segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Feliz natal, feliz ano novo


Ouço por vez pessoas maldizendo os festejos de datas como o Natal e Ano Novo e pergunto-me por que essas pessoas não gostam dessas datas.
Realmente não sei a resposta, mas preciso admitir que, tempos atrás, também não gostava de Natal e Ano Novo. E qual era mesmo desculpa que utilizava, então, para afirmar meu descontentamento? Ah, claro, era um chavão:
O Natal e o Ano Novo são datas impostas pelos donos do capital internacional como um meio de incrementar o comércio e com isso obter ainda maiores lucros. É um engodo sentimental que somente pode interessar aos lobos capitalistas”.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Querido Papai Noel


Querido Papai Noel,
Creio ter sido uma boa pessoa durante esse ano. Não matei, não feri, não roubei, fui dedicado e carinhoso à minha esposa e minhas filhas. Tratei meus amigos com consideração e afeto.
De um modo geral, procurei ser tolerante com o próximo (bom, tive vontade de socar aquele estúpido que me deu uma “fechada” assassina no trânsito, mas limitei-me a abaixar o vidro, pôr a cabeça pra fora e xingar a pobre da mãe do desinfeliz... foi mal, Papai Noel).
Bem, tirando isso, acho que fiz por merecer um presente seu, meu bom velhinho. Então, pensei longamente sobre o tipo de presente que gostaria de receber. Você sabe bem, velho Noel, pelas cartas que te enviei, que quando mais jovem desejava presentes caros e modernosos, mas você jamais atendeu meus desejos (como diria o Pernalonga, o que é que há, velhinho? Magoei). Mais experiente um pouco, até recebi alguns, mas aí o encantamento já havia cessado.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Para que servem as palavras?


Para que servem as palavras?
Segundo Leibniz são duas as suas utilidades. Uma é falar a nós mesmos, organizando nossos pensamentos e auxiliando nossas memórias. A outra é comunicar nossos pensamentos para as outras pessoas.
Quando falamos conosco mesmos as palavras são perfeitas, pois sabemos exatamente o que quisemos dizer com cada uma delas. Nós entendemos a nós mesmos perfeitamente.
Contudo, quando transmitimos nossos pensamentos para as outras pessoas as palavras são imperfeitas, pois nem sempre conseguimos comunicar exatamente o que pensamos. Acontece das pessoas interpretarem as palavras com um significado que a elas não imprimimos em nossas mensagens.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Amor: derivação por extensão de sentido


Costumamos pensar que o amor significa muito. E é verdade, significa mesmo.
A consulta a um dicionário revela que a palavra amor significa muito mais do que se imagina. São mais de trinta significados diferentes para um mesmo sentimento. E deve-se admitir que nenhum deles pode estar correto. Afinal, amar, por ser infinito sentimento de bem-querer, não pode estar preso a um signo de simbologia limitada; é necessariamente difuso, universal.
Amar é livre expressão de sentimento. Amar não é prender-se a um determinado conceito; é libertar-se de qualquer amarra. É por isso que afirmamos amar o ser que desejamos sexualmente, mas não desejamos sexualmente o filho que amamos. É porque amor não é sexo, embora o sexo possa estar no amor.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Meu paraíso




Quanto tempo em nossas vidas perdemos imaginando como ela deveria ser ao invés de aceitá-la como é? Quantos os dissabores lutando batalhas de futilidades, de insignificâncias? Queremos tanto enxergar um determinado mundo imaginário, sofregamente ambicionado, que nos cegamos para o mundo real. Às vezes, recusamos aceitar que o mundo real é, na verdade, o mundo de nossos sonhos. Um mundo que custa enxergar porque, atarantados em busca de inconcretas vaidades, sequer lembramos que temos algo inefável em nosso espírito, uma visão especial que permite vislumbrá-lo: o olhar da emoção. É ela a única que expõe por inteiro a verdadeira natureza das coisas, das pessoas, de tudo que nos cerca. Somente as coisas que emocionam realmente existem, tudo o mais é ilusão ou mentira. E se alguém não se emociona com nada e nada lhe toca o coração, a própria irrelevância a torna inexistente, porque existir sem sentimento é como não existir.

