quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Os “puxadinhos” éticos que sustentam Bolsonaro


Bolsonaro compareceu à Assembleia Geral da ONU como o único governante dos países do G20 que confessadamente não tomou vacina contra o coronavírus. Uma vergonha que manchará a história do Brasil. Não fosse presidente do Brasil, ele sequer desembarcaria em Nova Iorque, sede da ONU. A cidade exige comprovante de vacinação para o ingresso em todos os espaços fechados, como museus, bibliotecas e teatros. Claro, não seria isso que perturbaria Bolsonaro. É impensável imaginá-lo contrariado por ser impedido de visitar ambientes culturais como esses. A falta de acesso às coisas mais mundanas e superficiais é que de fato o aborrece. Coisas como não poder fazer o que quiser, como quiser e quando quiser ou, mais pateticamente, ser impedido de entrar no restaurante de sua escolha. Em Nova Iorque a lei exige o comprovante também para entrar em restaurantes. Como resolver isso? Afinal, ele e sua comitiva precisam comer. Problema resolvido: basta se sujeitar a consumir qualquer coisa que encontre disponível pela frente, como fazem ratos e baratas, por exemplo, e ainda alardear que faz isso por humildade. É mentira, todos sabemos, mas também sabemos que ele nunca se importou em assumir compromissos sérios num dia e descumpri-lo no dia seguinte, com a cara mais lavada do mundo. “Eu nunca fui contra a vacina”, já disse, sem nem piscar os olhos.

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

O discernimento quanto à natureza do bem é intuitivo


    Uma pedra não possui noção alguma sobre a natureza do bem ou do mal. Na verdade, é completamente inerte quanto à apreensão da realidade. Para tal, dependeria do desenvolvimento de terminais nervosos que conduzissem as informações obtidas junto ao mundo à sua volta para uma central capaz de receber esses dados e com elas produzir uma imagem do cenário no qual se encontra, com todas as suas nuances de dimensões, luz, som, aroma, sabor e textura. Essa central nervosa é chamada de cérebro.

    O cérebro, porém, encontra-se fechado numa pequena caixa óssea e não é testemunha direta de nenhum acontecimento fora dela. Para isso depende das informações obtidas pelos terminais nervosos, que são carregadas até o cérebro e, através de processos eletroquímicos, transforma-se na imagem, no som, na textura, no cheiro, na dor e no prazer que sentimos. Em teoria, um cérebro sem corpo, trancado numa caixa, terá as mesmas experiências vívidas da realidade desde que receba impulsos eletroquímicos iguais aos que adviriam diretamente dos sentidos. Isso significa que, desde que receba os impulsos adequados, o cérebro não distingue entre a realidade real e a virtual e pode ser enganado, conduzindo o indivíduo a acreditar em algo que, de fato, não existe. O tema foi abordado no filme Matrix, no qual o personagem acorda e se dá conta de que passou a vida trancado num casulo de metal e acrílico, recebendo impulsos elétricos de um computador. Tudo o que acreditou ser sua vida, desde o nascimento, era uma criação da inteligência artificial.

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Conceitos-chave para a interpretação da realidade, parte II

 

Esta é a nona parte da série “Indivíduo, sociedade e a interpretação da realidade”. Os textos possuem um encadeamento lógico, porém permitem a leitura autônoma. Os links para os que desejarem a leitura das oito primeiras partes estão disponibilizados no final do artigo.

  • Elite

Para os efeitos do presente trabalho, o importante conceito de elite não significará, exatamente, a classe alta ou rica, mas aquela verdadeiramente dominante, composta dos poderosos detentores de expressivo poder econômico, cultural e, portanto, político. A palavra buscará definir a pequeníssima amostra de pessoas, inferior ao centésimo superior da pirâmide social (1%), que efetivamente domina o planeta, os donos das corporações, comandantes dos CEO’s e criadores de dirigentes das nações. É um tanto difícil apreender esse sentido, pois, como bem nos alertou Thomas Piketty1, a desigualdade de renda e riqueza não é um abismo que exista apenas entre pobres e ricos, mas que separa pobres de mais pobres (miseráveis) e ricos de mais ricos (bilionários).

Numa população de oito bilhões de pessoas, o centésimo corresponderá a oitenta milhões de pessoas. Será nesse recorte populacional que se encontrarão os verdadeiros imperadores mundiais, os que determinam as políticas nacionais e internacionais; que (a) como soberanos do poder privado, nomeiam os presidentes das corporações e grandes empresas; (b) no setor público, deturpando o real sentido de democracia e res publica (coisa pública), usam de toda a sua força econômica para colocar no poder, democraticamente ou não, os parlamentares e os chefes de estado que lhes apetecem; (c) através do quase total controle do poder privado e também do público, rapinam o máximo possível da riqueza do planeta e da humanidade, direcionando-a para os próprios bolsos (corrupção legal).