sábado, 3 de novembro de 2012

Mensalão no botequim


- E aí, Carlão, como vai, irmão?
- Beleza, tudo bem. Parece que agora as coisas vão começar a dar certo no país.
- Como assim, mano? Porque você acha isso?
- Ô, cara, é por causa desse tal de mensalão. Começaram a botar os políticos na cadeia, mano véio. Agora acaba a sem-vergonhice.
- E você sabe sobre o que é esse tal de mensalão?

- Claro! É sobre político roubando lá em Brasília.
- Mas, você sabe que roubo é esse?
- Ah, sei lá. A gente sabe que esses caras vivem roubando. "Demorô" pra um ir parar na cadeia e dar o exemplo.
- Mas você acompanhou o julgamento? Sabe se havia prova pra condenar os caras?
- Putz, cara, deixa de ser ingênuo. E precisa de prova? Eles roubam mesmo, todo mundo sabe.
- Então qualquer político que tivesse ido a julgamento mereceria ser condenado?
- Claro! É tudo ladrão, irmão.
- Você já tinha escutado falar em José Dirceu ou José Genoíno?
- Pô, xará, esses são os piores. São os chefes da quadrilha.
- Quem te disse isso?
- Ô, cara, está em todos os jornais e deu no Jornal Nacional. Parece que saiu o esquema todo naquela revista, a Veja.
- E você tem ideia de como eles agiram ou o que eles roubaram?
- Cara, não faço ideia. Mas eles têm que ir pra cadeia mesmo. Tô te dizendo, mano, é tudo ladrão.
- O que você acha do PT?
- Esse é o partido dos ladrões.
- Por quê?
- Não foram do PT os caras do mensalão que foram condenados? Então.
- Então você não sabe exatamente o que eles fizeram, mas acha que foram condenados de forma justa?
- Claro, você acha que os juízes lá de Brasília iam condenar os caras sem prova?
- E seu te disser que eles foram condenados sem prova, com base numa tal de teoria do domínio do fato?
- Que bicho é esse?
- É mais ou menos assim: se você é o chefe de algum lugar, você sabe e é responsável pelos atos de seus subordinados.
- Tô achando que faz sentido. O cara é chefe, então tem a obrigação de saber tudo.
- Você já foi chefe de alguma coisa?
- Já. Fui chefe de seção de uma loja que trabalhei.
- Você acha possível que algum subordinado seu tenha feito algo errado sem que você pudesse saber?
- Pô, claro, mano. Neguinho tá sempre arrumando problema pelas costas dos outros.
- E como fica, então, esse tal de domínio do fato?
- É, complicado. Eu que não ia querer ser responsabilizado pelo erro que eu nem sabia.
- E quanto aos políticos do PT?
- Bom, esses aí mereciam mesmo ser condenados.
- Mas você não acabou de dizer que é errados ser responsabilizado pelo erro alheio?
- Eu sei, mas lá com eles é diferente. Deu na tv, no Jornal Nacional, em todos os jornais dizendo que eles roubaram. Você acha que esse monte de jornais iria todos mentir sobre a mesma coisa? Claro que não. Então, é porque tem verdade nisso aí. Os caras roubaram mesmo.
- Cara, funciona assim. A revista dá uma notícia falsa com manchete na capa, o Jornal Nacional repercute a manchete da revista e os outros jornais repercutem o que o Jornal Nacional noticiou. No final, todos estão falando sobre a mesma coisa.
- Pô, mas que coisa embaralhada. Sei não. Acho que a tv e os jornais são coisas sérias. Não iam ficar publicando mentira, não. Sei lá.
- É, infelizmente eles contam com essa credulidade. Sabem que podem manipular a opinião pública. Já deram até nome pra isso, é a tal da opinião publicada.
- Ei, não sou crédulo, nem ingênuo. Assim você me ofende. Sou inteligente e capaz de perceber quando alguém está tentando me manipular.
- Então, tá, amigo, não vamos brigar por causa disso. Você tem o direito de acreditar no que quiser. Proponho um brinde.
- Aí você falou a minha língua. Vamos lá. Tintim.

2 comentários :

  1. Marcio, uma texto simples que até alfabetizado entende, uma linguagem acessivel a qualquer cidadão.
    Precisa divulgar o teu blog na mídia alternativa.
    Parabéns.
    Fernando

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    1. Obrigado, Fernando. Conto com você pra divulgar o blog. Abraço.

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