Em
dezembro de 2016, o site Brasil 247 reproduziu um artigo publicado no
Estadão, de autoria do general Rômulo Bini Pereira. No artigo,
assim declarou o militar:
Se
o clamor popular alcançar relevância, as Forças Armadas poderão
ser chamadas a intervir, inclusive em defesa do Estado e das
instituições. Elas serão a última trincheira defensiva desta
temível e indesejável 'ida para o brejo'. Não é apologia ou
invencionice. Por isso, repito: alertar é preciso (1).
O
artigo, portanto, era uma advertência do militar: cuidado que a Cuca
vai te pegar. No texto, o general sustenta que um exemplo de desgraça
política capaz de prejudicar o país e de exigir a atuação dos
militares seria a invasão promovida na Câmara dos Deputados por um
grupo de manifestantes. O exemplo é bisonho de tão superficial. O
general percebe como desgraça uma situação absolutamente normal em
qualquer ambiente democrático: a manifestação popular.
Declarações
públicas levianas desse naipe, nesse específico caso vinda de uma
pessoa que possui a responsabilidade institucional de manter pacífico
o ambiente coletivo, interna ou externamente, são responsáveis por
tornar a opinião pública insensível às barbaridades cometidas
contra os cidadãos, seja quando pacificamente exercitam o direito de
manifestar-se politicamente nas ruas de nossas cidades, seja no
desrespeito aos direitos humanos mínimos testemunhado com frequência
na atuação de nossas diversas polícias, que silenciosamente matam
milhares de pessoas por ano sob o pálio da segurança pública,
principalmente pobres e negros.
Manifestações
populares, inclusive e principalmente as que adentram o palácio mais
destacado do povo, os parlamentos, constituem um direito do cidadão
garantido pelas constituições de qualquer país democrático e
civilizado do mundo. Devem ser meramente observadas pelo aparato de
segurança estatal, tanto para dar segurança aos manifestantes, como
para exercitar a repressão sobre eventual excesso cometido, ainda
assim de forma proporcional ao excesso. De forma nenhuma é aceitável
o que ocorreu em Goiânia, quando um jovem manifestante, apenas por
ser manifestante e ter a boca e o nariz cobertos por um lenço,
presumivelmente como defesa contra gás lacrimogênio, recebeu uma
cacetada tão violenta na cabeça que partiu o cassetete ao meio. O
jovem se encontra em grave risco de morte ou de sobreviver com
sequelas terríveis. As autoridades públicas possuem o dever de agir
para que o policial que praticou tal ato responda por tentativa de
homicídio agravada pelo motivo fútil. Quem teve a experiência de
segurar um pesado e denso cassetete policial nas mãos sabe que, para
ser quebrado no corpo de alguém, a violência da pancada exige que o
agente assuma o risco de obtenção do evento morte na ação. O dolo
é, minimamente, eventual.
Como
é possível que, num país que amargou 24 anos de ditadura militar,
um general esteja publicamente admitindo a possibilidade de
intervenção militar? Ou, ainda, que parte da população clame por
uma intervenção militar ou pela eleição de uma caricatura do
militarismo, o deputado Bolsonaro? Bolsonaro prefigura, em suas
declarações, o perigo totalitarista que nos espreita.
Existem
duas coisas boas a falar sobre Bolsonaro. Primeiro, o fato de
defender ideias nacionalistas e de proteção dos interesses
nacionais. Ocorre que, se por um lado o nacionalismo é bom ao
colocar o país em local privilegiado na tomada de decisões
públicas, por outro, sua versão extremada é capaz de conduzir a
coisas indizíveis, como as realizadas pelo supernacionalista Hitler
em sua época. Por tudo que declara, Bolsonaro pratica o tipo
extremado de nacionalismo, à moda nazista.
A
segunda coisa boa que se pode falar sobre ele é quanto à sua
inacreditável transparência. Ciente de estar revestido pelo manto
protetor da imunidade parlamentar no que concerne às suas
declarações, Bolsonaro não exercita a fácil hipocrisia,
ferramenta comum às pessoas públicas. Não oculta a própria
malignidade e nos diz clara e cristalinamente quem é. Ainda assim,
revelando-se em sua crueza e inteireza, cresce nas pesquisas.
