. Segundo ele, um luta de Ulysses
Guimarães para evitar novas aventuras ditatoriais num país até
então habituado a elas.
Aqui,
transcrevo um pequeno trecho:
"Periodicamente,
o processo civilizatório sofre soluços de insensatez, tempos
bicudos em que falham as ferramentas institucionais de mediação, os
avanços são esquecidos, a radicalização campeia e o jogo político
se torna selvagem.
...
O
ponto inicial desses terremotos são os grandes momentos de inclusão
da história.
Especialmente
nos regimes democráticos, a civilização se forma a partir de
processos gradativos de inclusão social e política. Foi assim na
abolição da escravatura, nas lutas feministas e nos grandes
movimentos migratórios, do campo para as cidades ou entre países.
Cada
luta é um parto. Depois dela, o renascimento do país em um nível
superior. Durante, criam-se momentos propícios para o exercício da
intolerância, influenciando especialmente a classe média
estabelecida, o chamado cidadão-massa, alienado em relação à
política e às próprias organizações do seu meio.
É
ele que se sente ameaçado no seu emprego ou no seu status, nas suas
convicções, em um quadro em que o ritmo das mudanças torna a vida
imprevisível.
...
Na
Europa e Estados Unidos aumentou a intolerância em relação aos
imigrantes, especialmente depois que a desindustrialização interna
e a bolha imobiliária empobreceram a classe média. No Brasil, a
resistência em relação à chamada nova classe C.
Esses
movimentos são potencializados pelas novas formas de comunicação,
pelas redes sociais, permitindo pela primeira vez, em muitos países,
manifestações políticas que geraram inúmeras “primaveras”.
Mas também a difusão de preconceitos e intolerância.
Mas,
principalmente, pela exacerbação da velha mídia, do velho conceito
de mass midia, vivendo seus estertores.
..."
Leiam
o conteúdo integral no link em destaque:
http://jornalggn.com.br/noticia/como-a-constituicao-de-ulisses-salvou-o-brasil-do-tea-party
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