sábado, 27 de novembro de 2010

Fumar, nem em festa de casamento



Tempos atrás, uma notícia de jornal informava que o Tribunal de Justiça de São Paulo teria revogado uma liminar, concedida por juiz de primeiro grau, em favor de noivos que visavam isenção de cumprimento da lei antifumo em festa de casamento por considerarem que, tendo alugado o salão para casamento, este seria uma extensão de sua residência. O desembargador que revogou a liminar, e aplicou uma restrição a uma festa particular, entendeu que não haveria amparo legal para considerar um salão de festas como extensão da residência dos locadores.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Carta para minha amiga



Minha querida amiga,
Contaram-me sobre sua crise nervosa. Entristeceu-me, pois tenho carinho por você e sei que algo dessa espécie não ocorre com ninguém gratuitamente. É reflexo de algo muito intenso que a pessoa carrega dentro de si. Significa que a pessoa sofre. E a gente se entristece quando sabe do sofrimento de alguém por quem nutrimos carinho. E mesmo amigos próximos às vezes não sabem como lidar com situações extremas vivenciadas pelo amigo que sofre. Ficam sem saber bem o que fazer para ajudar. Não sabem se a pessoa, conturbada pela vivência da aflição, quer aproximação ou distância. Há sofredores que necessitam muito falar. Há os que, pelo contrário, queiram calar. Quem ama e sabe da dor do amigo quer muito fazer algo, mas eis que surge o receio de, ao invés de ajudar, agravar o que já não é pequeno.

domingo, 21 de novembro de 2010

Lei Universal da Responsabilidade Política


Sugiro a seguinte Lei Universal de Responsabilidade Política:
Artigo 1º. Toda pessoa, de qualquer nação do mundo, para ocupar qualquer mandato político, deve abdicar completamente do direito a sigilo de qualquer espécie sobre a própria vida particular e de seu cônjuge, disponibilizando publicamente seus dados bancários, cartorários, fiscais, fundiários, financeiros, além de outros que digam respeito aos seus antecedentes pessoais cíveis e criminais, bem como aos bens que possua.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O bem e o mal



Ninguém sabe exatamente o que é a vida. Ninguém sabe exatamente o que é a morte. Ninguém sabe sequer se vida e morte existem de fato. Tudo pode não passar de ilusão, de ficção. Essa ideia, aliás, foi explorada no filme Matrix.
Vamos supor, todavia, que tudo que nos cerca não seja uma miragem e exista de fato. Pense bem: todos os átomos que o compõem sempre estiveram aqui. Você, no que diz respeito à matéria que compõe seu corpo, é eterno. Quando Carl Sagan dizia que somos feitos de pó de estrelas era exatamente isso que ele pretendia afirmar, a nossa imortalidade material. Por algum motivo inexplicável, certo dia átomos que se encontravam dispersos se juntaram, formaram um corpo e ganharam algo intangível chamado “consciência”. Antes de um corpo se formar, essa consciência não existia ou não podia interagir com o mundo. Depois da morte do corpo, quando os átomos voltam a se separar, a consciência novamente deixa de existir ou de interagir com o mundo.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Palavras, nomes e o politicamente correto



É curiosa essa inclinação que certas pessoas possuem a imaginar que basta uma modificação no nome das coisas para que elas melhorem.
Certa época de minha vida, durante quatro anos, fui policial civil e era batata: toda vez que um novo Secretário de Segurança Pública assumia, os departamentos mudavam de nome ou de sigla. Comecei trabalhando na Seção de Atividades Cartorárias, cuja sigla era SAC. Tempos depois, com a mudança do Secretário, a sala em que trabalhava continuava a mesma zona mas a seção virou Setor de Cartório, SeC, assim mesmo, com a vogal “e” em minúscula, cujo profundo significado escapou-me completamente. É que não fiz MBA em Administração Pública. Por fim, se não me falha a memória, transmutou-se o setor em Setor de Cartório Legal que Funciona de Verdade, SCLFV, ou algo assim. Brincadeirinha.