São
duas coisas de duvidoso mérito em meio a incontáveis outras
"qualidades" muito, mas muito ruins que caracterizam a
personalidade e o caráter do deputado.
Bolsonaro
é publicamente contra a democracia, que classifica como uma
porcaria. No passado, quando ainda não tinha chance alguma de ser
presidente, concedeu entrevista na qual disse que, se eleito
presidente, fecharia o Congresso e daria um golpe de Estado no mesmo
dia. Sustenta, sem meias palavras, que a ditadura militar brasileira
foi gloriosa, assim como a chilena; defende a tortura e morte de
adversários políticos de ambos os regimes; já sustentou que as
ditaduras brasileira e chilena, esta com mais de três mil mortes,
matou pouco; é favorável à utilização das forças armadas contra
os poderes judiciário e legislativo, caso atrapalhem o governo, como
fez Fujimori quando presidente do Peru.
Com
sua confusa inteligência política, Bolsonaro advoga que a ditadura
brasileira – realizada à força pelos militares e durante a qual
não se exercia plenamente o direito ao voto e não existia direito a
manifestações políticas pelo povo – foi um movimento
“democrático”, assertiva que desafia o conceito de democracia
produzido pela ciência política. Sem espanto algum, trata-se
exatamente da opinião de quem clama pelo militarismo ou por
Bolsonaro, fruto evidente de ignorância política.
Aparentando
total insciência ou desprezo sobre a conturbada relação histórica
entre política e religião, Bolsonaro é contra o Estado laico (2),
defendendo que a visão religiosa deve prevalecer também no plano
político, tal e qual já ocorreu no passado e continua a ocorrer,
hoje em dia, nos países muçulmanos. Como se sabe, teocracias
dominam amplamente a vida privada dos cidadãos, negando a plena
liberdade religiosa e de exposição de pensamento, além de agravar
pesadamente o patriarcado, colocando a mulher como um apêndice
obediente do homem. O posicionamento não surpreende, vindo de um
homem que já produziu declarações apologéticas ao estupro, sobre
as quais ainda pende uma ação criminal, e defendeu salário menor
para as mulheres, sob a justificativa de que engravidam e recebem
salário maternidade. Sua inclinação misógina é revelada
inclusive quando se refere pejorativamente à própria filha, nascida
após quatro filhos do sexo masculino. A filha, segundo ele, resultou
de uma “fraquejada” sua (3),
caso contrário teria tido um quinto filho macho.
O
deputado não é violento somente no aspecto da atuação política,
mas, também, em suas visões sobre as interrelações sociais. Ele
defende a pena de morte e, à sua falta, pontifica que a polícia
deveria “matar mais”. Defende, assim, que nossos policiais se transformem em assassinos públicos, matando segundo o seu próprio juízo de valor, sem necessidade de lei instituidora da pena de morte e muito menos de sentença que a determine.
Além
de antidemocrático e misógino, o nobre deputado ainda reúne em si
as “qualidades” pouco invejáveis de homofobia e racismo. Sim,
pois, sem meias-palavras, diz que preferiria ver um filho morto a ser
homossexual e que a residência de homossexuais desvaloriza a casa
dos vizinhos. Defende a violência contra homossexuais, inclusive
pelos pais, como forma de correção, e argumenta que eles não devem
ser protegidos por leis anti-homofobia. Não titubeia em declarar que ele própria agrediria um casal de gays se os visse se beijando em público.
E
o deputado não para em sua sanha de reunir em si as piores
inclinações políticas possíveis e imagináveis. Ele é, também,
contra o direito das minorias, que devem sucumbir às maiorias.
Considera os índios fedorentos e mal-educados (deve preferir índios
com doutorado que utilizem sabonetes). Recentemente, em abril desse
ano, no Clube Hebraica, clube carioca localizado na zona rica da
cidade e, obviamente, frequentado por privilegiados, proferiu
discurso afirmando que, se eleito presidente, extinguirá todas as
reservas indígenas e todas as comunidades quilombolas. No mesmo ato,
e sem temer evidenciar ainda mais um racismo já evidente, referiu-se
a afrodescendentes quilombolas como se fossem escravos, dizendo que o
mais leve deles pesava sete arrobas (medida de peso de animais) e
que, com esse peso, não serviria sequer como procriador. Como se
sabe, os proprietários escolhem os melhores animais para que
procriem, assim gerando um melhoramento genético da raça. Nos
tempos da escravidão, fazia-se o mesmo com os escravos. Bolsonaro
sabia disso ao produzir sua piada racista e se lixou. A plateia,
racista como ele, achou muita graça da piada.
