Sobre
toda essa celeuma que atualmente envolve a geopolítica mundial,
relativamente aos supostos perigos advindos da experiência nuclear
do Irã, é sempre bom tomar conhecimento da opinião de pensadores
reconhecidos e que, em princípio, não possuem nenhum interesse além
da mera exposição das próprias reflexões.
Suas
reflexões sobre a questão Irã x Israel x EUA são importantes
também porque ele, americano de nascimento, possui ascendência
judaica e participou da esquerda sionista em sua juventude, embora
possuísse uma visão um pouco diferente de sionismo, sendo defensor
do que denomina de um "lar étnico" para os judeus na
Palestino, que não envolve necessariamente a criação de um país
judaico naquela região.
Especificamente
sobre a questão do Irã, sua posição é contrária à dos Estados
Unidos e de Israel. Aliás, ele manifesta expressa opinião de que os
Estados Unidos, sua pátria, é o principal estado terrorista do
mundo, e também de que Israel, o país de seu povo de origem, é
atualmente a maior ameaça para a paz e a segurança mundial.
Notem
o sarcasmo de Chomsky acerca da expressão "comunidade
internacional", cujo significado é oposto ao que deveria ser,
já que, na verdade, a imensa maioria dos países não se posiciona
favoravelmente à política americana quanto a essa questão. É mais
ou menos como a expressão "opinião pública" utilizada
pela imprensa brasileira quando quer, na realidade, afirmar a opinião
dos principais meios de imprensa, que não necessariamente é
idêntica à do povo.
Vejam
suas controvertidas opiniões nos dois artigos seguintes, ambos sobre
a questão do Irã.
Noam
Chomsky: “Israel é a ameaça mais importante para a segurança
mundial”
O
linguista e analista político norteamericano Noam Chomsky criticou
as alegações dos EUA sobre o programa energético de caráter
nuclear do Irã, ao mesmo tempo em que qualificou Israel como “a
ameaça mais importante para a segurança mundial”.
Num
artigo publicado na quarta-feira no jornal britânico The Guardian,
Chomsky enfatizou que a doutrina estratégica do Irã é defensiva e
foi projetada para dissuadir qualquer invasão contra sua integridade
territorial.
Neste
sentido, o famoso escritor colocou em relevo que apesar das
propagandas anti-iranianas lançadas pelos políticos ocidentais, os
resultados das pesquisas realizadas na Europa demonstram que os
pesquisados consideram Israel como uma ameaça para a paz no Oriente
Médio e o Norte da África.
“Antes
das massivas campanhas propagandísticas dos últimos anos nos EUA, a
maioria dos cidadãos [estadunidenses], como a maioria das nações
do mundo, acreditavam que o Irã, na qualidade de signatário do
Tratado de Não Proliferação (TNP), tem o direito de levar a cabo o
enriquecimento de urânio, e inclusive, hoje em dia, uma grande
maioria [da população global] enfatiza nas soluções pacíficas
para o programa nuclear do Irã”, sublinhou.
De
acordo com o politólogo norteamericano, Washington e Tel Aviv
estenderam uma onda de “Iranofobia”, pois temem a extensão da
influência do país persa na região, especialmente, em seus
vizinhos como Iraque e Afeganistão.
EUA,
Israel (possuidor de umas 200 ogivas nucleares) e alguns de seus
aliados acusam o Irã de tentar desenvolver tecnologia nuclear com
fins militares e utilizam este pretexto para impôr sanções
internacionais e unilaterais contra o país persa.
Por
sua parte, o Irã, na qualidade de Estado membro da AIEA e signatário
do TNP, além de recusar de forma rotunda tais acusações, defende
seu direito soberano de desenvolver tecnologia nuclear com fins
pacíficos.
do
blog Caminho Alternativo
(http://caminhoalternativo.wordpress.com/2012/02/22/noam-chomsky-israel-e-a-ameaca-mais-importante-para-a-seguranca-mundial/)
Noam
Chomsky Fala Sobre a Questão Nuclear no Irã
Em
entrevista à publicação alemã Freitag, Noam Chomsky fala da
pressão dos EUA e de Israel sobre o Irã e seu significado
geopolítico. "O Irã é percebido como uma ameaça porque não
obedeceu às ordens dos Estados Unidos. Militarmente essa ameaça é
irrelevante. Esse país não se comportou agressivamente fora de suas
fronteiras durante séculos. Israel invadiu o Líbano, com o
beneplácito e a ajuda dos EUA, até cinco vezes em trinta anos. O
Irã não fez nada parecido", afirma.
