segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Derrota e fuga de Bolsonaro: que sonho incrível!

A ascensão do bolsonarismo ao poder foi a coisa mais deletéria a acontecer com o país desde a ditadura militar. Num país que vinha, desde o governo Collor, aos poucos se afirmando perante o mundo e se colocando como modelo em termos de respeito às instituições democráticas, nas pautas igualitárias, na gestão dos recursos ambientais e na mitigação da desigualdade social, a eleição de um representante do pensamento protofascista bolsonariano foi um balde de água fria e uma frustração política gigantesca.

O representante máximo do bolsonarismo, ora presidente, é uma figura política grotesca que dificilmente encontra comparação no Brasil e no mundo. Seu pensamento é medieval, absolutista. Contra o Estado laico1, defende a prevalência da visão religiosa também no plano político. Essa visão teocrática, dogmática e indiscutível por natureza, é exatamente o que ocorria no passado e ainda ocorre atualmente, como são exemplo os países muçulmanos.

O pensamento bolsonariano é, antes de tudo, em sua essência, antidemocrático. A vida toda Bolsonaro pregou que, eleito presidente, daria um golpe no dia seguinte, fechando Congresso e Supremo, os dois outros poderes da república. Em outras palavras, tornaria-se um ditador. Por isso mesmo, nenhum eleitor do bolsonarismo pode afirmar-se democrata, pois se utiliza da democracia apenas para a ela pôr fim, destruindo as liberdades civis.

Embora tenha se tornado um certo lugar-comum, não há como falar da ameaça bolsonarista sem indicar o nazismo alemão como exemplo das possibilidades. Afial, trata-se do mais importante modelo histórico negativo do que pode decorrer da omissão ou pouco-caso de cidadãos e eleitores com políticos de orientação despótica que manejam o discurso moralista cristão para alavancar seus projetos de dominação. Hitler e o nazismo não teriam matado milhões de judeus, ciganos, homossexuais e outras minorias políticas se os alemães brancos e cristãos tivessem repudiado, desde o nascedouro, essa excrescência política. Em seu livro autobiográfico, escreveu Hitler2:

domingo, 21 de agosto de 2022

Invasão da Ucrânia, guerras híbridas e o retorno da guerra fria

 

Immanuel Wallerstein, sociólogo norte-americano autor do livro O Declínio do Império Americano, sustenta que a sociedade humana está no limiar de uma profunda alteração no modelo de sociedade. Segundo ele, há um esgotamento do modelo capitalista, o que conduzirá a humanidade a uma encruzilhada na qual deverá optar por um novo modelo, aparentemente com duas alternativas: (a) retorno ao regime de poder centralizado e excludente similar às monarquias absolutas e seus estamentos hereditários; ou (b) criação de uma sociedade focada na dignidade humana, com redução das diversas desigualdades (econômica, cultural, racial, sexual, etc). A primeira opção de sociedade será adotada se a narrativa dos ricos for vitoriosa, o que Wallerstein denomina de “espírito de Davos”. Caso os pobres vençam essa guerra, estabelecendo as bases ideológicas da nova sociedade, será a vitória do “espírito de Porto Alegre”. Em outras palavras, trata-se de uma guerra que poderá definir a ascensão de um modelo de sistema social opressivo, tipo medieval, ou de um sistema libertário, inovador, sem paralelos na história.

A guerra em direção à mudança do modelo socioeconômico já se iniciou há tempos, supostamente desde a derrubada das torres gêmeas americanas, em 2001. São exemplos de batalhas narrativas as primaveras árabes, as jornadas de junho de 2013, a operação Lava Jato e, agora, a invasão da Ucrânia, dentre inúmeras outras. É chamada de guerra híbrida porque, embora possa ocorrer o uso de forças armadas convencionais e seus indefectíveis armamentos, sua maior arma não são os mísseis balísticos, mas a desinformação, a distorção dos fatos, o uso da pós-verdade. O objetivo é a manipulação do pensamento de todo um povo, conduzindo-o, não somente a aceitar, mas a desejar uma mudança que lhe é desfavorável, sendo benéfica apenas ao capital.