quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A limitação do ser humano

Não se iluda. Você é limitado, assim como são todos os seres humanos.
Nenhuma experiência sua será plena. Toda sensação será parcial. Nada lhe chegará por inteiro, tudo sempre por pedaços.
Por mais que viaje, conhecerá poucos lugares, porque o mundo é muito, mas muito maior que você. Ninguém conhece a França porque conheceu Paris, assim como não se conhece o Brasil pelo fato de que foi a Brasília.
Por mais pessoas que conheça, ainda serão poucas e jamais lhe será possível conhecer todas, pois mesmo conhecendo uma por segundo, séculos seriam necessários para ser apresentado a cada uma das bilhões que agora existem. E mesmo que vivesse para isso, de nada adiantaria pois a maioria já estaria morta então.
Por mais rico que seja, não terá todo o dinheiro do mundo. E se fosse possível, de nada valeria, pois o dinheiro só possui valor circulando entre as pessoas.
Ainda que passe a vida lendo, não alcançará ler mais do alguns milhares de títulos, já que o seu tempo de vida é muito inferior ao tempo necessário para ler as bilhões de páginas de livros existentes.
Por mais que goste de sexo e passe cada minuto a fazê-lo, jamais será capaz de possuir todas as mulheres do mundo, se for homem, ou todos os homens do mundo, se for mulher.
Por ser limitado, você não conseguirá ver todos os filmes, assistir todas as peças de teatro, ler todas as poesias, aspirar todos os aromas, experimentar todos os sabores, escalar todas as montanhas, singrar todos os mares, ouvir todas as músicas, passear em todos os jardins, acariciar todos os animais, emocionar-se com todas as coloridas borboletas.
Desiluda-se. A totalidade lhe escapará.
Porém, não se entristeça. A sua finitude e a sua incompletude é justamente o que torna cada experiência um milagre.
Por ser finito, cada flor encontrada no caminho é mágica, pois dentre bilhões de flores, foi ela que cruzou a sua vida. E é assim com cada sensação, cada interação.
Cada pessoa que você encontra em sua vida é como um sorteio ganho na loteria, pois, antes de você nascer, a chance de encontrá-la era extremamente pequena. Você poderia ter nascido em qualquer tempo e não no tempo dela. Em qualquer lugar, não no lugar dela. Mas o tempo e o lugar foram incrivelmente coincidentes. O milagre se torna ainda maior quando uma dessas raridades acaba por se tornar sua amiga. E se você vem considerar uma dessas pessoas amigas ainda mais especial que as outras e com ela faz sexo, a isso não chamamos sexo, mas fazer amor.
Muito tem a ver com quantidade, com geral. Amor é especial, está conectado à noção de raridade, de pouco.
A limitação do ser humano, portanto, não é uma deficiência, mas uma oportunidade. A oportunidade de poder aproveitar sabiamente essa experiência única, insubstituível, que é a vida.
A finitude da vida e das experiências é um privilégio. Um privilégio que nos concede a oportunidade de entender que o importante não é conhecer tudo ou experimentar tudo, mas atribuir imenso valor, o valor devido e merecido, a cada uma das coisas, lugares, paisagens e pessoas que, miraculosamente, surgem em nossas vidas.

Afinal, o valor que projetamos nas coisas fora de nós é puro reflexo dos valores contidos de nós.

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