segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O que é essencial para o mundo e para o Brasil?


O que é essencial para o mundo e para o Brasil? Há uma certa unanimidade em torno da palavra mágica "crescimento econômico" como uma suposta panaceia para os problemas humanos. Poderiam até estar corretos, não fosse a perspectiva com que a palavra é entendida.

O problema é que, quando se fala em crescimento econômico, pensa-se no modelo do passado, do final do século XIX e início do século XX, que tão bem soube retratar Chaplin em “Tempos Modernos”. O mesmo modelo que atemorizou Marx, em seu formato não-sustentável, fundado em maior quantidade de indústrias, incremento do comércio, profusão da mineração, mais hidrelétricas e termoelétricas, enfim o tipo de crescimento que implica necessariamente em sujeira, poluição e destruição do meio-ambiente. Na verdade, trata-se do paradigma “cachorro perseguindo o próprio rabo”, onde a economia persegue e tantas vezes quer se antecipar ao crescimento demográfico.

Contudo, o momento exige outra dinâmica social: o decrescimento populacional e, via de consequência, econômico. O tempo é de formação de políticas voltadas para o estímulo à diminuição gradativa da população através de sério planejamento familiar.
A criação de um novo modelo de desenvolvimento cultural, baseado na estabilização da população mundial nos níveis da década de 1950, com cerca de dois bilhões e meio de pessoas, e com redução equivalente da economia, apresenta-se como imprescindível no debate político brasileiro e mundial. Agora, de preferência, pois depois poderá ser tarde demais.
Equivocam-se os que advogam a manutenção do crescimento econômico na forma atual. O PIB, como régua do desenvolvimento humano, nasceu anacrônico. A conversa de crescimento industrial e comercial como é travada atualmente deve necessariamente ser extinta em breve tempo ou os extintos seremos nós.
Os recursos naturais escasseiam e estamos no limite do que é possível para o crescimento populacional.
O quanto a Terra pode suportar de crescimento populacional e industrial? Não são poucos os cientistas sérios que defendem que já ultrapassamos a capacidade do planeta de nos fornecer sustentabilidade.
Se for assim, é o caso de se perguntar, no que se refere ao Brasil: o que é realmente essencial a ser feito, no que concerne às políticas públicas, em favor do Brasil?
A resposta certamente passará pelo planejamento familiar; pela educação totalmente pública, de alto nível, com aprendizado de línguas e com continuidade após a graduação normal; pela disseminação da ética ambiental e de consumo; pela pulverização da produção, privilegiando-se as pequenas e médias empresas e onerando-se as grandes; pela criação de empregos, ainda que se mantenha o mesmo número de empregadores, através da redução de horas de trabalho, do número de dias de trabalho, da redução da carga tributária através da incidência de alíquotas sobre o faturamento e não sobre a folha, redução dos juros, etc.; pela proibição total de qualquer novo desmatamento e redução das áreas já autorizadas; pelo uso mais racional na exploração das áreas já desmatadas; pelo investimento pesado em possibilidades de atividade econômica não-agressivas do meio-ambiente, como turismo, lazer e cultura; pelo investimento em fontes de energia alternativas, não poluidoras, que possibilitem a eliminação ou forte redução da atual matriz poluidora.
Esses são alguns itens importantes, mas apenas exemplificativos, existem outros.
Tratam-se, contudo, de importantes discussões que estão esquecidas no debate político, relegadas a segundo ou terceiro planos, não somente no seio da população, como também pelos comentaristas políticos dos meios de comunicação, que, no mais das vezes, rendem-se às necessidades mercadológicas ou às imposições do empresário proprietário do veículo em que comentam. Assim, perpetuam a política pela política, a política exercida através dos chavões repetitivos, do lugar-comum.
O interesse das empresas, entendidas como "economia", predomina sobre o interesse da sociedade. Por isso, não se se adentra o mérito daquilo que é, ou pelo menos deveria ser, o verdadeiro objeto da política: o bem estar das pessoas.
Imprescindível pôr fim à pretensão de neutralidade da mídia, como também ao uso distorcido da notícia como ferramenta de extorsão política, para que se passe a exigir da política e dos políticos a realização de seu papel de agente da transformação social.
Colunistas e comentaristas da mídia podem e devem adotar um ideal, uma bandeira, seja qual for, desde que seja honesta e socialmente útil, utilizando sua expressividade na comunicação social para defendê-la. Existindo honestidade intelectual e política, pouco importa a sua coloração política, de direita ou de esquerda, para aqueles que, como eu, entendem que essa dicotomia ainda é válida. O que realmente importa é o propósito público, a vontade de melhorar a vida das pessoas e o desinteresse pessoal. É importante destacar isso: a direita política não é representada pelo Tea Party americano ou pelo Bolsonaro ou pelo Lobão brasileiros. Isso é a distorção da direita, assim como a União Soviética produziu a distorção da esquerda. A direita política autêntica persegue a construção de uma boa sociedade, exatamente como a esquerda. Diferem na metodologia de busca da utopia.
Enfim, o princípio ético produz a convergência da direita e da esquerda para o mesmo fim, que é o respeito a res publica e a perseguição do bem comum. Esse é o verdadeiro papel dos interlocutores políticos e da mídia. Na verdade, esse é o verdadeiro papel de todo cidadão decente. Esse é o caminho para pôr fim à sujeira que domina o cenário político brasileiro.
O ser humano necessita de algo mais do que uma televisão de plasma ou LCD para a classe média ou roupas da Daslu para a classe rica.
Especificamente em relação ao Brasil, este é o país dos pobres, dos sertanejos, dos favelados, dos seringueiros, dos garimpeiros, dos boias-frias, dos meninos carvoeiros, do trabalho escravo em fazendas escondidas, dos imigrantes asiáticos e bolivianos ocultos e explorados nas fabriquetas das grandes cidades, das mulheres exportadas para fins sexuais, do turismo sexual em nosso Caribe nordestino, das prostituição infantil em cada sinal de trânsito, mesmo ponto onde também balançam os malabares dos meninos que esmolam um tostão de cada carro.
Este é o nosso Brasil, que arrota o sonho de uma massificação do ensino público, enquanto a realidade demonstra que os estudantes das escolas públicas concluem o 1º grau e, por vezes até mesmo o 2º grau, semi-analfabetos.
Este país, com ainda muitos miseráveis e muitos pobres, precisa que se dê prosseguimento e se fortaleça a política mais essencial de todas, a educacional, cuja excelência somente será alcançada a partir da valorização do profissional de ensino, o que significa salário compatível com a sua importância estratégica. O salário do professor tem de ser valioso para ser atrativo às pessoas de talento, que hoje escapam para outras atividades.
Há que deixar de lado esse vício no “crescimento econômico” e iniciar um pensamento de profundidade sobre o crescimento social e, consequentemente, individual, como catalisadores de uma novo tipo de sociedade, menos rica, mas mais segura porque mais justa e igualitária.
O mundo não precisa de mais indústrias ou mais comércio, mas de planejamento familiar e de distribuição de renda. Há muita gordura no mundo da riqueza, produto do processo metabólico do trabalho humano que possui, como dejeto necessário, a miséria. A obesidade da riqueza clama pela imposição de uma dieta (menos retorno do capital), de uma lipoaspiração (imposto sobre grandes fortunas) e de uma plástica (redução do direito de herança).
Os países escandinavos nem de longe são as maiores economias do mundo, mas são socialmente mais avançados do que as grandes. Nem suas indústrias, nem suas populações crescem sem parar, mas os empregos de seus cidadãos estão garantidos, o que demonstra que o crescimento industrial e comercial não é indispensável.
Embora a questão do crescimento populacional esteja bem equacionado no Brasil, com taxa de natalidade comparável à da Europa, ainda há crescimento. O ideal é a redução e, depois, estabilização. Problemas virão, é claro, como o do envelhecimento da população e, consequentemente, o da aposentadoria, mas são menores e mais facilmente administráveis em relação aos que ocorrerão no futuro se persistirmos na ilusão do crescimento sem fim e sem consequências.
Enfim, muitos e enormes são os problemas, poucas as soluções e não passíveis de resolução no curto espaço de um mandato. E cada vez mais as soluções regionais demonstram-se inadequadas. A globalização da economia, aparentemente, criou a necessidade da globalização das decisões.