David
Goessmann/Fabian Scheidler – Freitag
Barak
Obama obteve em 2009 o Prêmio Nobel da Paz enquanto enviava mais
tropas ao Afeganistão. O que ocorreu com a “mudança” prometida?
Chomsky:
Sou dos poucos que não está desiludido com Obama porque não
depositei expectativas nele. Eu escrevi sobre as posições de Obama
e suas perspectivas de êxito antes do início de sua campanha
eleitoral. Vi sua página na internet e para mim estava claro que se
tratava de um democrata moderado ao estilo de Bill Clinton. Há,
claro, muita retórica sobre a esperança e a mudança. Mas isso é
como uma folha em branco, onde se pode escrever qualquer coisa.
Aqueles que se desesperaram com os últimos golpes da era Bush
buscaram esperanças. Mas não existe nenhuma base para expectativa
alguma uma vez que se analise corretamente a substância do discurso
de Obama.
Seu
governo tratou o Irã como uma ameaça em função de seu programa de
enriquecimento de urânio, enquanto países que possuem armas
nucleares como Índia, Paquistão e Israel não sofrem a mesma
pressão. Como avalia essa maneira de proceder?
Chomsky:
O Irã é percebido como uma ameaça porque não obedeceu às ordens
dos Estados Unidos. Militarmente essa ameaça é irrelevante. Esse
país não se comportou agressivamente fora de suas fronteiras
durante séculos. O único ato agressivo se deu nos anos 70 sob o
governo do Xá, quando, com apoio dos EUA, invadiu duas ilhas árabes.
Naturalmente ninguém quer que o Irã ou qualquer outro país
disponha de armas nucleares. Sabe-se que esse Estado é governado
hoje por um regime abominável. Mas apliquem-se os mesmos rótulos
aplicados ao Irã a sócios dos EUA como Arábia Saudita ou Egito e
só se poderá criticar o Irã em matéria de direitos humanos.
Israel invadiu o Líbano, com o beneplácito e a ajuda dos EUA, até
cinco vezes em trinta anos. O Irã não fez nada parecido.
Apesar
disso, o país é considerado como uma ameaça…
Chomsky:
Porque o Irã seguiu um caminho independente e não se subordina a
nenhuma ordem das autoridades internacionais. Comportou-se de modo
similar ao que fez o Chile nos anos setenta. Quando este país passou
a ser governador pelo socialista Salvador Allende foi desestabilizado
pelos EUA para produzir “estabilidade”. Não se tratava de
nenhuma contradição. Era preciso derrubar o governo de Allende –
a força “desestabilizadora” – para manter a “estabilidade”
e poder restaurar a autoridade dos EUA. O mesmo fenômeno ocorre
agora na região do Golfo. Teerã se opõe à autoridade dos EUA.
Como
avalia o objetivo da comunidade internacional ao impor graves sanções
a Teerã?
Chomsky:
A comunidade internacional: curiosa expressão. A maioria dos países
do mundo pertence ao bloco não alinhado e apoiam energicamente o
direito do Irã de enriquecer urânio para fins pacíficos. Têm
repetido com frequência e abertamente que não se consideram parte
da denominada “comunidade internacional”. Obviamente pertencem a
ela só aqueles países que seguem as ordens dos EUA. São os EUA e
Israel que ameaçam o Irã. E essa ameaça deve ser tomada
seriamente.
Por
que razões?
Chomsky:
Israel dispõe neste momento de centenas de armas atômicas e
sistemas de lançamento. Destes últimos, os mais perigosos provêm
da Alemanha. Este país fornece submarinos nucleares Dolphin, que são
praticamente invisíveis. Podem ser equipados com mísseis nucleares
e Israel está preparado para deslocar esses submarinos para o Golfo.
Graças à ditadura egípcia, os submarinos israelenses podem passar
pelo Canal de Suez. Não sei se isso foi noticiado na Alemanha, mas
há aproximadamente duas semanas a Marinha dos EUA informou que
construiu uma base para armas nucleares na ilha Diego Garcia, no
oceano Índico. Ali seriam estacionados os submarinos equipados com
mísseis nucleares, inclusive o chamado “destruidor de bunkers”.