sábado, 6 de novembro de 2010

A mentira, o voto no PT e a elite intelectualizada



Durante a campanha eleitoral de 2010, li um artigo da Agência Estado, assinado pelas jornalistas Anne Wrth e Ana Conceição, cujo título é, segundo penso, simplesmente ridículo: "Como o senhor rei mandar...".
O título pretendia sugerir que os eleitores do PT são ignorantes que respondem com seus votos ao simples clientelismo.
A análise, contudo, de nossa história recente, talvez de uns 20 anos para cá, dá conta de que os eleitores de esquerda, o que inclui maciçamente os do PT, integram a parcela mais politizada e esclarecida do país.

Amizade: substantivo feminino


Amizade é o mistério que torna possível um perfeito entendimento entre pessoas por vezes completamente diferentes.
É a unidade que se forma por afinidade e que leva as pessoas a se atraírem e se relacionarem.
Amizade nada tem a ver com sexo ou com laços de sangue, mas nem o sexo, nem o parentesco, a impedem. Casais realmente felizes são, antes de tudo, amigos, assim como irmãos podem, e na verdade devem, ser amigos.
Amizade é essa intensa afeição que sentimos por alguém e que nos enleva o espírito. Amizade é ter simpatia e apreço infinitos pelo amigo e, na verdade, os elos que formam a corrente da amizade são forjados justamente desses imensos e inexplicáveis afetos recíprocos que existem entre os amigos.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A fé e a navalha do barbeiro


Tudo que fazemos na vida é porque temos fé. Isso se aplica a todas as pessoas, inclusive aos ateus e a Richard Dawkins. Não estou, claro, falando da fé religiosa, baseada na revelação. Refiro-me àquela convicção íntima que temos acerca da existência das coisas e de como ocorrem e se sucedem no tempo e no espaço.
Diariamente apostamos nossas próprias vidas nesse jogo da fé. Acreditamos, por exemplo, que podemos avançar, de forma segura, o sinal verde a sessenta quilômetros por hora ou mais e que nenhum doido irá ignorar o sinal que para ele está vermelho e nos abalroar. Pura fé.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O cidadão comum e a História que passa diante dos olhos


É bastante interessante analisar alguns aspectos vinculados ao desenrolar da História.
A imensa maioria das pessoas do povo, na condição de meros figurantes nesse palco, nem se dá conta de que participa da história viva que, tempos depois, será narrada em livros para as futuras gerações.
Quando se estuda a Revolução Francesa, por exemplo, pensa-se em seus aspectos mais simbólicos, como a ascensão de uma nova forma de pensar a sociedade, com mais liberdade, participação política do cidadão comum e interesse pelos direitos do ser humano, e em como esse simbolismo culminou por ser irradiado para todos os governos ocidentais, com suas constituições garantindo, de uma forma ou de outra, a igualdade, a fraternidade e a liberdade perseguida pelos revolucionários franceses.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Para o bem geral, política e religião não se misturam


O ser humano é naturalmente gregário e, mesmo antes do surgimento da fala, havia se habituado a viver em sociedade.
Australopitecos viviam em bandos estratificados por uma tênue organização do tecido social, que possuía um chefe, assim como hoje é observado em grandes primatas, como os chimpanzés.
Entre os chimpanzés há um líder do bando, o macho alfa (chefe), que é apoiado por um segmento de outros machos do bando (soldados), que o auxiliam a impôr sua liderança aos demais membros (cidadãos). Aos chimpanzés cidadãos resta apenas a responsabilidade pela criação dos filhotes, catação e extrativismo.