Como
é possível uma pessoa tão ignóbil politicamente figurar dentre os
mais populares candidatos a qualquer cargo político e,
principalmente, ao de presidente da República? Como é possível que
eleitores que se consideram democráticos, e que desejam continuar a
influir nas escolhas políticas do futuro, sequer possam supor a
alternativa militar? E, pior, como podem pessoas negras, homossexuais ou mulheres declarar o voto em Bolsonaro?
Afora
a possibilidade mais provável da opção decorrer do mal banal sempre presente em
grande parte dos seres humanos, é
possível que muitas delas estejam sofrendo da terrível angústia de
produzir escolhas complexas.
Como
isso se processaria? Explico. Uma pequeníssima, mas barulhenta,
porção de brasileiros aderiu, de forma consciente, à alternativa
apresentada pela extrema direita mundial. Essa pequena fatia produz
incessantes e insanos apelos de adesão ao extremismo aos eleitores
frustrados com a política. No Brasil, tais pessoas são
identificadas como simpatizantes de celebridades políticas como o
exaustivamente mencionado Bolsonaro e outras igualmente deletérias
como Malafaia, Marcelo Madureira, Alexandre Frota, Lobão e outros desse naipe.
Isso,
contudo, não seria o bastante, não fosse a concomitante existência
de interesses econômicos poderosos que ressoam a mensagem da extrema
direita, sem a indispensável produção de crítica inteligente. Rede Globo e
outros órgão de imprensa, como Abril, Estadão e Folha de São
Paulo, não espantam a ideia da ditadura, pois possuem expertise em
lidar lucrativamente com o autoritarismo, como brilhantemente
demonstrou a Globo no período dos governos militares, durante o qual
se tornou a maior empresa de informação do país simplesmente
negociando com os ditadores e não permitindo que seus jornalistas
produzissem críticas ácidas demais ao stablishment militar.
Com o apoio da grande mídia, ou sua inércia, a mensagem dos adeptos da
instauração de um regime autoritário consegue atingir os temores
íntimos de parte da população.
Sabe-se
que o ser humano vive em eterno dilema entre o desejo de liberdade total e a
necessidade sempre presente de formular escolhas. Ser livre é,
basicamente, não possuir restrições à escolha entre alternativas.
O ser humano, contudo, de forma contraditória, aprecia a liberdade
em tese, mas não gosta de escolher na prática. Quanto mais
alternativas, menos sente-se confortável para optar. O ser humano
médio aprecia a segurança proporcionada pela rotina caracterizada
pela monotonia das imposições pré-ordenadas e que, portanto,
configura a antítese da liberdade.
Assim,
quanto mais complexa a escolha, mais o ser humano médio sofrerá por
ter de fazê-la. A complexidade pressupõe a necessidade de reflexão
mais profunda sobre aspectos mais diversificados da situação posta.
Como pontificava Sartre, o ser humano está condenado a vivenciar a
angústia da liberdade, pois nada é capaz de eximi-lo dessa
liberdade. Seguindo esse ensinamento, o caminho mais fácil para
reduzir a angústia existencial seria mitigar a quantidade de opções
possíveis. Segundo o psicólogo-palestrante Barry Schwartz, é mais
fácil e menos frustrante escolher um jeans entre dois ou três
modelos do que entre mil. O aumento de liberdade, nesse caso, se
transforma em incremento da angústia na escolha e de inevitável insatisfação
com seja o que for escolhido, pois jamais se saberá como seria a realidade com a alternativa
que foi relegada.
Ora,
a situação política brasileira provavelmente nunca foi mais
complexa do que a atual. Vivemos um simulacro de democracia. A
situação prática é próxima a de uma ditadura, com manifestações
populares sendo reprimidas violentamente para que projetos de elite
sejam aprovados apesar da insatisfação maciça do povo em relação
a tais projetos. A imprensa internacional denuncia o golpe e a fraude
das reformas, mas a população não sabe disso, pois a imprensa
nacional, comprometida com o projeto golpista, produz manchetes de um
mundo de fantasia, no qual tudo está indo muito bem, apesar de ficar
cada vez pior.
