D.
Canô, mãe do Caetano, sábia como jamais será o filho, disse, numa
epifania, que "felicidade é coisa pra quem tem coragem".
Jorge
Vercilo, encantado com a frase espontânea, dita num bate-papo
descontraído, aproveitou a deixa e fez uma canção sobre o tema,
não sem, honradamente, creditar a parceria com a velha senhora.
É
isso mesmo. Sabe tudo a matriarca dos Veloso.
Ser
feliz exige muita coragem. Coragem para assumir os próprios desejos
e correr atrás dos sonhos possíveis (sim, pois desejar o impossível
é passo firme e decidido em direção à infelicidade).
Coragem
para assumir que felicidade e sucesso pouco ou nada tem a ver com
capacidade aquisitiva ou acumulação de riqueza.
Coragem
para enfrentar, de cabeça erguida, os possíveis insucessos que
certamente ocorrerão pelo caminho.
Coragem
para lidar com as frustrações.
Coragem
para acreditar que o caminho a percorrer, e a maneira pela qual será
percorrido, é muito mais importante que o próprio destino tão
almejado.
O
ser humano por vezes se sente desprovido dessa coragem. Acaba
enredado nas teias pegajosas das expectativas alheias, esquecendo de
si e dos próprios anseios.
Faz
parte da natureza humana temer as incertezas e optar pelo caminho que
parece mais seguro. Há algo de sábio nisso, sem dúvida, mas
somente até onde essa segurança, que sempre é meramente física,
violente o espírito naquilo que lhe é mais caro, que é justamente
a vontade de felicidade.
Mil
vezes um aventureiro pobre, porém feliz, do que a segurança
proporcionada pelo ouro à custa de inesgotável melancolia.
Mil
vezes a autenticidade de uma cabeleira verde e arrepiada, quem sabe
num corte moicano, mas tudo desejado pelo dono da cabeleira, com a
coragem de enfrentar o bullyng que virá, senão diretamente, em
forma de ironias, sarcasmos e olhares atravessados, do que a caretice
imposta e não querida de um chanelzinho cujo único objetivo é
agradar pessoas que não pagam as suas contas e nem lhe fornecem um
ombro na hora da aflição.
Enfim,
felicidade é um produto que se compra com auto-conhecimento, com
saber dizer não e com a ciência de que os insucessos são apenas
parte da paisagem da estrada que se quis percorrer e foi percorrida.
Ao
fim e ao cabo, tentar, ainda que não se consiga, quase sempre
resultará em felicidade, ainda que pela satisfação de saber-se
corajoso.
Abrir
mão dos sonhos, dificilmente.
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