Se,
por um lado, repudio a ideia de que seja saudável adequar-me
perfeitamente às exigências de uma sociedade acerbamente doente,
por outro não encontro fascínio no isolamento asceta do eremita.
O
dilema que enfrento me leva a concluir que, embora a sociedade seja
um conjunto de indivíduos, ela acaba por ser muito maior do que a
soma de suas partes. O Leviatã é um ente cujo tamanho é superior
ao que justificaria o número de células que lhe dá forma.
O
valor de cada indivíduo não é somente menor no poder de
influenciar a pletora de regramento coletivo que oprime de forma
geral os demais indivíduos, mas igualmente menor no desejo de
oprimir os desejos do próximo.
O
vigor da opressão do coletivo, assim, é inexplicavelmente maior do
que deveria ser pelo mero atendimento à expressão da vontade
coletiva de opressão.
Significa
que, coletivamente, de forma organizada ou não, os indivíduos são
piores do que seriam de forma isolada. Dois indivíduos prendem o
ladrão, cinquenta o lincham.
Contudo,
como o indivíduo tende a ser mais leniente com quem lhe é próximo,
ser na sociedade é opressivo, ao mesmo tempo que, paradoxalmente,
ser com o próximo é prazeroso.
Além
disso, sinto que minha consciência não é una e isolada em minha
mente, mas o resultado de uma soma com as consciências à minha
volta. Por essa razão, sinto-me uma pessoa melhor quando cercado
pelos que amo. Eles são parte relevante do que sou. Contudo, eu
mesmo e também os que amo somos parte do coletivo que repudio.
Eis
a armadilha: como posso ser melhor integrando o mesmo coletivo que,
pela violência da opressão, me torna pior?
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