Que
intrépida pessoa não carrega em seu recôndito o terrível medo de
errar?
Qual,
desses corajosos, jamais temeu praticar o ato que, na verdade,
secretamente desejava?
Quem
nunca deixou de desfrutar a liberdade ao seu alcance, preferindo as
amarras da renúncia, pelo apavorante temor de sofrer ou, pior, fazer
sofrer?
Em
algum momento, todos temem prosseguir, todos temem o imponderável,
todos temem o erro.
Onde,
porém, está o erro? Onde está o acerto? Quem com certeza pode
dizer?
A
vida, grande ironia, não é a morada do correto e do acerto. A vida
é um castelo construído com as rochas dos equívocos unidas pela
argamassa das coincidências, sem as quais a existência sequer seria
possível.
A
evolução da vida é uma mera sucessão de erros que deram certo, de
genes que, duplicados de forma incorreta, deram ao ser imperfeito que
formaram uma vantagem em relação aos demais.
O
erro que se torna acerto; o vício transmutado em virtude; a
deformação estética que aos poucos se torna a própria definição
do belo.
Como
dizem os sábios, é na aflição, portanto no erro, que o ser humano
mais se desenvolve, mais aprende e com mais vontade supera as
dificuldades. Não se deve construir o erro, da mesma forma que não
se deve temer sua ocorrência.
Quando
se deixa de prosseguir nos caminhos que a vida apresenta, por temer o
erro, abre-se mão de dirigir a própria sorte e entrega-se o destino
à vontade alheia. Pode-se estar renunciando ao bom futuro, sem a
garantia de um agradável presente.
A
renúncia resultante do medo, tanto é capaz de provocar a sensação
de segurança num momento, como um profundo arrependimento no
seguinte. A opção pela renúncia deve ser precedida pelo conselho
da sabedoria.
Tanto
é parvo o que se entrega à paixão de qualquer insano desejo, como
o que sacrifica toda vontade por impedimentos imaginários.
Numa
dimensão de futuro sempre duvidoso, a própria renúncia pode vir a
se revelar um erro. O sofrimento futuro de alguém é apenas
possível, o pesar pelo passado de autossacrifícios revelados
inúteis é certo.
Justamente
porque se está vivo, jamais alguém logrará escapar do erro.
Temer
errar, portanto, significa temer viver.
Obs: A
tela é de Claude Monet - La promenade sur la falais
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