terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

D. Canô e a necessária coragem

D. Canô, mãe do Caetano, sábia como jamais será o filho, disse, numa epifania, que "felicidade é coisa pra quem tem coragem".
Jorge Vercilo, encantado com a frase espontânea, dita num bate-papo descontraído, aproveitou a deixa e fez uma canção sobre o tema, não sem, honradamente, creditar a parceria com a velha senhora.
É isso mesmo. Sabe tudo a matriarca dos Veloso.
Ser feliz exige muita coragem. Coragem para assumir os próprios desejos e correr atrás dos sonhos possíveis (sim, pois desejar o impossível é passo firme e decidido em direção à infelicidade).
Coragem para assumir que felicidade e sucesso pouco ou nada tem a ver com capacidade aquisitiva ou acumulação de riqueza.
Coragem para enfrentar, de cabeça erguida, os possíveis insucessos que certamente ocorrerão pelo caminho.
Coragem para lidar com as frustrações.
Coragem para acreditar que o caminho a percorrer, e a maneira pela qual será percorrido, é muito mais importante que o próprio destino tão almejado.
O ser humano por vezes se sente desprovido dessa coragem. Acaba enredado nas teias pegajosas das expectativas alheias, esquecendo de si e dos próprios anseios.
Faz parte da natureza humana temer as incertezas e optar pelo caminho que parece mais seguro. Há algo de sábio nisso, sem dúvida, mas somente até onde essa segurança, que sempre é meramente física, violente o espírito naquilo que lhe é mais caro, que é justamente a vontade de felicidade.
Mil vezes um aventureiro pobre, porém feliz, do que a segurança proporcionada pelo ouro à custa de inesgotável melancolia.
Mil vezes a autenticidade de uma cabeleira verde e arrepiada, quem sabe num corte moicano, mas tudo desejado pelo dono da cabeleira, com a coragem de enfrentar o bullyng que virá, senão diretamente, em forma de ironias, sarcasmos e olhares atravessados, do que a caretice imposta e não querida de um chanelzinho cujo único objetivo é agradar pessoas que não pagam as suas contas e nem lhe fornecem um ombro na hora da aflição.
Enfim, felicidade é um produto que se compra com auto-conhecimento, com saber dizer não e com a ciência de que os insucessos são apenas parte da paisagem da estrada que se quis percorrer e foi percorrida.
Ao fim e ao cabo, tentar, ainda que não se consiga, quase sempre resultará em felicidade, ainda que pela satisfação de saber-se corajoso.

Abrir mão dos sonhos, dificilmente.

Nenhum comentário :

Postar um comentário