segunda-feira, 4 de agosto de 2014

A sabedoria política de Sólon


Atenas, Grécia antiga. Berço da república e da democracia.
Pisístrato dirige-se, coberto de feridas, à Ágora, praça central onde os atenienses se reuniam para ficarem cientes das notícias e tomarem decisões públicas. Lá ele noticia ter sido atacado e ferido pelos inimigos, solicitando aos cidadãos o direito de ter uma guarda pessoal, o que era proibido pelas leis de então. Tratava-se, contudo, de uma encenação: ele ferira a si próprio. O que Pisístrato realmente desejava era, municiado por essa guarda, dominar Atenas.

Sólon, um sábio político de idade avançada, ao saber do requerimento de Pisístrato, veste-se de couraça e escudo, mas não de espada, assim simbolizando estar armado apenas com sua coragem. Chegando à Ágora, profere um longo discurso denunciando as reais intenções de Pisístrato, ao fim do qual conclama os atenienses a deixar a covardia de lado e não aprovar o pedido de guarda pessoal. Muitos dos atenienses ali presentes, entretanto, eram partidários de Pisístrato e espalham a informação de que Sólon enlouquecera. Ao que Sólon responde:
Atenienses, ... sou mais sábio do que aqueles que não compreenderam os maus desígnios de Pisístrato e mais corajoso que aqueles que os conhecem e guardam silêncio por medo. Se sou louco, vós o sabereis dentro de pouco tempo, cidadãos. Vós o sabereis quando a verdade vier à luz”.
Os atenienses, todavia, não ouviram Sólon e aprovaram a guarda pessoal requerida por Pisístrato. Em 560 a.C., com a ajuda dessa guarda, ele conquistou a Acrópole e instalou a sua tirania, que perdurou por trinta e nove anos.
Pobre do povo cujo infortúnio os conduz a não possuir velhos sábios que, do alto de sua experiência, libertem-se dos compromissos políticos do presente e estejam dispostos, ao preço do sacrifício da própria reputação e apoio político de que gozava, a proferir aconselhamentos honestos, dirigidos à felicidade das pessoas de sua terra e sem compromisso com o imediatismo de uma eleição ou de um mandato.
Igual ou pior futuro aguarda o povo que, gozando a benção de possuir esses sábios, não lhes dê ouvidos por incapacidade de perceber o seu valor, por não conseguir avaliar a exata dimensão da realidade que testemunham, por ingenuidade frente ao fato escondido por detrás das falsas notícias, por optar por permanecer com os olhos cobertos pelo véu da própria e desapercebida ignorância.

A opressão é a herança maldita reservada aos ignorantes.

Um comentário :