quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Desejos insanos




Quero viver num mundo no qual não se inventem convicções para justificar a iniquidade.
Onde os discursos elegantes e refinados, produzidos nos salões de granito e mármore, entre flutes de prosseco, defendam com entusiasmo genuíno o direito à vida, à liberdade e à igualdade de oportunidades e não sejam meros sofismas a esconder o interesse na manutenção da escravidão que produz a riqueza.
Um mundo no qual o ato de dar a esmola seja menos incômodo do que o fato de existirem miseráveis a quem dar.

Onde sonhos não tenham nada a ver, nem com a necessidade de um prato de comida, nem com a vacuidade do mero consumo, mas com a satisfação do espírito.
Onde a inteligência seja medida pela percepção das finitudes de si, da imensidão do outro, da precariedade dos frutos da terra e da integração com o todo.
Onde não se considere tolo o sonhador, mas sim os que desacreditam da utopia.
Quero viver nesse mundo.

Sim, eu sei. Sou insano.

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