Por
conta dessa atuação maligna da imprensa majoritária, esmaeceu, nos
cidadãos, a compreensão do verdadeiro conceito de democracia, o que
é e para que serve. Fugiu de suas mentes o entendimento de que a
política não tem como ser negada sem sofrimento ainda maior, pois é
ela o único meio seguro e pacífico de intermediação dos conflitos
públicos. É a política a melhor ferramenta para a solução, sem
violência, da questão da divisão social dos recursos escassos. Sem
ela, como evitar graves confrontos entre os indivíduos e classes
sociais que necessitam desses recursos? O mero uso da força pode
muito, mas não pode tudo.
Todavia,
embora esmaecido, a noção de democracia não desapareceu
completamente da consciência das pessoas. Algo remanesce, incômodo,
mesmo no espíritos dos cidadãos mais desatinados que atenderam ao
canto de sereia da intervenção militar. A resistência encontra
explicação no fato de que a grande imprensa não é mais a única
voz da Ágora moderna.
Os
gregos clássicos nos deixaram de legado a Ágora como uma espécie
de interface entre os interesses privados e os públicos, forma
encontrada para que o coletivo não engolisse o privado e vice-versa.
Para os gregos a Ágora era uma espaço físico real no qual,
diretamente, os próprios cidadãos (por eles denominados de
“políticos”, eis a origem da palavra) exerciam o direito à voz
e ao voto para a escolha das ações do governo a serem produzidas.
Posteriormente, dado o aumento da complexidade social, passou a ser
uma realidade virtual e restou dividida em seus aspectos de voz e de
voto. A voz do cidadão – que é a Ágora propriamente dita – foi
intermedida passando a ser entendida como a “opinião pública”,
considerada como tal aquilo que é publicado pela imprensa. Seu voto
– a escolha final do cidadão – passou a ser indireto, utilizado
apenas para escolher o representante parlamentar que de fato irá
escolher a política pública prevalecente. Ainda que tenha passado a
ser assim, a “Ágora intermediada” não perdeu o poder de
influenciar a atuação dos representantes políticos em direção à
realização de uma suposta demanda pública. Claro que, tratando-se
de opinião reflexa e presumida, a nova Ágora intermediada é
permeada e contaminada pelos interesses de quem divulga a “opinião
pública”.
Afora
a imprensa, a principal alternativa para o cidadão exercitar a voz política
seria coletivamente, através de passeatas e outras manifestações
públicas, menos presentes e sempre mais difíceis de organizar.
Eis,
porém, que surge uma nova Ágora, ainda incipiente, que devolve ao
cidadão a voz política e faz ressurgir das cinzas sua capacidade de
influir politicamente: a massificação da internet e a consequente
pulverização da informação através de sites de notícia
independentes, blogs e redes sociais. Com seu potencial de esvaziar o
poder da Ágora intermediada de definir a pauta da discussão
pública, a nova Ágora – a internet – é considerada, por
aquela, como inimiga a ser combatida. Então, a grande mídia busca
criar a imagem falsa de que interesses políticos somente permeiam a
nova Ágora, como se não viciasse muito mais a própria atuação.
Não por outro motivo, um dos primeiros atos do governo golpista é
fazer cessar a propaganda estatal para a mídia digital independente,
embora mantendo e até aumentando a receita da mídia tradicional,
sua aliada.
Entretanto,
ainda que em menor expressão, a mídia digital independente alcança
amplos setores da população e torna públicos posicionamentos
políticos totalmente diversos daqueles que a mídia tradicional
representa. O mundo das manchetes dos grandes jornais é um mundo
muito diferente daquele que emana dos artigos e reportagens dos
jornalistas e blogueiros independentes. Sobre um mesmo tema, a mídia
majoritária fala de Marte e a alternativa, de Vênus. Essa ampla
diversidade na análise política provoca um curto-circuito na cabeça
do cidadão. As alternativas de visão de mundo são disparatadas
demais para que uma escolha seja produzida sem angústia e sem um
demorado e laborioso processo de reflexão.
A
escolha mais fácil parece ser colocar todos os políticos no mesmo balaio conceitual e posicionar-se em favor do regime que produz o menor
número de opções políticas: a ditadura. Sem preocupação com o
registro histórico sobre os modelos de rotina pública adotados
pós-implantação de regimes autoritários – que indefectivelmente
massacra e silencia os cidadãos – o cidadão desavisado se percebe
apoiando uma intervenção militar ou sua versão estilizada em
Bolsonaro.
