A
República da Guiné Equatorial é um país localizado na porção
centro-atlântica da África, com cerca de vinte e oito mil
quilômetros quadrados, população de seiscentos mil habitantes e
PIB de de quinze bilhões de dólares, ou seja, a área de Alagoas,
com a população do Amapá e o PIB do Rio Grande do Norte.
Até
pouco antes do ano 2000, a economia da Guiné era, basicamente,
focada na exportação de cacau, café e madeira. A partir daí,
ganhou relevo substancial a exploração de petróleo. Até 1778 era
uma colônia portuguesa e, a partir daí, passou ao domínio
espanhol, somente alcançando independência em 1968.
Alcançada
a independência, a Guiné esteve, por dez anos, sob o comando do
ditador Francisco Nguema, que é apontado como responsável por
assassinar milhares de opositores.
Nguema foi deposto, e logo a seguir condenado à morte, por seu sobrinho, Teodoro Obiang Nguema (foto). Obiang, que hoje conta setenta e dois anos, sucedeu o tio quando tinha cerca de quarenta e está no poder desde então, há mais de trinta anos, sempre eleito para mandatos presidenciais de sete anos, com votações que beiram os noventa e cinco por cento do eleitorado.
Nguema foi deposto, e logo a seguir condenado à morte, por seu sobrinho, Teodoro Obiang Nguema (foto). Obiang, que hoje conta setenta e dois anos, sucedeu o tio quando tinha cerca de quarenta e está no poder desde então, há mais de trinta anos, sempre eleito para mandatos presidenciais de sete anos, com votações que beiram os noventa e cinco por cento do eleitorado.
Seu
partido detém noventa e nove por cento das cadeiras parlamentares.
Um tremendo sucesso político.
Os
políticos de oposição estão no exílio, no ostracismo ou mortos.
Como
a maioria dos ditadores, Obiang estimula e pratica o culto à sua
personalidade e, como sói acontecer com outros tiranos, é exemplo
de pessoa riquíssima num pais miserável. De fato, embora a Guiné
Equatorial seja um dos países mais pobres do mundo, a revista Forbes
apontou Obiang como o oitavo governante mais rico do mundo.
A
organização americana Freedom House, que faz pesquisas sobre
direitos humanos e democracia, classifica a Guiné em péssima
colocação em matéria de direitos políticos e civis. A grande
maioria da população não possui acesso a estruturas de água e
saneamento básica, a mortalidade infantil é altíssima. Não existe
praticamente nenhuma dúvida de que a Guiné está submetida a um
regime político de tirania e opressão.
Esse
é o quadro político que se apresenta no país que serviu de enredo
e foi exaltado pela Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis,
declarada a campeã do carnaval carioca de 2015. Segundo consta, a
escola de samba teria recebido dez milhões de reais como incentivo à
exaltação do país de miseráveis submetidos a uma tirania e cujo
presidente, um ditador de fato, é tido por uma das pessoas mais
ricas do mundo.
O
sobrinho do ditador compareceu ao carnaval carioca para testemunhar o
sucesso do investimento. Ditadores não confiam em ninguém, pelo
visto. A escola admite ter recebido uma verba, mas não informa o
valor. Na verdade, isso não é importante. O fato da escola ter
aceitado a... hum... “gorjeta” do déspota e feito o proselitismo
da opressão nem surpreende tanto, se pensarmos que, afinal, é
notória a relação de muitas escolas de samba com a marginalidade,
não é mesmo, “bicho”?
O
que surpreende é que um júri formado em grande parte por artistas e
pessoas com boa cultura, que certamente conhecem os valores
humanistas do Iluminismo, que provavelmente valorizam a democracia e
defendem os direitos humanos, a liberdade, a fraternidade e a
igualdade, não tenham tido, nessa condição, a sensibilidade de não
premiar o mau-gosto da escolha. No caso, o que menos deveria ter
importado para esses jurados era analisar a perfeição do desfile
feito pela Beija-Flor. Importante, aqui, deveria ter sido a mensagem
passada para os brasileiros e para os guineenses - de exaltação do
descalabro democrático, da usurpação da riqueza e da tirania - e o
potencial uso malévolo dessa conquista beija-floriana pelos
políticos da Guiné como ferramenta de fortalecimento de uma
ditadura prolongada.
Ainda
que pensado sob uma perspectiva meramente interna, para a política
brasileira, louvar a vitória da mensagem trazida à avenida pela
Beija-Flor é completamente sem sentido se considerado um momento
político no qual os brasileiros são instigados pela grande
imprensa, de forma visceral, histérica e irracional, a odiar um
determinado partido político justamente sob a pecha de partido mais
corrupto da história do mundo. Vá entender! Aparentemente o que é
bom para a Guiné não é bom para o Brasil, ou vice-versa.
A
letra do samba-enredo não poderia ser mais hipócrita. Diz a
Beija-Flor, em sua vil exaltação àquele país, que, na Guiné
“nego clama liberdade” e que “a chama da igualdade não se
apaga”, referindo-se a inimigos externos. Isso em relação a um
país que, desde sua independência, há mais de quarenta anos, foi
governado por apenas dois presidentes, tio e sobrinho, cujo poder foi
e é mantido através do silenciamento da oposição, inclusive com
assassinatos e que, através do medo, espoliam a riqueza nacional
para benefício próprio, sem compadecimento pela miséria do povo.
O
inimigo dos guineenses, obviamente, mora lá mesmo e, pelo visto, se
“nego” quiser continuar a clamar por liberdade e igualdade, deve
torcer o nariz para o que diz a letra do samba de uma certa
agremiação brasileira.
Lamentavelmente,
o carnaval carioca desse ano abandonou a alegria e decidiu premiar a
covardia.
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