A
lentidão da justiça, que é a origem da sensação geral de
injustiça e impunidade, não é um atributo exclusivo da justiça
brasileira, mas um problema no mundo inteiro, ainda que com variação
de grau.
Essa
lerdeza, com muita razão criticada, ocorre porque é quase
impossível equalizar a necessidade coletiva de justiça célere com
a necessidade individual de amplo direito de defesa, que é um
direito decorrente de imperativo ético-moral social, do qual não
pode renunciar uma sociedade dita civilizada.
Ao
contrário do pensamento comum, o tratamento diferenciado que os
ricos recebem da justiça não está substantivada na lei,
encontrando justificativa em normatividade não escrita e nem
assumida publicamente. Trata-se da pragmática comum de atribuir
deferência a quem detém riqueza ou poder de influência, como, de
resto, geralmente ocorre não somente na justiça, mas em todas as
demais instituições humanas, com raras exceções, sendo uma delas a... nesse momento não consigo recordar de nenhuma.
Ricos
pagam os melhores escritórios de advocacia, que possuem advogados
também ricos que são amigos dos juízes. Nessa condição, a
celeridade que recebem não é produto de petições
institucionalmente protocoladas, mas de encontros e celebrações
somente possíveis nos bastidores, como ocorre costumeiramente com
advogados que conseguem acessar ministros de tribunais superiores,
como o próprio Supremo, mesmo quando gozando férias longe das
próprias residências. Obviamente, trata-se de informação e acesso
privilegiados, o que é virtualmente impossível para advogados
comuns, pobres, que defendem a ralé.
Ricos
são capazes de conduzir seus processos até as últimas instâncias
porque possuem força econômica para isso. Num iter processual que
se estende no tempo e nesse caminho passa por diversos magistrados, um advogado
rico inevitavelmente encontrará ao menos um com alguma proximidade social, o
que significará, no mínimo, simpatia para analisar o pedido.
A
ralé, e seus advogados pobres, não possuem tanta sorte.
No
entanto, ainda que tudo isso seja verdade, o fato é que, numa visão
estritamente material das leis vigentes, qualquer pessoa possui os
mesmos direitos que os ricos. O que falta é a posse dos mesmos
recursos financeiros para garanti-los. Existe, pois, igualdade legal
e, com poucas exceções, o ordenamento jurídico-procedimental do
Brasil é considerado de boa qualidade.
A
verdadeira briga, portanto, deve ser direcionada contra um sistema
judiciário de natureza injusta e não contra a lei.
A
real indagação a ser solvida é: como impedir que a desigualdade
material se converta em desigualdade legal?
Aparentemente,
não existem respostas que não passem pela questão orçamentária
do judiciário. Justiça de qualidade, capilarizada, de fácil
acesso, custa caro, necessita de estrutura material e humana.
Ao
lado disso, o acesso pessoal ao magistrado precisa ser ritualizado,
positivado, de alguma forma. Se é possível ao advogado do rico ir
atrás do ministro do STF, seja em seu gabinete, seja no hotel em que
goza férias, esse direito deve ser estendido ao pobre, sem direito
de recusa e ainda que à custa do erário.
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