domingo, 22 de fevereiro de 2015

Armadilha conceitual


Encontro-me preso numa armadilha conceitual.
Se, por um lado, repudio a ideia de que seja saudável adequar-me perfeitamente às exigências de uma sociedade acerbamente doente, por outro não encontro fascínio no isolamento asceta do eremita.
O dilema que enfrento me leva a concluir que, embora a sociedade seja um conjunto de indivíduos, ela acaba por ser muito maior do que a soma de suas partes. O Leviatã é um ente cujo tamanho é superior ao que justificaria o número de células que lhe dá forma.
O valor de cada indivíduo não é somente menor no poder de influenciar a pletora de regramento coletivo que oprime de forma geral os demais indivíduos, mas igualmente menor no desejo de oprimir os desejos do próximo.
O vigor da opressão do coletivo, assim, é inexplicavelmente maior do que deveria ser pelo mero atendimento à expressão da vontade coletiva de opressão.
Significa que, coletivamente, de forma organizada ou não, os indivíduos são piores do que seriam de forma isolada. Dois indivíduos prendem o ladrão, cinquenta o lincham.
Contudo, como o indivíduo tende a ser mais leniente com quem lhe é próximo, ser na sociedade é opressivo, ao mesmo tempo que, paradoxalmente, ser com o próximo é prazeroso.
Além disso, sinto que minha consciência não é una e isolada em minha mente, mas o resultado de uma soma com as consciências à minha volta. Por essa razão, sinto-me uma pessoa melhor quando cercado pelos que amo. Eles são parte relevante do que sou. Contudo, eu mesmo e também os que amo somos parte do coletivo que repudio.
Eis a armadilha: como posso ser melhor integrando o mesmo coletivo que, pela violência da opressão, me torna pior?

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