Num
texto publicado em grande blog da internet, uma pessoa, em tom
indignado, narra a história de uma mulher que, aguardando
atendimento num consultório médico, folheava uma revista quando, ao
ver um vestido muito bonito, resolveu rasgar a página da revista a
fim de guardar o modelo do vestido. Os comentários arrasavam a moça.
Parece
que estamos muito exigentes com o comportamento alheio.
A
pessoa rasga uma página de uma revista bolorenta de consultório e
isso é o mote para falarmos sobre ética, moral, educação de
crianças, as mazelas dos políticos, sobre e sobre e sobre...
Caramba.
E
pensar que às vezes tenho vontade de jogar fora, sem pedir licença,
todas as revistas suadas que encontro pelos consultórios à fora...
Sou um monstro e nem imaginava.
É
meio preocupante o direcionamento que estamos dando ao tipo de
sociedade que desejamos. Há uma onda de intolerância
assustadoramente crescendo no mar dos temores sociais. Essa onda
poderá nos afogar.
O
país considerado como guardião das liberdades individuais (pelo
menos era) agora usa raio x que desnuda as pessoas, monitora ligações
telefônicas, manda matar os inimigos, utiliza prisões fora de seu
território para não se submeter à própria justiça.
O
politicamente correto torna praticamente tudo incorreto. Juízes
censuram filmes, novelas não podem falar utilizar enfermeiras
sensuais (a justiça proibiu, a pedido do conselho profissional),
humoristas são despedidos por suas piadas.
O
problema de começar a censurar os outros é que certamente um dia
seremos censurados... e por nada.
Robespierre,
no cadafalso, deve ter se arrependido de começar a nova moda de
guilhotinar os inimigos. A moda alcançou ele.
Proponho
uma nova onda: a onda da tolerância. O cara falou besteira? Deixemos
pra lá. Todos falamos besteira um dia. A besteira é grande demais?
Vamos derrubá-lo no argumento racional. Publicou uma biografia
não-autorizada? Publique-se uma autorizada. A biografia contém
alguma injúria? Peça-se indenização e divulgação da sentença.
Alguém fez uma pequena besteira, como rasgar a página de uma
revista velha e amarrotada? E daí?
Vamos
lutar as boas batalhas e deixemos as ninharias de lado.
A
tolerância é das maiores virtudes e vem sendo esquecida, perdida em
meio aos nossos tantos temores injustificados. Tememos nossas sombras
e, por conta disso, vamos paulatinamente deixando o Estado, esse
insaciável, tolher nossas liberdades em nome de uma suposta
segurança.
Estamos
aceitando que o discurso da super-ética alcance o tom de uma piada.
Como aquela velha piada, conhece?, a da moça condenada por rasgar
uma página velha de revista de consultório.
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