O
jurista Ives Gandra Martins, de 78 anos, possui 56 anos de advocacia
e é professor emérito da Universidade Mackenzie, da Escola de
Comando e Estado-Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra. É
autor de dezenas de livros já publicados, inclusive em parceria com
alguns ministros do STF.
Com
um currículo desse, dele se pode afirmar tudo, menos que seja
petista. Pelo contrário, Ives Gandra situa-se, no espectro político,
em polo oposto ao do PT.
Em
longa entrevista concedida à Folha de São Paulo, de uma página
inteira e que, apesar disso, não mereceu qualquer destaque na capa
do periódico, ele sustenta que o processo do chamado "mensalão",
possui duas interpretações possíveis. Uma delas é positiva, pois
abre a expectativa de "um novo país" em que políticos
corruptos seriam punidos. A outra, todavia, é ruim e perigosa, pois
o STF teria abandonado o princípio fundamental de que a dúvida deve
sempre favorecer o réu.
Gandra
assevera ter lido todo o processo, cuja cópia lhe foi enviada por
José Dirceu. E não hesita em afirmar categoricamente e sem meias
palavras: o ex-ministro José Dirceu foi condenado sem provas e, para
que isso acontecesse, foi necessário que o STF adotasse, de forma
inédita, a teoria do domínio do fato.
O
jurista pontifica que a adoção dessa teoria, como realizada pelo
STF, constitui uma fonte de insegurança jurídica "monumental":
a partir de agora, uma pessoa completamente inocente pode ser
condenada com base apenas em presunções e indícios. Gandra
sustenta que a teoria não é aplicada na forma como compreendida
pelo STF nem mesmo em seu país de origem, a Alemanha,
Para
Ives Gandra, o motivo da existência do princípio penal "in
dubio pro reo", num regime democrático, é impedir a prática
de injustiças ante o enorme poder do Estado. Em acréscimo, relembra
que a Constituição assegura a ampla defesa, reforçando que o
adjetivo "ampla" é de uma densidade impressionante.
Segundo
ele, o processo penal não objetiva, fundamentalmente, a defesa da
sociedade, mas a defesa do acusado. Em outras palavras, o princípio
do "in dubio pro reo" e da ampla defesa visam evitar os
linchamentos e as injustiças praticadas contra inocentes, tanto pelo
Estado, como pela maioria da população em relação às minorias.
Não
há dúvida de que, ocasionalmente, sirva como instrumento de
impunidade em relação a culpados, mas esse é o preço a pagar se a sociedade humana pretende sinceramente que a civilidade vença a barbárie.
Eis
o link para a entrevista: Dirceu foi condenado sem provas, diz IvesGandra
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