quinta-feira, 28 de julho de 2011

Pornografia e prostituição: certo ou errado?

O autor de um texto que li posiciona-se contra a pornografia e a prostituição. Segundo ele, tanto uma, como outra, são componentes de uma indústria do sexo que "coisifica o corpo da mulher".
Não pretendo fazer apologia da coisificação do ser humano, em qualquer de seus aspectos, mas entendi que a crítica se estendia para além disso, para qualquer tipo de prostituição ou qualquer tipo de pornografia. Desse transbordamento, discordo.
Isso porque a prostituição sempre existiu e, pelo visto, sempre existirá, ainda que seja exterminada a tal "indústria do sexo". Isso porque sempre existirão pessoas que, sem outra alternativa, exercerão a prostituição como fonte de subsistência. E, num ambiente utópico desprovido de miséria e pobreza, sempre existirão os que pratiquem a prostituição simplesmente por gostar da atividade (e por que não?).
Quanto à pornografia, entendida como a iconografia do sexo, tampouco deixará de existir, inclusive porque parcela dela é importante componente da arte.
A maioria das prostitutas presta seus valorosos serviços às classes pobre e média. Nem poderia ser diferente ou elas morreriam de fome, já que o percentual de ricos em relação à população total é, de fato, quase insignificante. Na Índia, por exemplo, as prostitutas, em geral paupérrimas, trabalham por um ou dois dólares por sessão de sexo. Duvido que seus clientes sejam banqueiros.
Estudos indicam que parcela substancial de pessoas que se prostituem gostam da profissão e não a largariam nem mesmo se tivessem alguma opção para ganhar a mesma coisa.
Há um quê de arrogância na análise que se faz dos outros a partir dos próprios valores. E daí se alguém quer se prostituir? Desde que seja uma decisão livre, sem coação, o problema é de quem escolhe. Pode-se alegar que essa é uma liberdade falsa, premida pelas necessidades da vida. A questão é que necessidades da vida são parte importante da própria vida e constituem um importante elemento de sopesamento de nossas decisões como todos os demais.
Não se pode imaginar que a liberdade verdadeira estaria no ato de se abster da prostituição e morrer de fome. Muito estóico mas pouco prático.
Em relação à coisificação do corpo da mulher, constitui um fato humano e imorredouro. Desde as pinturas rupestres que o ser humano (em geral do gênero masculino) gosta de imortalizar o corpo da mulher, cada um segundo a sua época. Essa pictografia acaba por destacar a conformação plástica tida por ideal naquele momento histórico, pressionando os demais elementos da sociedade a nele se enquadrar.
Hoje as mulheres querem ser magras, ontem já pretenderam possuir as formas da supergordinha Vênus de Willendorf ou das "cheinhas" das telas de Boticelli. Hoje gostamos de ser cheirosos, mas Bonaparte, a uma semana de Paris, já enviou carta à Josefina suplicando-lhe que não tomasse banho. Hoje as mulheres sofrem nas cirurgias plásticas, ontem desmaiavam na pressão dos corpetes.
Enfim, essa "coisificação", e não se está aqui justificando, não é moderna. O ideal não é a supressão dessas idiossincrasias civilizatórias. O ideal é que a sociedade humana possibilite, a cada indivíduo, as condições necessárias para que possa livremente escolher o que deseja ou não fazer de sua vida. Se optar pela prostituição, a ninguém é dado o direito de crítica ou, pior, de restrição.

Seja pela ausência das carências financeiras que para elas o empurram, seja pela existência de uma sólida formação educativo-cultural que o torne capaz de criticamente avaliar se determinado comportamento ou esterótipo, imposto pela mídia, deve ou não ser reproduzido.

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