Essa
é a explicação para a opção política pela intervenção militar
ou por Bolsonaro: a inércia cognitiva provocada pela dificuldade de
escolha. Isso aliado a uma boa dose de pusilanimidade moral. Quem escolhe o
militarismo ou Bolsonaro escolhe não ter escolhas. Escolhe ser
aprisionado em seus pensamentos. Escolhe o fim da democracia e o fim
da política. Escolhe silenciar, ou mesmo compactuar, frente às
iniquidades que virão inevitavelmente a partir da instalação de um
regime ditatorial fascista. Escolhe uma sociedade pautada pela
experiência da segregação aberta e despudorada que poderão emergir do sempre possível endurecimento do regime, com as facetas horrendas do racismo, da misoginia, da
homofobia, da xenofobia e do fim da liberdade religiosa.
De
modo nenhum quem clama pelo militarismo ou se declara eleitor do
Bolsonaro pode afirmar-se democrata, pois utiliza a liberdade
proporcionada pela democracia justamente para nela pôr fim e para
destruir as liberdades civis. A inclinação favorável ao
autoritarismo pode decorrer de más intenções, de sadismo, de
masoquismo, de pura crueldade, de ignorância, de algum tipo de
demência ou idiotia, mas, nunca, jamais pode ser creditada às
exigências éticas de um espírito democrata. Nada que está fora do conjunto faz parte dele. Portanto, a pretensão de fim da democracia não integra o conjunto dos elementos democráticos.
Curiosamente,
várias vivandeiras do militarismo repetem à exaustão, contra o
pensamento de esquerda, o bordão "não gosta do Brasil, vá
para Cuba ou para a Coreia do Norte", pretendendo com isso
produzir uma crítica ao autoritarismo de esquerda supostamente
praticado nesses países. Imaginam, talvez, que o autoritarismo de
direita, com o qual sonham, seja diferente e melhor do que o desses
países. São tolos. As primeiras vítimas do autoritarismo, de
esquerda ou de direita, em geral são, paradoxalmente, os apoiadores
de primeira hora.
É
necessário compreender que, dentre as possibilidades de regimes de
seleção de escolhas públicas, somente uma autoriza o cidadão a
voltar atrás em sua decisão: a democracia. O adepto do canto de
sereia da intervenção militar pode, hoje, afirmar que sua adesão
não significa que seja segregacionista ou a favor da extinção
dessa ou daquela liberdade. Contudo, ainda que se arrependa
futuramente da malsinada opção, não poderá expor suas opiniões
caso sobrevenha uma ditadura que estabeleça a iniquidade que diz repudiar. Após
a ditadura, cessa toda e qualquer possibilidade de mudança que não
venha pela resistência violenta ou pela mera vontade do ditador. A
partir da ditadura, ao povo somente restam duas opções: adesão ao
que vier, bom ou ruim, ou resistência. Como covardia, aderir à iniquidade e tentar sobreviver ou, como bravura, a ela resistir e aceitar morrer.
De
fato, um panorama no qual ficam mais claras as diferenças e,
portanto, mais simples o ato de escolher. No entanto, resta a cada um
que busca o caminho fácil da redução das escolhas a autoindagação
sobre se vale a pena conquistar essa facilidade, se ela nos torna
mais humanos, inteligentes e sensíveis, ou se, pelo contrário, nos
relega à condição de boi no gado ou formigas no formigueiro. Um perfeito sistema coletivo descerebrado.
Notas:
(1) Extraído
em 2 de maio de 2017, do site:
http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/270859/General-j%C3%A1-alerta-sobre-poss%C3%ADvel-interven%C3%A7%C3%A3o-militar.htm
(2) Extraído
em 2 de maio de 2017, do site:
http://www.jornaldaparaiba.com.br/politica/noticia/180921_bolsonaro-defende-porte-de-arma-para-todos-e-fuzil-contra-o-mst
(3) Extraído
em 2 de maio de 2017, do site:
http://exame.abril.com.br/brasil/piada-de-bolsonaro-sobre-sua-filha-gera-revolta-nas-redes-sociais/
Nenhum comentário :
Postar um comentário