domingo, 20 de outubro de 2013

Black blocks

















É difícil debater assuntos tão complexos como sobre os agora notórios black blocks em poucas palavras.
Os seres humanos alcançaram um tal grau de desenvolvimento do pensamento e da civilização que certos modelos de organização social há muito deveriam ter sido abandonados. Não mais é possível conviver com um sistema que permite a um pequeno grupo de pessoas acumular bilhões em dólares enquanto, simultaneamente, existe uma outra quantidade medida em bilhões, o de gente miserável passando fome ou à beira de.
Doze milhões e quinhentas mil pessoas morrem todos os anos de fome. São trinta e cinco mil por dia. Isso é produto direto do tipo de sistema econômico defendido por grande parte da população, inclusive pelos pobres. A presa (o povo) acostumou-se a defender o predador (os donos do poder). Nos últimos vinte anos, o capitalismo matou de fome mais pessoas do que todas as guerras do século XX somadas.

Os miseráveis se veem num beco sem saída. Nascem miseráveis e, por isso, são excluídos do sistema desde o berço, como se fossem párias indianos. A miséria de origem os exclui do sistema de saúde, de educação e torna praticamente impossível o empreendedorismo.
A miséria é uma algema de aço que mantém os miseráveis em seu lugar, o gueto. A algema de aço é produzida numa fábrica de ouro de propriedade das corporações e recebe a chancela do Estado, seu preposto.
O fato episódico de um ou outro miserável conseguir escapar desse determinismo histórico em nada mitiga a perversidade do sistema, tratando-se apenas de exceções que confirmam a regra. É por isso que todos elogiam tanto um favelado que chegou ao Supremo ou que se tornou dono de uma rede de televisão. Aos olhos das pessoas, isso é quase um milagre. E é mesmo, mas é também uma boa propaganda para o sistema, mais um elo na corrente que aprisiona.
É preciso encarar a realidade de frente e a realidade não está nas casas de classe média ou nas mansões dos ricos e famosos. A realidade não possui glamour. A realidade é cruel. A realidade é a fome da África. A realidade são os ossos aparecendo nos peitos dos famintos. A realidade são os bebes esquálidos sugando peitos de pura pele.
Se o ser humano é, de fato, um ser inteligente, racional e civilizado, se a cultura, a educação e o altruísmo não são palavras vazias utilizadas somente para enfeitar discursos hipócritas em salões regados a champanhe, é necessário que ações firmes sejam adotadas para adaptar o capitalismo a essa nova verdade que emana do estágio de desenvolvimento que a humanidade atingiu.
O capitalismo precisa de arranjos. Urgentemente. E não serão os donos do poder que irão fazê-lo. Nunca foi assim na História e jamais será. Quem tem quer manter.
Quem muda o mundo e põe fim às opressões é o povo.
Tendo tudo isso em mente, indaga-se em relação ao movimento dos black blocks: o sistema capitalismo está autorizado a matar milhões de fome todos os dias, mas o indivíduo não possui o direito de se rebelar contra isso? É legítimo e merece acato um ordenamento social que determina a manutenção do status quo opressivo e estimulador da miséria? Onde começa o direito à propriedade e termina o direito de revolução? O Estado possui o direito de quebrar a cabeça de alguém com um cassetete, cegá-lo com gás de pimenta ou mesmo matá-lo, porque esse alguém quebrou a vitrine de um banco? Estamos vivendo uma sociedade onde a propriedade do milionário é sagrada e a vida ou a integridade física dos pobres não?
São perguntas retóricas, para reflexão, que não exigem respostas.
A solução para a equalização do sistema deve ser pensada a partir de qualquer ação que preserve a dignidade da pessoa humana, maior de todos os valores.
Pode-se imaginar um sistema econômico futuro onde as metas não sejam de crescimento, mas de decrescimento, com igual decrescimento da população através de intensos programas de natalidade. Um futuro mais digno, com menos pessoas, menos agressões, menos pressões sobre o meio-ambiente e menos ou nenhum milionário. Algo como um modelo de social-democracia avançada ao máximo.
Seria possível alcançar essa meta sem romper com alguns paradigmas e sem quebrar algumas vidraças?
Será que os blocks, hoje considerados vândalos, serão um dia lembrados como os heróis da resistência dos tempos atuais?

Um comentário :

  1. Sobre os Black Blocks eu fiz uma análise. Se puderem vejam:


    http://www.orbenon.blogspot.com.br/2013/10/normal-0-21-false-false-false-pt-br-x.html

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