Tomara os dirigentes do mundo sejam abençoados com sabedoria. A História, até o momento, não é animadora nesse sentido.

2 comentários :



  1. Publicado em 30/07/2014
    De fato, quanto mais miserável, mais feliz é o brasileiro

    =========
    94% dos favelados
    são felizes !
    http://www.conversaafiada.com.br/economia/2014/07/30/94-dos-favelados-sao-felizes/

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  2. Em tudo e por tudo, é preciso repensar nossa concepção de consumo. Entender a relação entre necessário x supérfluo, e o arranjo ótimo entre estes dois aspectos. Não é negar o acesso, é torná-lo racional e universal, sem conceder mas criando as condições para aquisição e critérios racionais para manutenção dos recursos e ganhos . Diante da escassez e do domínio, por poucos, dos meios, esta equação, esta acomodação para sustentabilidade e equanimidade é quase uma impossibilidade matemática. No horizonte, não vejo ainda as condições e circunstâncias objetivas para as mudanças necessárias. Os que podem mover as engrenagens para promover mudanças efetivas só o farão na medida de seu desconforto e conveniência. Mas acredito que se não for no amor, será na dor: ou aceitamos que é preciso mudar e nos movemos inteligentemente para equilibrar a ocupação e uso dos recursos que ainda temos ou seremos empurrados para soluções drásticas resultantes de nossa incúria, teimosia, extremo egoísmo e "pegada predatória". A ver.

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