Ao final do texto, disponibilizado o link para o texto de Luis Fernando Veríssimo, originalmente publicado no jornal O Globo, mas reproduzido no site do GGN, que inspirou esse
meu texto. Sempre vale a pena ler Veríssimo.
No texto,
Veríssimo nos fala sobre a importância de analisar a situação
política atual com uma visão de longo prazo ou, como ele denomina,
sob uma perspectiva de "contexto maior".
Veríssimo,
como sempre, um sábio. Curioso é alguém tentar desmerecer a
erudição evidente dele. Talvez haja um quê de inveja nesse desdém.
E, desde logo, é bom esclarecer que erudição e sapiência não
estão relacionadas e que uma não é condição necessária da
outra, mas Veríssimo detém ambas as qualidades.
Quanto
à visão de longa duração, o contexto maior de Veríssimo, é
absolutamente necessária para que saibamos escolher nossas boas
batalhas. Infelizmente,há em geral uma clara opção, da parcela
mais afortunada de nossa sociedade, da visão de curtíssimo prazo,
além de dificuldade em relacionar assuntos e interesses que, num
primeiro momento, aparentam não ser coincidentes, como a pauta das
manchetes da imprensa e a luta pelo poder de verdade (poder de
verdade, repito e enfatizo).
Por
conta dessa característica, certamente um elemento cultural
ancestral, algumas coisas simplesmente não são vistas e, ainda que
comunicada por um observador mais atento, são levadas à conta de
inacreditáveis.
Assim,
não adianta falar em um projeto político de habilitação
econômica, educacional e cultural de uma considerável parcela da
população, projeto esse que causa o desconforto que conduz o stablishment a combatê-lo ferozmente. Isso não é captado, sendo
classificada jocosamente de teoria da conspiração.
Não
se percebe que a conspiração é totalmente desnecessária, pois há
uma ideologia comum estabelecida que serve como convergência natural
de entendimentos e comportamentos.
Quando
se fala em números e estatísticas de fontes confiáveis que revelam
avanços, a reação vem em forma de discursos de manipulação e
incredulidade. Por outro lado, qualquer acusação, por mais
inacreditável que seja, é aceita a partir de argumentos de senso
comum. Funciona assim: se todos os jornais dizem que Lula é
corrupto, a notícia de que Lulinha é dono da Friboi é verdadeira e
não importa a apresentação de provas em contrário.
Inversamente,
esse mesmo senso comum idiota (na acepção original da palavra)
induz à descrença de que os projetos em andamento, que fomentam o
desenvolvimento social e que, por isso mesmo, remetem a resultados em
médio prazo - dez, vinte anos -, tais como bolsa-família, Prouni,
Fies e tantos outros, nada disso importa em comparação com as
manchetes diuturnas sobre corrupção.
E
não adianta falar em corrupção sistêmica, que esteve em todos os
governos (inclusive no do sociólogo), em avanço fenomenal no
combate à corrupção, na liberdade de atuação da Polícia
Federal, da Procuradoria e da Justiça, que finalmente estão levando
criminosos poderosos, pela primeira vez nessa magnitudade, à cadeia.
É perda de tempo falar que há um interesse geo-político em relação
ao petróleo, que já justificou uma invasão a um país soberano,
como o Iraque, para o controle de sua economia, e que pode explicar o
que estão fazendo agora com a Petrobras. Não invadem o Brasil
porque o Brasil não é o Iraque. Aqui a abordagem é diferente: a
guerra é underground, quem age são os assassinos econômicos,
através da manipulação de biografias e da corrupção do mercado.
Para alguns, nada disso importa, só o senso comum produzido pelas
manchetes.
Contexto
maior? Piada. A visão é estreita, não chega à esquina.
Assim
como tivemos que aguardar um operário chegar à presidência para
este país começar a mudar onde efetivamente importa, coisa que os
vários presidentes acadêmicos antes dele não conseguiram, tomara
os pobres, sem educação formal, na sua simples condição de
eleitores, continuem a nos iluminar com a sabedoria popular e a
realizar o que os formados em faculdade não conseguem: enxergar a
ligação entre o imediato e o futuro, isso que é o contexto maior
de que nos fala Veríssimo.
Nenhum comentário :
Postar um comentário