Trata-se de projéteis que podem atravessar muros de cimento de
vários metros de espessura. Foram pensados exclusivamente para uma
intervenção no Irã. O destacado historiador militar israelense
Martin Levi van Creveld, um homem claramente conservador, escreveu em
2003, imediatamente após a invasão do Iraque, que “depois desta
invasão os iranianos ficaram loucos por ainda não terem
desenvolvido nenhuma arma atômica”. Em termos práticos: há
alguma outra maneira de impedir uma invasão? Por que os EUA ainda
não ocuparam a Coréia do Norte? Porque ali há um instrumento de
dissuasão. Repito: ninguém quer que o Irã tenha armas nucleares,
mas a probabilidade de que o Irã empregue armas nucleares é mínima.
Isso pode ser comprovado nas análises dos serviços secretos
estadunidenses. Se Teerã quisesse equipar-se com uma só ogiva
nuclear, provavelmente o país seria arrasado. Uma fatalidade deste
tipo não é do gosto dos clérigos islâmicos no governo: até agora
eles não mostraram nenhum impulso suicida.
O
que pode fazer a União Européia para dissipar a tensão desta
situação tão explosiva?
Chomsky:
Poderia reduzir o perigo de guerra. A União Européia poderia
exercer pressão sobre Índia, Paquistão e Israel, os mais
proeminentes não assinantes do Tratado de Não Proliferação
Nuclear, para que finalmente o assinem. Em outubro de 2009, quando se
protestou contra o programa atômico iraniano, a AIEA (Agência
Internacional de Energia Atômica) aprovou uma resolução, que
Israel desafiou, para que este país assinasse o Tratado de
Não-Proliferação de Armas Nucleares e permitisse o acesso de
inspetores internacionais aos seus sistemas nucleares. A Europa e os
EUA trataram de bloquear essa resolução. Obama fez Israel saber
imediatamente que não devia prestar nenhuma atenção a esta
resolução. É interessante o que acontece na Europa desde que a
Guerra Fria acabou. Quem acreditou na propaganda das décadas
anteriores devia esperar que a OTAN se dissolvesse em 1990. Afinal, a
organização foi criada para proteger a Europa das “hordas
russas”. Agora já não existem “hordas russas”, mas a
organização se expande e viola todas as promessas que fez a
Gorbachev, que foi suficientemente ingênuo para acreditar no que
disseram o presidente Bush e o chanceler Kohl, a saber: que a OTAN
não se deslocaria um centímetro na direção do leste europeu. Na
avaliação dos analistas internacionais, Gorbachev acreditou em tudo
o que eles disseram. Não foi muito sábio. Hoje a OTAN expandiu a
grandes territórios do Leste e segue sua estratégia de controlar o
sistema mundial de energia, os oleodutos, gasodutos e rotas de
comércio. Hoje é uma mostra do poder de intervenção dos EUA no
mundo. Por que a Europa aceita isso? Por que não se coloca de pé e
olha de frente para os EUA?
Ainda
que os EUA pretendam seguir sendo uma superpotência militar, a sua
economia praticamente desmoronou em 2008. Faltaram bilhões de
dólares para salvar Wall Street. Sem o dinheiro da China, os EUA
talvez tivessem entrada em bancarrota.
Chomsky:
Fala-se muito do dinheiro chinês e especula-se muito a partir deste
fato sobre um deslocamento do poder no mundo. A China poderia superar
os EUA? Considero essa pergunta uma expressão de extremismo
ideológico. Os Estados não são os únicos atores no cenário
mundial. Até certo ponto são importantes, mas não de modo
absoluto. Os atores, que dominam seus respectivos Estados, são
sobretudo econômicos: os bancos e as corporações. Se examinamos
quem controla o mundo e determina a política, vamos nos abster de
afirmar um deslocamento do poder mundial e da força de trabalho
mundial. A China é o exemplo extremo. Ali se dão interações entre
empresas transnacionais, instituições financeiras e o Estado na
medida em que isso serve a seus interesses. Esse é o único
deslocamento de poder, mas não proporciona nenhuma manchete.
do
blog Política Externa Brasileira
(http://www.politicaexterna.com/10000/noam-chomsky-fala-sobre-a-questo-nuclear-no-ir)
This article helps me a lot. Nice work!
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