quarta-feira, 9 de julho de 2014

Bolsa-família e Copa do Mundo: má-fé e ignorância.




Mal o árbitro apitou o fim do jogo em que a seleção brasileira foi destroçada pela seleção alemã, já se iniciaram as vinculações descabidas entre futebol e política.
Numa dessas críticas, os alemães são elogiados e o governo brasileiro é atacado por, supostamente, manter os brasileiros pobres sem ânimo para o trabalho, dando-lhes o peixe ao invés de ensiná-los a pescar.

Non sense total. A questão deveria ser restrita ao futebol, com comparações entre a preparação da seleção alemã e a da seleção brasileira. O governo brasileiro não possui qualquer ingerência na indicação da comissão técnica, na escalação dos jogadores e em seu treinamento. Tanto a Fifa, como a CBF, são entidades privadas que visam o lucro.
A crítica oportunista e descabida, que deseja falar mal da laranja atacando a banana, objetiva obviamente denegrir o programa bolsa-família.
Parafraseando o técnico Felipão, existem dois tipos de críticos do bolsa-família: o ignorante e o mal-intencionado.
O mal-intencionado não acredita no que fala. Pelo contrário, reconhece a importância do programa assistencial e sabe que ele será mantido pelos próximos governantes, seja de que partido for, o que anula o seu efeito "voto de cabresto". Pretende, com sua crítica, apenas propagar a ideia de um governo ruim em benefício de seu candidato. Em geral são adeptos do neoliberalismo, como por exemplo os simpatizantes do PSDB.
É inútil tentar convencer os mal-intencionados, uma vez que má-fé não tem remédio que venha de fora, só de dentro. Há que consertar a alma, não a inteligência.
Tampouco merece atenção um tipo especial de ignorante: o que é movido por sentimentos egoístas e pequenos. Esse não se importa em ter ciência de que o miserável, a partir da modesta renda obtida com o bolsa-família, poderia se ver capacitado a dispensar de catar em lixeiras ou lixões o alimento necessário à sobrevivência. É pessoa que entende que dignidade é para quem pode, não para quem quer. Esse tampouco possui salvação.
Quanto ao ignorante ingênuo, ou seja, aquele que não conhece, não comeu , mas não gostou,para esses há salvação. A ignorância é um vício pontual, capaz de se desfazer rapidamente com o conhecimento adequado sobre cada ponto até então desconhecido.
Desconhecer a finalidade do instituto não é um grande problema. A questão é que uma grande parcela dos ignorantes não se esforça para visualizar a totalidade do programa, ou seja, os interesses e os objetivos que estão em jogo. Além disso, não se sente inclinada a realizar pesquisas sobre o assunto, compará-lo com outras iniciativas do gênero.
A ignorância já se revela pelo entendimento de que o bolsa-família seja algo como uma "jabuticaba" brasileira, coisa que somente existe aqui, no Brasil.
Programas de transferência de renda existem na quase totalidade dos países europeus. Nossa classe média deslumbrada, na condição de turistas vira-latas, costuma admirar os europeus. Não enxergam que a classe média europeia não possui o hábito de criticar o estado de bem estar social. Claro que não, eles não são idiotas. Somente idiotas esbravejam contra direitos vinculados ao espírito de generosidade humana. Idiotas que não dependem dessa generosidade, frise-se, e que não entendem a dinâmica do funcionamento da sociedade. Adoram a sociedade europeia pouco violenta e não vinculam essa ausência de violência à ausência de pobreza extrema ou menor intensidade na desigualdade social.
Interessante destacar que não há país europeu que dê tão pouco aos necessitados como é o valor do bolsa-família, que paga, por beneficiário (que é a criança), R$ 77,00 por mês, cerca de U$ 33 dólares.
Já que falamos na Alemanha, tomemo-la como exemplo. Lá, uma pessoa desempregada possui direito a receber cerca de 350 euros por mês, o que corresponde a quase mil reais, ou seja, a treze bolsas-família. O beneficiário não necessita comprovar, como aqui, que o filho está na escola. Se for um casal, o cônjuge também recebe o auxílio, com mais 80% do valor recebido pelo outro, o que eleva a quantia para algo em torno de 660 euros mensais, alcançando um valor correspondente a quase 23 bolsas-família por mês.
Não bastasse isso, o cidadão alemão necessitado ainda possui direito a um auxílio-moradia para alugar residências de 45 a 60 metros quadrados, acrescendo-se a essa metragem um quarto por cada filho.
E mais: o Estado ainda paga um plano básico de saúde para todo alemão que não puder custeá-lo, no valor de 150 euros mensais.
No inverno, a Alemanha fornece ao seu cidadão o auxílio-calefação. Em resumo, um casal alemão necessitado recebe mensalmente do governo aproximadamente 1.400 euros, além de benefícios para os filhos que vão de 210 a 500 euros por mês, sendo possível que o casal com dois filhos receba até 2.400 euros mensais.
A comparação com o bolsa-família é simplesmente ridícula.
Vai ver é por isso que a seleção alemã venceu tão facilmente a seleção brasileira. Trata-se de um selecionado oriundo de um país onde o cidadão se sente protegido socialmente pelo seu governo.

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