Gostaria
muito de acreditar que estamos nos aproximando do fundo do poço,
momento que forçaria a composição das forças políticas
adversárias como meio de salvação geral. A ideia de que as
hecatombes são unificadoras é óbvia. O ser humano sempre se une na
tragédia. Um dos maiores avanços civilizatórios jamais
testemunhados na face da Terra, senão o maior, ocorreu logo após o
encerramento de duas de nossas maiores barbaridades: as grandes guerras
mundiais que mantiveram o mundo em suspenso durante meio século.
Na
mitigação do lucro insano, a humanidade desabrochou e floresceu
como nunca dantes. Nascia a preocupação social com sua política de
bem-estar. Época dos baby boomers, dos Trinta Gloriosos da França e
até dos cinquenta anos em cinco de JK. Os poderosos descobriram que
um mundo menos indigno era melhor para os negócios... mas isso durou
um espirro histórico, uns quarenta anos, logo esqueceram e
retornaram à ciranda da loucura financeira. Por paradoxal que seja,
o boom civilizatório pós-Segunda Guerra e o atual caos político
brasileiro possuem algo em comum, ainda que em sentidos inversos: o
medo da esquerda. Explico.