“Esqueça-se
a responsabilidade social e política da mídia, o compromisso com
fatos e valores democráticos, e fixemo-nos apenas no vetor
negócios”.
O
jornalista Luís Nassif invoca a reflexão acima no artigo “A
Lava Jato e o desmonte da credibilidade da mídia”,
publicado no jornal GGN. Nele, aborda-se a questão da perda, pela
grande mídia, em meros quatro anos, de quase 70% dos leitores,
agudizando um fato que já vinha antes, de modo mais lento, se
desenvolvendo consistentemente. Segundo a inteligência da matéria,
o súbito incremento da velocidade da queda se explicaria, com alto
grau de certeza, pelo alinhamento acrítico e, portanto, dolosamente
irresponsável, dos “jornalões” às ações ilícitas cometidas
pela operação lava jato. A partir daí, a debandada dos leitores
tornou-se uma avalanche montanha de credibilidade abaixo.
O
presente texto objetiva responder à provocação de Nassif, ou seja,
refletir sobre as motivações subjacentes de alguns poderosos
empresários brasileiros que parecem gastar mais energia com questões
políticas menores (pois nada há mais importante e emergente do que
combater a miséria, a fome e, principalmente nesse momento
histórico, fornecer saúde pública em quantidade e qualidade) do
que com o sucesso dos próprios negócios. Embora Nassif tenha mirado
nos donos da grande mídia, porque, claro, são os que mais se expõem
justamente em função da atividade que desenvolvem, o mesmo espanto
reflexivo, porém, deve ser direcionado aos demais membros da elite
empresária brasileira, nossos bilionários, pois praticam ações
similares com idênticos móveis subjacentes. É espantoso verificar
que, embora reconhecendo o inegável direito da elite empresária
possuir posicionamento político explícito, muitas gestores
demonstram despreocupação com o dever de zelo pelo próprio
empreendimento e, conforme o caso, pelo compromisso que tem com os
acionistas na obtenção de lucro. Em lugar de guardar um
distanciamento seguro dos posicionamentos políticos de alta
controvérsia, emanados das diversas cores do espectro político,
social e partidário, dos cidadãos, atiram-se de cabeça na guerra
política, assumindo alinhamentos que se opõem, não somente ao
pensamento, mas a interesses e necessidades de milhões e milhões de
brasileiros e brasileiras, de todas as etnias, gêneros, credos e
inclinações. Agindo assim, correm o risco de contrariar o principal
objetivo empresarial, a razão de ser do próprio negócio, que é
arregimentar o maior número possível de clientes. Alguns já foram
alvos de boicotes explícitos dos consumidores.