sábado, 23 de outubro de 2010

Carta para os meus vizinhos



Caros vizinhos, bom dia. Meu nome é Marcio e minha esposa se chama Luciana. Nossa família, nós e mais duas filhas, estamos residindo aqui nessa rua há pouco mais de um ano.
Conversando com minha esposa, estranhávamos o fato de, pela primeira vez em vinte anos, não sabermos o nome de qualquer vizinho depois de um ano morando no mesmo lugar.
Costumamos brincar nos chamando de ciganos, pois já moramos em oito endereços diferentes nos últimos dezessete anos. Em todos esses lugares, fizemos ao menos uma amizade. Mas não aqui, até agora. É pena pois gostamos muito desse lugar. Talvez seja mesmo o local de que mais gostamos. Contudo, nos ressentimos da falta de amizade entre os vizinhos. Não há descortesia, é claro, mas tampouco qualquer contato.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Eu acredito na homeopatia e meu tio, o saci pererê, também


É um absurdo as pessoas não acreditarem na homeopatia. Minha família a usa há cerca de duzentos e cinquenta anos e sempre funcionou. Meu pai, que é lobisomen, sofria de intensa azia quando sugava muito sangue. Após tratamento com homeopatia, pôde desfrutar de vários pescoços por noite sem qualquer problema.
Eu mesmo tinha uma mula sem cabeça que foi acometida de uma artrite na pata dianteira esquerda. Como, por motivos óbvios, ela não podia receber o tratamento via oral, injetamos nela uma solução homeopática intravenosa e rapidamente ela voltou a cavalgar, majestosa. Bem, talvez tenha passado a soltar um pouco menos de fogo pelas ventas (eu nunca entendi como é que mula sem cabeça podia ter ventas, mas o fato é que tinha).

Machado, Rubião e Sofia


Estive relendo Machado de Assis num desses dias chuvosos.
Há quem reclame de dias chuvosos. Não eu. Acho dias chuvosos indispensáveis. Ás vezes nossas agendas estão repletas de compromissos sociais que não queremos cumprir mas temos que cumprir para não magoar alguém querido. Dias chuvosos são uma ótima desculpa para faltar a esses compromissos e ficar em casa lendo, assistindo um filme, refletindo ou simplesmente fazendo nada, nem pensando. Nossos espíritos se engrandecem depois de dias chuvosos.

De cronistas e fatos cotidianos


Existem cronistas que possuem o dom, ao contar um acontecimento banal, de fazer isso de uma maneira tão tocante que emociona mesmo os leitores mais "durões".
O bom cronista pega um acontecimento diário qualquer, corriqueiro, como uma ida ao supermercado, por exemplo, e o narra de uma tal forma doce, com tanta ternura e prenhe de encantamento, que, para o leitor, a história parece ser única, exclusiva, um momento que jamais se repetirá. Muitas vezes, porém, não é nada disso, tratando-se simplesmente de uma narrativa de fatos rotineiros, do tipo que acontecem com todos nós, quase todos os dias.

De amores inventados


Cazuza, vocês se lembram, cantou "adoro um amor inventado". Porém, peço perdão ao poeta, que tão precocemente nos deixou, para dele divergir.
O amor não se inventa, não, nunca.
Pode até mesmo nascer da carência de um coração despossuído, mas jamais se cria de um vazio da mente ou pelo vácuo de um sem-sentido de existir.
O verdadeiro amor não é planejado, ele simplesmente acontece. E não há "disciplina" que o contenha, que o regule.

Olhar




Olhe lá, bem ao longe,
Na curva horizontal onde se perde o mundo
Lá, bem onde costumamos buscar o nosso bem,
Que está sempre, no entanto, um passo além.

Olhe para trás, vire a cabeça,

Ana Carolina

Estava agora há pouco escutando a Ana Carolina e o Seu Jorge cantando "É isso aí" e lembrei-me de um artigo do Artur Xexéo publicado em uma revista de domingo do jornal O Globo, já bem antigo, em que ele criticava essa canção e também a própria Ana Carolina.
Entre outras coisas, dizia que a música tocava demais nas rádios, o que era enjoativo. Além disso, a letra da música era incompreensível (por exemplo, segundo ele, o que quer dizer "Um vendedor de flores ensinar seus filhos a escolher seus amores"? E o que significa "Eu não sei parar de te olhar"? A pessoa pode não conseguir parar de olhar, mas... não saber parar de olhar?).