terça-feira, 15 de março de 2011

Bon Jovi e o receio das novidades tecnológicas



Tempos atrás, li uma reportagem segundo a qual o cantor Bon Jovi acusava o chefão da Apple, Steve Jobs, já falecido, de matar a indústria da música com a eliminação das mídias físicas e a possibilidade de baixa de músicas diretamente do "aitunes" para "aipods" e "aipédis". Segundo o cantor, “as crianças de hoje perderam a experiência de colocar os fones de ouvido, aumentar o volume ao máximo, segurar a capa do CD, fechar os olhos e se perder em um álbum; e a beleza de pegar a mesada e tomar uma decisão baseada na capa, sem saber como o álbum vai soar, e olhar para um monte de imagens paradas e imaginar”.
Nem de longe fui ou sou fã de Steve Jobs, nem o tenho na conta de um ícone do desenvolvimento humano, como tentam vender sua imagem, porém, creio que Bon Jovi exagerou um pouco. Pelo mesmo raciocínio, se poderia dizer que foi a invenção do fonógrafo a verdadeira assassina da música foi, pois acabou com a experiência divina de ouvir uma sinfonia diretamente da orquestra regida pelo maestro, com a possibilidade de, fechando os olhos, imaginar-se no cenário emocionante de uma Cavalgada das Valquírias.
Aliás, outras invenções sufocaram o romantismo do ser humano, como o cinema e suas salas climatizadas, som de alta definição e, pasmem, visão tridimensional. O cinema, esse vilão responsável pela diminuição do apelo teatral. E, por falar em teatro, como devia ser agradável selar um a cavalo e nele marchar até a sede da vila para assistir a uma bela peça divinamente encenada, sensação que foi extinta com essa novidade do automóvel que, além de tudo, é mais poluente do que o cocô do cavalo.
E como seria a aventura de uma viagem de uma semana do Rio até São Paulo no lombo de uma mula? Isso acabou depois que criaram a ponte-aérea e passamos a chegar lá em uma hora. Rapidez no lugar da emoção.
Sem contar a perda das grandes experiências vívidas (mórbidas?) das guerras medievais, com cabeças sendo arrancadas à golpes de maça. Jamais voltaremos a tê-las, pois agora existem as guerras digitais, com mísseis teleguiados disparados a milhares de quilômetros. O “piloto” vai ao quartel, bate o ponto, lança umas bombas do outro lado do mundo e ainda volta para casa a tempo de jantar com a família.
Pensando bem, talvez o Bon Jovi não tenha saudades desses tempos, onde a arte, na verdade, costumava ser um hobby de muitos e profissão de raros, porque viver da arte, lucrar com ela, era considerado desonroso, vivendo os artistas geralmente pela benção de ricos patronos.
O próprio Bon Jovi é uma novidade num cenário de músicos pop que aprenderam a ganhar rios de dinheiro e não vêem com bons olhos a possibilidade de diminuição dessa margem e, argh, a necessidade de voltar a viver de apresentações reais, ao vivo, tocando e cantando diretamente para o público que, antes, baixou suas músicas na internet e gostou, tanto que está disposto a pagar o preço de um ingresso nunca barato.
O gênio Chaplin denunciava os males dos tempos modernos do seu tempo, que agora são tempos antigos.

Na verdade, cada tempo tem os seus encantos e correspondentes desencantos. O pesadelo do presente sempre se converte em saudosismo ao se tornar passado.
A fuga possível? Está no futuro.

Nenhum comentário :

Postar um comentário